Uma vida sobre telas
Diário da Manhã
Publicado em 4 de março de 2017 às 03:09 | Atualizado há 2 semanasRepleto de técnicas desenvolvidas com o olhar analítico e crítico de artista, José Amaury Menezes, nasceu no interior de Estado, em Luziânia, no dia 26 de julho de 1930. Durante sua carreira, o pintor e desenhista amplificou a visibilidade da arte goiana, rompendo barreiras e limitações. Amaury se mudou para Goiânia no início dos anos 30. Com o apoio e incentivo do seu pai, ganhou uma caixa de lápis de cor e um bloco de papel. O artista conta que seu pai ficou admirado quando viu que o seu filho tinha desenhado um carro no chão com pedras.
Nada como ser um artista recheado de qualidades sendo aluno de outras figuras que tiveram os seus reconhecimentos. Os professores a quem me refiro são Frei Nazareno Confaloni e D. J. Oliveira e Ritter que estudaram com Amaury Menezes na Escola de Belas Artes da Universidade Católica de Goiás. Com o passar dos anos e o aprimoramento de suas especialidades, o artista passa a ganhar notoriedade em São Paulo, quando participa de uma exposição com 10 artistas de Goiás, em 1966, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – Masp.
Já formado, entre 1963 e 1986, Menezes torna-se professor de desenho e plástica na Escola Goiana de Belas Artes e no Departamento e Artes e Arquitetura da Universidade Católica de Goiás. Entre 1968 e 1971, o seu cargo passa de professor para primeiro diretor do curso de Arquitetura da Universidade Católica de Goiás – UCG (atual PUC). A partir da década de 1970, Amaury sente a necessidade de se dedicar exclusivamente à aquarela, técnica em que mais se destaca. O artista não se limita somente a tal técnica, apesar de manusear esse dom com uma sutileza infinita.
Algumas técnicas como a pintura em acrílico trazem uma percepção nítida das pinceladas, semelhantes às características da aquarela. Como um bom profissional, Amaury desenvolve suas obras de maneira eclética, utilizando óleo sobre tela, crayon, pastel sobre papel e bico-de-pena. Todas essas possibilidades foram amplamente exploradas nesses cinquenta e oito anos de carreira. Na sala 209 no prédio Empire Center, localizado no setor Oeste, encontra-se um senhor de cabeça branca com óculos redondos, modernos e estilosos, bermuda e camisa de botões.
Com muita simpatia e sorriso no rosto, Amaury Menezes abre as portas do seu universo particular para falar sobre sua vida, suas obras e experiências vivenciadas. Pelas roupas leves e o panamá na cabeça que ele veste, não há dúvidas de que o artista se sente em casa naquela sala amontoada de livros, quadros e prêmios que recebeu durante toda a carreira. Ao ser questionado sobre ter alguma inspiração específica na figura de sua esposa para desenvolver suas telas e quadros, Amaury responde que ela faz parte sim da inspiração, não só de maneira artística, mas como companheira e apoiadora dos seus projetos.
Visões do cotidiano
O que leva a imaginação desse artista a conquistar admiradores do mundo inteiro é sua observação minuciosa do cotidiano das pessoas. Tudo é inspiração: um passeio ao parque ou mesmo a vista da janela de seu ateliê, que permite um amplo olhar sobre a arquitetura e a vida urbana. A sensibilidade está nos detalhes que as pessoas deixam passar despercebidos ou que não tem valor, a princípio, mas que soam como uma poesia quando colocadas em suas telas. Durante a visita, Amaury expressa bastante afinco em cada trabalho que realiza. Tal esforço se caracteriza pela enorme rigidez que tem consigo mesmo.
Detalhes
O artista, conhecido como detalhista e perfeccionista, fala sobre a elaboração do seu espaço de trabalho, o ateliê: “Eu queria ter um espaço em que pudesse desenvolver e trabalhar como qualquer outra pessoa comum. E na minha casa não tinha muitas ideias, inspirações… Queria um lugar para trabalhar as minhas obras. E é um trabalho como outro qualquer, tenho horário para chegar e horário para sair, mesmo que algumas vezes minha mulher ligue aqui no ateliê brava por já ser tarde e eu ainda não fui embora”, disse Amaury, esboçando um leve sorriso de satisfação.
Amaury narra ainda sua participação em movimentos intelectuais. Atuou na execução da Exposição do Congresso Nacional dos Intelectuais de 1954 que reuniu artistas nacionais e internacionais, incluindo o saudoso poeta chileno Pablo Neruda. Nas lentes da retrospectiva da vida do artista, ele recorda da experiência de ser um dos fundadores do Museu de Arte de Goiânia – MAG. Nele, Amaury tem uma sala que leva o seu nome. Com o seu trabalho exposto na França, recebeu o Prix Lucien Martial, concedido pela Societé Internacionale da Beaux Arts.
Ao final da entrevista, Amaury Menezes mostra delicadamente o seu livro de registros no qual estão inseridas todas as informações das suas obras vendidas, todas datadas com detalhes minuciosos de dia e ano, nome da obra e para quem foi vendido.
Uma organização sistemática que carrega inúmeros trabalhos espalhados por todo país e até no exterior. Para descontrair, Amaury tira fotos com todos que estavam na visita e no final encerra sendo doce e cavalheiro presenteando com seu livro de recordações, o impresso.
O original e mais completo está guardado a sete chaves e foi dado aos seus amigos próximos que foram homenageados no livro que contém poesias e breves contos acompanhados de ilustrações feitas em aquarela, dedicadas a cada amigo ou momento que marcou sua vida. Dedicação aos amigos, declaração de amizade verdade que rompe as barreiras da morte, desastres naturais como o da igreja de Pirenópolis, ilustrada após ser incendiada, uma forma de homenagem e de resgate cultural. Encerra-se a visita com um ato humilde dele autografando a parte de dentro do seu livro, na capa: “De seu amigo Amaury Menezes, para Caroline.”
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