Cultura

Vale a pena comprar vinhos caros

Diário da Manhã

Publicado em 23 de março de 2017 às 02:34 | Atualizado há 1 semana

Como alguém que não tem a menor intenção de virar um entendedor de vinhos pode saber se vale pagar alguns reais a mais por um vinho? É essa pergunta que a coluna Prazeres da Mesa quer responder. Um estudo feito na Escócia colocou cerca de 600 voluntários para participarem de uma degustação a cega. Eles tinham que provar uma sequência de dois vinhos do mesmo tipo, mas de preços diferentes e indicar o mais caro. Os preços variavam entre cerca de 5 euros para os mais baratos, até 100 euros para os mais caros. Então, mesmo com 50% de chance de acertar, a maioria errou!

A pesquisa concluiu que muita gente não consegue distinguir a qualidade dos vinhos pelo paladar e que comprar rótulos badalados algumas vezes se traduz em jogar dinheiro fora. Algumas pessoas não sabem reconhecer a qualidade, mas sim, porque, como sempre digo por aqui, vinho de qualidade nem sempre corresponde ao de maior preço.

Muitas revistas especializadas, como a Wine Spectator, fazem avaliações de vinhos às cegas. Numa avaliação “às cegas”, os especialistas não podem saber qual vinho estão provando, porém sabem qual a sua safra e região, de modo a ter informações que ajudem na avaliação, mas que não a enviassem pelo poder de uma marca. Ou seja, de um vinho produzido na região de Mendoza, na Argentina, com a uva Malbec, serão esperadas certas características. Mas o especialista não saberá se está provando um Crios da Susana Balbo (que custa R$45,00) ou um Angelica Zapata (R$300,00).

Existe uma forte correlação entre o preço dos vinhos e a pontuação que eles recebem às cegas. Em geral, toda vez que o preço do vinho dobra, sua nota sobe quase 3 pontos. Isso significa que, em média, para você sair de um vinho “excepcional” (90 pontos) e chegar em um “clássico” (95 pontos), você vai precisar pagar quatro vezes mais caro.

Isso soa muito caro, mas nem tudo está perdido. Não é necessário muito dinheiro para beber algo que presta. Para ficarmos em algo disponível no mercado brasileiro, um Trapiche Broquel Malbec 2011 está disponível por US$13,00. Esse vinho marca 90 pontos na nossa publicação de referência – ou seja, cai na categoria de vinhos “excepcionais”. E vinhos de 90 pontos são bons? Geralmente não deixam ninguém triste.

Nem tanto ao mar nem tanto a terra. As faixas de preço de vinho no Brasil são determinantes. de 30 a 40 reais, pouca coisa vale a pena. De 40 a 80 reais garimpando se encontram vários bons vinhos, inclusive do velho mundo. De 80 a 130 reais a faixa mais perigosa. Já bebi muito vinho de 80 ou mais reais que era puro over price. A faixa de 80 a 150 estabiliza de novo e a faixa de 150 em diante penso que devemos garimpar novamente para não errar e errar feio. A frustração é diretamente proporcional ao preço do vinho que pagamos.

Em termos gerais, quando você quiser escolher aquele vinho para presentear alguém ou aproveitar uma noite com seu namorado(a), lembre-se que os primeiros adicionais reais investidos valem muito à pena. E, mais importante, aproveite e deguste o momento. Como dizia Roger Scruton, “o vinho, bebido na ocasião certa, no lugar certo e na companhia certa, é o caminho para a meditação e o arauto da paz.” Saúde.

 

Antonio, um jovem que encanta o paladar 

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Muitos que me acompanham na coluna e nas redes sociais sabem que tenho trabalhado muito no Rio de Janeiro. Em uma destas minhas idas fui convidada para um jantar no chateau da empresária carioca Elisa Mendes. O que me pegou de surpresa foi o chef que assinou o cardápio. Por coincidência era seu filho Antonio Pedro. Um cozinheiro incrível, maravilhoso, único e absurdamente entende do que faz. Um poeta das cacarolas. Eu me lembrei do filme? Como Água para Chocolate. A pick-up da noite era de extremo bom gosto, a mesa estava parecendo um quadro do pintor neerlandês Pieter Claesz que sou apaixonada pelos seus trabalhos.

O chef Antonio Pedro trabalhou 7 anos na França e Espanha. Retornou ao Brasil com um projeto inusitado profissionalmente. aplicar os aprendizados, dentro de um contexto familiar. E é nesse momento que surge o AP201.

Com um apartamento recém-reformado e uma cozinha aberta para a sala, começou a receber amigos em sua casa e fazer alguns eventos – como cozinhar para grupos de empresários do novo empreendimento Cidade Matarazzo. E assim começou um novo modelo para trabalhar.

A vontade de receber em sua casa falou mais alto, pois prefere estar perto das pessoas que provam sua comida e pela troca que acontece naquele momento. Dali, Antonio acredita que consegue estabelecer um vínculo com as pessoas e assim levá-las por suas memórias relacionadas a pratos e ingredientes, além da troca que surge durante essa identificação.

A relação com a cozinha vem da infância no Rio de Janeiro onde aprendeu com sua babá Luzia, cozinheira de mão cheia, e desde os 15 anos começou um negócio de vender brigadeiros, tortas e salgados, fazia sucesso entre os amigos.

Mesmo apaixonado pela cozinha, foi estudar administração no RJ. Até que um amigo chamou para cozinhar em casa, foi ali o start up para se mudar para Paris e cursar a exclusiva Escola Gastronomia Gregoire Ferrandi.

Foi com o chef William Leudeuil, do Ze Kitchen, com quem esteve grande parte do período na França, que Antonio diz ter aprendido as maiores lições como cozinheiro. “Ele me fazia experimentar de tudo, a toda hora. Da água que fervia o macarrão à carne cozida que já havia provado há 10 minutos. Dizia que era a única forma de desenvolver meu paladar”, conta. “Quando você tem a base, você consegue evoluir a partir dali. A equação entre criação e prazer faz com que eu tenha vontade de cozinhar todos os dias”, acrescenta Antonio.

O AP201 teve início em fevereiro, com a frequência de dois jantares por semana, reservados online, com capacidade para 9 pessoas . Entre os pratos, o Faux Risoto (abóbora na textura de arroz e tangerina) e seus Dumplings caseiros (a base de carne, levam no prato dashi, umeboshi e creme de acerola). Mas tem muito mais. O menu é sazonal e os pratos podem mudar a cada jantar. Quem estiver em São Paulo vale a pena conhecer este jovem chef e sua extraordinária cozinha.

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Confira uma pequena entrevista com o chef:

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DMRevista: O que realmente finaliza o seu prazer ao preparar comida?

O que eu mais gosto é de transformar o que criei ou cozinhei em uma memória para as outras pessoas. É proporcionar uma troca de experiências com outros amigos cozinheiros ou amantes da gastronomia (isso é o mais legal que começamos a cozinhar,comer e beber e acho que só acaba porque não tem mais o que comer, ja bebemos e não dá mais pra cozinhar kkk)

 

DMRevista: Quando você pensa em comida e fecha os olhos, qual a memória do melhor prato te vem à cabeça?

Eu volto direto pra minha infância, e penso na minha minha mãe postiça, Babá Luzia. Posso te dizer que era a melhor cozinheira desse mundo. Todas as vezes que eu tento fazer um prato dela eu chego perto mas nunca fica igual!!!

Apesar dela não gostar de cozinhar, ela fazia com tanto amor que o resultado era sempre a melhor comida. Ela foi muito especial pra mim e minha carreira de cozinheiro!!! Comidas simples , feitas com amor.

 

DMRevista: Quando você começou a cozinhar?

Com 16 anos comecei a me arriscar atrás do fogão, vendia muito brigadeiro e depois comecei a fazer as melhores empadinhas e coxinhas de galinha do Rio de Janeiro (só perguntar pra quem provou).

Aprendi com a Luzia, minha mentora gustative, as técnicas e o aprimoramento, ia perguntando e lendo para tentar atingir o paladar perfeito, se é que ele existe…

Dos doces e salgados comecei a arriscar a pratos mais difíceis e dos erros, comecei a acertar.

Até que um dia um amigo falou:

– Por que você não vem cozinhar amanhã na minha casa eu te contrato para final da Copa do Mundo para 60 amigos, topa??

Abri minha cabeça, larguei a administração e fui cozinhar na França !!

Um fator que me motiva a cozinhar bastante é porque sou gordinho de pensamento. Sempre quero comer mais do que aguento, tenho o olho maior que a barriga.

Aí bate a fome e não quero fazer só um queijo quente com pão e queijo.

Quero sempre um a mais, fazer tudo devagar na frigideira, adicionar uma manteiguinha ou um requeijão dentro, um pedaço de queijo pra fora para criar aquela crostinha!!!

 

DMRevista: Melhor experiência ou cozinha que você ja trabalhou?

Sem dúvida meu chef William Leudeuil, do Ze Kitchen, onde fiquei maior parte do tempo em Paris.

Ele vivia me enchendo porque queria que eu provasse tudo toda hora: da água da massa até ao mesmo pedaço de carne que eu tinha usado 10 minutos atrás.

Para ele não existia a perfeição e dizia que quanto mais eu experimentasse mais paladar eu ia ter, e às vezes você não provava porque não tinha tempo (um caldo que você ja fazia há 3 anos sempre igual ) e lá ia o chef do nada, e experimentava um caldo x e ele achava um defeito!

 

DMRevista: Seu estilo de cozinha?

Com certeza está voltado para França +Ásia!! Fico maluco como eles trabalham e respeitam o produto por si só e também a quantidade de ingredientes que ali tem, uma infinidade de sabores.

Amo comida oriental, se deixar eu como todos os dias!

Minha maior inspiração vem do Zé Kitchen, eu gosto de praticamente todos os pratos de lá! Aquilo é uma explosão de sabor e texturas.

Como a base da cozinha que tive foi bem fusion e eu acabei de chegar no Brasil, eu estou misturando o que temos de melhor daqui com as técnicas e paladares que tive durante a minha carreira fora do Brasil.

Para mim, o desafio de cozinhar para outra pessoa é a minha realização, porque uma vez que você encontra a sua fórmula ou maneira de cozinhar e as pessoas te elogiam e admiram por terem apreciado a sua comida , isso não tem preço.

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