Economia

Produtores de leite enfrentam crise histórica

Redação

Publicado em 15 de agosto de 2023 às 14:09 | Atualizado há 1 ano

Os produtores de leite sentem-se desconfortáveis com o atual momento de adversidades, a começar pelos preços recebidos, a ausência prolongada de chuvas em Goiás que secam os pastos e as importações. De janeiro a julho, os criadores sentiram no bolso a queda de R$0,35 em média no litro do leite in natura. O prejuízo já foi maior, da ordem de R$0,75, segundo Gilson Costa, criador no município de Itaberaí.

A saída é manter o gado nos cochos. Os problemas decorrentes: o gado emagrece e baixa a produtividade. Mas, os custos aumentam porque os criadores precisam alimentar o rebanho com concentrados. Gilson observa ao Diário da Manhã que em 45 anos nunca sentiu a falta de chuvas como agora. Nesse quadro, acredita num enxugamento de propriedades leiteiras, reforçando em que outro pecuarista, Amarildo Pires Gonçalves, da Estância Tamburil, já havia anunciado ao repórter, decorrentes no caso por sojicultores, melhor renumerados.

Gilson Costa reclama, ainda, das importações de leite em pó ocasionadas pela Argentina. Aliás, nesta semana, cerca de 1.800 pequenos produtores de leite do Rio Grande do Sul protestaram em Porto Xavier, na fronteira com a Argentina, contra os altos volumes de lácteos importados. O primeiro item da pauta de reivindicações fala em “implementar barreira comercial para barrar a entrada de leite e derivados dos países membros do Mercosul”.

 “Temos percebido, inclusive, que às vezes, se está mais em conta, o produtor acaba migrando para a pecuária de corte. E a médio-longo prazo a pressão sobre eles aumenta, por causa da competitividade. Temos uma cadeia menos profissionalizada”, avalia Ana Paula Negri, pesquisadora de leite no Cepea.

Brasil

O número de produtores de leite no País, que já foi de mais de 1,35 milhão em 2010, encolheu 13%, para 1,17 milhão, segundo dados do censo agropecuário de 2017. Desses, apenas 634 mil comercializam a produção. Os outros flutuam, entram e saem do mercado, conforme a atratividade dos preços. Contudo, lucrar sem alta especialização vai ficando cada vez mais difícil.

“É o processo de seleção natural, vai ser assim. Um pequeno produtor de leite, que produz na faixa de 100 a 150 litros por dia, não consegue ter custo de produção de 26 centavos de dólar por litro, com qualidade. No leite, o cidadão pode ser pequeno proprietário, mas não pode ser pequeno produtor. Pode ter 20 hectares de terra, mas tem que ser um grande produtor, tem que ter excelência em leite naquele pedaço de terra, otimizar ao máximo”, enfatiza Negri.

O horizonte, contudo, não é apenas de nuvens escuras. Estudo da Tetra Pak, maior produtora mundial de embalagens para o setor lácteo, aponta que a demanda global por alimentos lácteos deve crescer 36% na próxima década, puxada pelo aumento da população mundial e pela elevação do poder aquisitivo nos países da Ásia, África e América Latina. Assim, se a cadeia de leite brasileira se tecnificar e profissionalizar, há espaço para o País virar exportador de grandes volumes.

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