Anjo Russo
Redação
Publicado em 8 de março de 2018 às 22:44 | Atualizado há 2 semanas“A rainha Cristina sempre foi conhecida por ser esperta e com inteligência acima da média, tornando-se especialista em história clássica e filosofia. E foi uma das poucas mulheres – entre elas a princesa Isabel, da Boêmia – a trocar cartas com o filósofo René Descartes.” Anjo Russo, Zia Stuhaug, p. 102
Na obra Anjo Russo, a autora Zia Stuhaug incentiva o leitor a conhecer mais sobre a irreverente Cristina da Suécia, partindo da obsessão de Mattias por um tesouro escondido que possivelmente pertenceu a ela.
Conhecida por ser irreverente, culta e moderna para sua época, quanto mais descobrimos sobre a história desta mulher de personalidade complexa que escandalizou a corte sueca do século XVII, mais fascinados ficamos em saber um pouco mais.
1) Foi considerada do sexo masculino, ao nascer. Pelo ambiente do nascimento ser pouco claro, à luz de velas, e Cristina nascer com um choro forte e pelos no corpo, enganou a todos, como se referiu o pai, e deverá ser uma menina muito esperta.
2) Cristina tornou-se rainha aos 6 anos de idade, após a morte de seu pai, Gustavo Adolfo II – fundador do Império Sueco –, em 1654. Este morreu na Batalha de Lützen, na Guerra dos Trinta Anos, luta entre protestantes e católicos.
3) Foi criada como um príncipe e ganhou a alcunha de “Menina-Rei”, já que foi coroada com o título de Rei e não Rainha.
4) Cresceu na companhia da tia Catarina e seus filhos, e foi tutoriada pelo teólogo Johannes Matthiae Gothus, que lhe ensinava latim, religião, grego e filosofia. Aprendeu sobre política com o Chanceler Oxenstierna, com quem mais tarde ela se mostraria hostil.
5) Poliglota, tinha muita facilidade em aprender idiomas e falava, além do sueco, francês, dinamarquês e italiano.
6) Aos nove anos de idade, Cristina passou a questionar o luteranismo, religião que o pai defendeu com a própria vida. Mal-humorada, tinha o gênio forte e a partir desta idade, mesmo criança, passou a pensar sozinha e a tomar suas próprias decisões.
7) Seu estilo de vida incomum, a aversão ao casamento, vestuário e comportamento masculino a fizeram ter fama de lésbica. Motivos que levaram a ser inspiração para várias peças teatrais, romances, filmes e óperas.
8) Após mais de 20 anos no poder, com uma vida diária rígida de trabalho e estudo que ultrapassavam 10 horas por dia, Cristina adoeceu seriamente e foi tratada pelo médico francês Pierre Bourdelot, o qual a incentivou a adquirir um estilo de vida um pouco mais leve e prazeroso. Ele inclusive a motivou a ser adepta do Epicurismo, ensinado por Epicuro de Samos, filósofo ateniense do século IV a.C., o qual afirmava que a felicidade estava baseada em três coisas: liberdade, amizade e tempo para filosofar.
9) Cristina, após perceber que o Epicurismo lhe fazia bem, abdicou do trono em favor do seu primo, Carlos Gustavo, por quem ela teve, na adolescência, uma “breve” paixão secreta. Converteu-se ao catolicismo e mudou-se para Roma, onde foi recebida com toda pompa pelo Papa Alexandre VII.
10) Já em Roma, começou a praticar o apreço a uma vida boêmia entre artistas, escritores, filósofos e intelectuais da época, entre eles o filósofo francês René Descartes.
11) Houve rumores de que ela teve um caso com um cardeal, Decio Azzolino, responsável pelas correspondências do Vaticano com as cortes europeias, além de também ter trabalhado para o Embaixador da Espanha. O cardeal liderou um movimento chamado Esquadrão Volante, que militava ideias liberais dentro da Igreja Católica. Cristina simpatizava muito com esse espírito de liberdade. Ele esteve ao lado de sua adorada amiga até seu último suspiro de vida.
12) Foi batizada no catolicismo pelo Papa Alexandre VII, tornando-se muito paparicada pelo Vaticano e amada pelo povo. Seu nome de batismo passou a ser Alexandra Maria – Alexandra não foi escolhido apenas em honra ao Papa, mas também em honra ao seu herói grego, Alexandre, o Grande. O Vaticano a tratava com pompas e privilégios.
13) Foi responsável pelo assassinato do seu chefe de cavalaria, Gian Rinaldo Monaldeschi, no outono de 1657, na França, por ter sido desleal a ela e lido durante dois meses suas correspondências. Foi uma execução do ponto de vista legal, visto que Cristina tinha direitos judiciais sobre membros da corte, mas isso custou-lhe a popularidade na Itália. Quando regressou a Roma, foi tratada com hostilidade e pela alcunha de “mulher bárbara”.
14) Mesmo com as finanças arruinadas, ela apoiava o mundo das artes. Construiu teatros, viabilizou exposições, e apadrinhou artistas como Alessandro Scarlatti e o escultor e arquiteto Gian Lorenzo Bernini (1598-1680), considerado a maior expressão do barroco – cujas obras famosas estão espalhadas pela capital da Itália. Foi Bernini quem construiu o túmulo de São Pedro, que fica na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Bernini construiu, inclusive, uma cadeira para levá-la na recepção de sua chegada ao Vaticano, em 20 de Dezembro de 1655. Os dois se tornaram amigos por toda a vida.
SOBRE A AUTORA
Zia Stuhaug é letrista, poetisa e escritora infantojuvenil bilíngue português/norueguês, com três livros infantis publicados no Brasil, Noruega e Inglaterra. Nasceu em Engenheiro Beltrão (Paraná) e, atualmente, vive com a família na Noruega. Graduou-se em Administração pela Universidade Estadual de Maringá, com especialização em Gestão de Pessoas pela Universidade Federal do Paraná. Teve várias participações em Antologias poéticas publicadas na Suíça, França, Itália e Inglaterra. É proponente do Projeto de incentivo à leitura, Escola com Histórias, membro da A Alals – Académie de Lettres et Arts Luso–Suisse, com sede em Genebra, na Suíça, e correspondente internacional da Unijore (União dos jornalistas e escritores de Maringá).
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