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AOS TEUS OLHOS

Diário da Manhã

Publicado em 6 de julho de 2018 às 21:45 | Atualizado há 7 dias

Com a evolução tecnológica e o crescimento sem pre­cedentes da internet no mundo, houve em nosso cotidia­no mudanças radicais na maneira como interagimos e nos relacio­namos com as pessoas. A facilida­de de falar com alguém em outro país, o acesso rápido às informa­ções concernentes a qualquer tipo de assunto e, claro, a fácil manifes­tação do pensamento que gerou não somente benefícios democrá­ticos como facilitou a manifestação da opinião de qualquer indivíduo.

Mas tal facilidade em expor pen­samentos em plataformas virtuais trouxe consigo um espírito de jul­gamento instantâneo capaz de re­solver questões pertinentes, claro, mas com poder voraz de criar ró­tulos sem o mínimo de cuidado e prévia avaliação. O veredito é rápi­do, e as consequências duradouras. Por vezes irreversíveis.

Aos Teus Olhos, da diretora Ca­rolina Jabor, é um projeto brasilei­ro que fala justamente desta reali­dade. A história nos apresenta um professor de natação atencioso, ca­rismático, respeitoso e adorado por todos os alunos – crianças pequenas de até 10 anos. Seu nome é Rubens (Daniel de Oliveira), e além do seu jeito cheio de simpatia, ele é tam­bém humano e gosta de falar so­bre sexo e fazer brincadeiras com os amigos do trabalho. Certo dia, o pai de Alex – um dos alunos – o de­núncia para a diretora da escola di­zendo que seu filho recebeu do pro­fessor um beijo indevido na boca. A mãe de Alex foi quem afirmou en­faticamente que a criança lhe reve­lou tal fato quando chegou em casa, mas nunca temos certeza disso. Em seguida, esta mesma mãe posta no Facebook o relato do que suposta­mente aconteceu e logo a vida de Rubens muda drasticamente.

Carolina Jabor faz questão de tra­balhar com a ambiguidade e a usa com maestria para despertar no es­pectador interesse profundo na tra­ma. O roteiro cria incertezas sobre a veracidade das afirmações, pois nunca presenciamos em cena Ru­bens ter um comportamento inde­vido com as crianças. Ele trabalha há anos na escola e é amado por to­dos os alunos, por isso que a denún­cia surge sem muito fundamento, e quando Jabor apresenta a vida pes­soal conturbada dos pais de Alex, mais incertezas afloram sobre a verdade da acusação. Mas Rubens também nunca é colocado como completo inocente. Há diversas in­certezas em torno de sua pessoa, já que Jabor faz questão de nunca oferecer uma visão clara de quem é cada personagem.

Diferente, por exemplo, de um excelente filme dinamarquês cha­mado A Caça, onde uma menina pequena acusa seu professor de abuso. Neste caso, o longa – estrela­do por Mads Mikkelsen – mostra a mentira da menina e define o pro­tagonista como vítima de uma in­justiça. Já em Aos Teus Olhos nada é definido. Nenhum dos lados. São duas abordagens que causam efei­tos diferentes, mas ambas mostram a gravidade do julgamento prévio e instantâneo das pessoas, e como as consequências – seja de uma men­tira, ou não – são irreparáveis.

A internet, hoje, é o maior advo­gado, acusador e juiz. Ela se trans­formou em um lugar onde muitos pregam respeito, mas os mesmos não conseguem exercer tal valor. Aos Teus Olhos abre discussões pertinen­tes e proporciona uma experiência angustiante. Uma surpresa do ci­nema nacional que recomendo de boca cheia!

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