Atire no dramaturgo
Diário da Manhã
Publicado em 17 de julho de 2018 às 21:14 | Atualizado há 2 semanasVelho, bêbado, barrigudo e decadente é assim que Mário Bortolotto se descreve. Mas além desses adjetivos, ele ainda é escritor, diretor, poeta,dramaturgo e músico. Mário tem textos seus traduzidos e publicados na França, Polônia e Argentina. Mário é de Londrina, no Paraná, e já passou dos 50, mas ainda canta o blues e boemia pelos cantos de São Paulo, cidade onde mora.
O mundo do teatro é onde está seu maior domínio. Ele já esteve à frente de mais de 25 peças de teatro, nas quais o texto e direção são seus. A maioria de seus personagens dá retratos de pessoas que vivem de alguma forma à margem da sociedade. Desde a década de 90 tem marcado seu espaço no teatro brasileiro com sua linguagem direta e afiada.
Quase todas as peças escritas por Bortolotto já foram publicadas. Também publicou o livro de poesia Para os Inocentes que Ficaram em Casa, além dos romances Mamãe não Voltou do Supermercado e Bagana na Chuva.
O crítico literário Sebastião Milaré fala sobre o estilo de Bortolotto: “A obra dramática de Mário Bortolotto tem óbvias influências da literatura em permanente confronto com o sistema de um Kerouac e, mais ainda, de um Bukowski. Na maneira de abordagem, aos problemas e nos fluentes diálogos, todavia, prevalecem a cor local, e os estigmas da classe média brasileira”.
ATIRE NO DRAMATURGO
Mário alimentava um blog desde 2004, onde postava seus contos, críticas e outros devaneios que hoje ele publica em suas redes sociais. Em 2006 lançou o livro Atire no Dramaturgo, de mesmo nome do blog, onde está uma coletânea de contos postados na rede. Em 2010 deu uma chance pro seu lado poeta e lançou o livro Um Bom Lugar para Morrer.
O nome do blog acabou de certa forma sendo uma ironia. No ano de 2009 de fato atiraram no dramaturgo durante um assalto. Mário estava em mais uma de suas noites boêmias na Praça Roosevelt, em São Paulo, onde ele e o amigo Carlos Carcarah reagiram a um assalto. Mário levou três tiros próximos à coluna, ao pulmão e ao coração. Dois dias de coma e o autor não teve alguma sequela.
NOSSA VIDA NÃO CABE NUM OPALA
Nossa vida não cabe num opala é uma produção cinematográfica do ano de 2008 dirigido por Reinaldo Pinheiro. A peça que deu origem ao filme é de Mário Bortolotto e se chama Nossa vida não vale um Chevrolet. O filme é o primeiro longa que Pinheiro dirigiu em sua carreira.
O texto e o filme de Nossa Vida não Cabe num Opala tratam de vidas sufocadas por um misto de determinismo social e hereditariedade falida. O filme conta com a atuação dos lendários Paulo César Pereio e Marília Pêra. No longa Pereio faz o papel de um pai de família de classe média baixa que depois de morto passa a aparecer pra aconselhar seus quatro filhos.
BLUES, TRAGOS E RATOS
“Saco de Ratos Blues” é o nome do projeto musical de Bortolotto. A maior parte das composições é do próprio Mário e pra quem curte um blues e queira dar uma chance às composições nacionais, está aí uma dica. No site da banda ele descreve o som da banda dessa forma: “Com as letras poeticamente cruas e bêbadas do escritor e vocalista Mário Bortolotto. Com duas guitarras que se completam em agressividade e feeling, e uma cozinha rítmica e pulsante”.
O grupo já lançou três discos com os nomes de Sacos de Ratos I, II e III. O primeiro disco conta com a canção Nossa vida não vale um Chevrolet, onde dá pra ver o mesmo ar de marginalidade e determinismo do texto que originou o filme, como no trecho “Há muito tempo você anda comigo/ Cê sabe, eu me ferro, eu xingo, eu brigo/ Eu te ligo no meio da noite/ Pra dizer que o mal, o mal mora em mim”.
]]>