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Criadoras de vida e de arte

Diário da Manhã

Publicado em 12 de maio de 2018 às 00:37 | Atualizado há 4 semanas

Repetida milhões de vezes, a frase de que todas as mães são as melhores, se tornou uma verdade social e absoluta. Pois é evidente que as progenito­ras, em geral, possuem muitas ca­racterísticas em comum. No texto da exposição “Em Nome da Mãe”, que será aberta hoje, às 10 horas, na Galeria Potrich, em homena­gem às mães, a curadora Tatiana Potrich citou um texto do médico francês Adolphe Pinard, para fa­lar um pouco destas semelhanças.

Ela usou um trecho em que Pi­nard diz que a maternidade vem com uma espécie de “rejuvenesci­mento em todo organismo, acom­panhado de um caráter mais forte, mais resistente à dor, com refina­mento de todas as qualidades mais belas da alma feminina: a bondade, a ternura, a resignação, o espírito de sacrifício e a abnegação”.

O amor deve ser então o que as une, mas também o que as tor­nam tão diferentes. As formas de expressar de cada mulher dian­te o mundo, por exemplo, são di­versas. Um exemplo é a própria mostra “Em Nome da Mãe”, cole­tiva que fica em cartaz até o dia 8 de junho. A compilação apresenta o trabalho de quatro artistas, não por acaso, mães. São elas: Emília Simon, Adriana Mendonça, Simo­ne Simões e Marilda Passos.

Escolhidas pela curadora pela condição social em comum – de mulher, mãe e artista. Mas foi de­cisivo para Tatiana, na composição da mostra, o fato de que cada uma destas mulheres artistas vive uma etapa da vida diferente. Emília Si­mon, por exemplo, é marinhei­ra de primeira viagem na mater­nidade: tem um filho de um ano.

Adriana, por sua vez, engravi­dou aos 42 anos, de menino que hoje tem seis anos. Simone Si­mões tem duas filhas já adultas e se define em uma fase de obser­var, feliz, as “sementes que plan­tou”. E Marilda, a veterana da mos­tra, é avó de cinco netos.

“‘Em nome da Mãe’ vem para cutucar o pai, que não sente as do­res do parto, o sacrifício da ama­mentação e a eterna dedicação maternal. A curadoria das artis­tas é o contraponto de técnicas, idades e pontos de vista dessas mães que exercem dupla jorna­da”, explica Tatiana Potrich.

DIVERSIDADE

Quando o assunto são as crias artísticas de cada uma, fica claro as diferenças de escolas, inspira­ção, temas, etc. E isso, a curadora deixa bem claro, principalmente na opção de não definir um tema para mostra. Quando o feminino, a maternidade aparece em “Em Nome da Mãe”, é porque faz parte da estética dessas pintoras, dese­nhistas, gravadoras, etc.

Entre as artistas, Emília Simon é a que, talvez, traz um trabalho mais leve, colorido e lúdico. Mas não se engane, apesar de fofo, é repleto de ironia. A artista, que já integrou o Fake Fake – coletivo en­tremeia a arte e a ilustração –, traz obras, parecidas com fábulas e al­guns de seus personagens fanta­siosos, aparentemente inofensi­vos, olham com sarcasmo para os seres humanos e sua condição.

Adriana Mendonça invoca personagens tridimensionais que também podem ser chama­dos de lúdicos. Mas, neste caso, o irreal serve para retratar me­mórias de infância e lembranças afetivas. “Mendonça tem uma perspectiva figurativa curiosa no que diz respeito à família e seus membros. Ela criou bonecos a partir de desenhos que ela mes­mo identifica como membros da sua família. Consegue adminis­trar o tempo entre lecionar, dis­sertar sobre sua tese, produzir sua arte e educar o filho de seis anos”, conta a curadora.

A feminilidade pode ser con­templada de forma mais intensa no trabalho de Simone Simões, uma artista inquieta. Ela está sempre às voltas com a pesqui­sa e investigação e envolve nas obras técnicas mistas, a exem­plo da gravura, aquarela, pintu­ra e encáustica. “Simone é uma alquimista em busca sempre do conhecimento. Ela já tem algo de muito visceral, como sua co­leção de tesouras antigas, que ao lado de seus corações reme­tem ao corte do cordão umbili­cal que, bem na verdade, nunca é cortado”, analisa Tatiana Potrich.

Por fim, Marilda Passos, além de estudiosa, é muito versátil e ou­sada. Pinta, grava, esculpe e brin­ca com a mistura entre figurativo e abstrato. A habilidade com a pon­ta seca possibilita minuciosos de­senhos geométricos, sua marca re­gistrada. “Marilda é experimental. A beleza e o equilíbrio de suas for­mas estão no contraste da penum­bra, da luz, da sombra e da quase monocromia de suas obras reve­lando e velando as certezas e in­certezas das quais cabe uma mãe e artista sentir”, argumenta Tatiana.

Para a curadora, a ideia prin­cipal da exposição é apresentar à sociedade patriarcal os pontos de vista destas mulheres, mães e ar­tistas. “‘Em nome da Mãe’ é um convite às mulheres que vivem em jornada dupla ou tripla, para que se deem ao direito de criar além da vida doméstica e, com isso, criar suportes para expressar seus sen­timentos de mulher, mãe e artis­ta!”, conclui a curadora.

ARTE DESDE SEMPRE

E foi pensando em uma criação de cidadãos ligados à arte que Po­trich, em suas mostras, tem tido a preocupação de envolver também as crianças. Foi assim na mostra an­terior “Garimpo” e será também em “Em Nome da Mãe”, que terá um es­paço destinado aos pequenos.

“Este espaço trata-se de uma grande mesa com livros, papéis, lápis de cores, tesoura, cola e tam­bém jogos de xadrez, dama, domi­nó e de cartas. O intuito é desper­tar o interesse das crianças para as artes e desviar o olhar dos eletrô­nicos”, explica Tatiana.

EXPOSIÇÃO COLETIVA EM NOME DA MÃE

Abertura: Hoje, às 10h

Visitação: até o dia 8 de junho

Onde: Potrich Galeria de Arte Contemporânea (Rua 52, 689, Jardim Goiás, Goiânia)

Entrada franca

Emília Simon leva à exposição sua arte leve e irônica

 

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