Em contínua metamorfose
Diário da Manhã
Publicado em 29 de janeiro de 2018 às 23:40 | Atualizado há 2 semanasMovimentos, olhares, jogos de luz e sombras que provocam sensações e narrativas individuais e remetem às origens, desafios e ciclos que envolvem humanidade. Estas são algumas questões tocadas em “Espécie”, um espetáculo intenso, que rodou o país está de volta a Goiânia para fazer a maior temporada de um monólogo físico.
Ao todo serão 25 apresentações, que começaram semana passada no Teatro Sesc onde as sessões, até o dia 21 de fevereiro (com exceção na semana do carnaval), estão sendo exibidas todas as terças e quartas-feiras. Em seguida, a montagem chegará ao Centro Cultural UFG e depois à Sala 8 da UFG, na Praça Universitária, onde a temporada encerra. Todas as sessões serão seguidas por um bate-papo, com equipe do espetáculo.
Dirigida e concebida por Valéria Braga e protagonizada por Rodrigo Cunha “Espécie” representa uma história bem sucedida na arte contemporânea. E, além de ter rodado o país, já virou um curta metragem dirigido por Daniel Calil e Valéria Braga e, coleciona quase 30 prêmios e indicações entre eles, o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz.
O sucesso do monólogo muito se dá, pela interpretação de intensa e expressiva de Rodrigo Cunha junto à uma equipe atinada. Antes de estrear, por exemplo, foram três anos dedicados à pesquisa, com apoio da Vivace Escola de Teatro e Dança. Logo, muitas experimentações foram feitas – e ainda são – juntamente com a preparação corporal de Angélica Braga e o pesquisador corporal de Kleber Damaso.
Em cena, a interpretação expressiva de Rodrigo Cunha tem a intenção de expressar mundos visíveis e invisíveis de uma realidade em constante transformação. Isso acontece através da interpretação de três personagens, que convidam o público a repensar a própria existência: um macaco, uma mulher e um velho.
Já, se contrastando com a intensidade do ator, o minimalismo domina a cenografia do monólogo, já que a peça acontece em um palco completamente escuro. É a luz de um celular, que o ator carrega, a única fonte de iluminação e é ela, a responsável por direcionar o olhar do espectador, por vezes revelando, por vez escondendo a cena, ressaltando um lado sensorial da montagem. Consequentemente, pode-se ver que “Espécie” é um espetáculo em que dança, teatro e artes visuais quase tornam-se um.
“Espécie é uma experiência intimista, em que a luz e o corpo se fundem revelando uma trajetória difusa. As sombras se instauram nas paredes do local e acrescentam ao corpo o seu duplo, em ato cênico. O espetáculo busca instigar novas formas de ver o mundo, as coisas e as pessoas”, finaliza.
ENTREVISTA RODRIGO CUNHA
DMRevista– Como é estar de volta com “Espécie”. Após mais de cinco anos de sua estreia, cada vez você está mais à vontade em cena?
Rodrigo Cunha– Estar de volta é simplesmente mágico. Mas todo vez é um estreia nova. Ta ai a grande magia disto tudo. A mesma sensação de que tive na estreia , tenho em todas as apresentações, então assim sempre é uma estreia. E como é um Espetáculo o que precisa de muita precisão. Ficar “ a vontade” não é uma opção. E preciso fazer “com vontade”.
DMRevista– Sendo a maior temporada de um teatro físico, como seu corpo e mente para a maratona de espetáculos?
Rodrigo Cunha– Fisicamente preciso malhar todos os dias. Fazer aulas de Boxe, corrida. E ballet com a Angelica Braga. Pra “flutuar” entre a força e a leveza. Mentalmente a Valéria Braga faz um trabalho de muita técnica pra que encontre um caminho neste labirinto infinito que é o Espetáculo.
DMRevista– Qual o personagem que você sente que mais toca o público, a mulher, o macaco ou velho?
Rodrigo Cunha– Excente pergunta. Acredito que em cada um chega de maneira diferente na Platéia. O Macaco tem todas questões ligadas ao inconsciente coletivo que marcou na história da humanidade, desde de Darwin até o Macaco do zoologico preso, passando pelas figuras do Cinema de King Kong ao Planetas dos Macacos, mas a grande questão é que no Espetáculo ele fica na frente da Plateia, vc esta na Floresta, Esta no escuro…e agora? A Mulher, tem muita força, porque a Mulher TEM muita força, ela é muito sensível , inteligente, precisa muito mais que o Homem, sou Dirigido por uma, fui criado por quatro mulheres incríveis, mas no Espetáculo é a Marlin Moonroe, que é um ícone da beleza mas mesmo assim parece presa… E o Velho é onde vamos chegar…Nao tem jeito é o caminho, a beleza acaba uma hora e seu corpo pesa…
DMRevista– Pode falar um pouco sobre sua trajetória como ator?
Rodrigo Cunha– Na realidade não sei há quanto tempo comecei. Sei que não vou parar. Ah nao ser no fim de tudo. Mas acho que até no céu vou estar fazendo cênicas. Comecei na Escola Tecnica Federal onde estudava com o Julio Vann, depois fui pra UFG e conheci a Valéria Braga. Entre estas duas figuras fui dirigido e trabalhei com pessoas incríveis e fiz oficinas no Brasil todo. Ano passado ganhamos o prêmio mais importante de circulação da América Latina o SESC Palco Giratório e apresentamos e conhecemos todas as regiões do Brasil. Dei oficina nestes lugares. Um ano antes, apresentamos o espetáculo “Dúplice”, que faço com o Rodrigo Cruz que venceu o primeiro Prêmio Goiânia em Cena, fizemos 199 apresentações e estamos indo pra 200! Fomos pra Espanha, Argentina e Bolívia com ele, onde demos oficinas e apresentamos. Foi incrível! E o “Espécie” virou filme, um curta que foi dirigido pelo Daniel Calil e pela Valéria Braga, ganhei um prêmio de melhor ator por este trabalho. E entre prêmios e indicações somam 28. Mas depois que conheci a Valéria Braga e seu método comecei a entender que Sempre é um começo, uma busca.
DMRevista– E quais seus projetos após esta temporada de “Espécie”?
Rodrigo Cunha– Depois do “Espécie” vamos dar continuidade ao “Origens”, que estreou ano passado e vai voltar esse ano. Nele qual contraceno com Fernanda Pimenta e Elena Diego, duas atrizes incríveis. É um espetáculo de muita velocidade e força, leveza e pausa. Somos três corpos flutuando sobre blocos de gelos. (literalmente são 100 quilos de gelo por apresentação). Surgiu de uma conversa que tive com a Fernanda Pimenta no Rio de Janeiro numa oficina que dei e ela foi atrás, entrou na Lei e foi aprovada no Fundo de Cultura , no qual patrocina o “Espécie” também foi aprovado, e a Valéria pegou nossa ideia e transformou em algo que não sei descrever em palavras. Valéria nos coloca com um “iceberg deslocando no Oceano”. E a platéia é a margem… Se vamos chegar até à margem? Bem… Só assistindo. Vou fazer um Shakespeare, no qual vou contracenar com o poderoso Hugo Rodas, ambos dirigido pela Valéria Braga. Este ano estreia um curta incrível que fiz dirigido pelo Fabricio Cordeiro e pelo Luciano Evangelista chamado “Guará” e tem projetos a vir pela TV e cinema, mas são projetos.
ESPETÁCULO “ESPÉCIE
Quando: 23, 24, 30 e 31 de janeiro; 6, 7, 20 e 21 de fevereiro
Horário: 20h
Local: Teatro Sesc Centro (Rua 15, esquina com a Rua 19, Centro)
Ingressos: a partir de R$ 8. À venda na Central de Atendimentos do Sesc Centro ou através da Bilheteria Digital. Mais informações no site.
Classificação indicativa: 14 anos
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