Entretenimento

Epístola do bebum

Diário da Manhã

Publicado em 21 de outubro de 2018 às 02:41 | Atualizado há 6 anos

A migo boêmio, segue a epístola do bebum. A par­tir de agora não é permiti­do qualquer tipo de manifestação sóbria, e é de fundamental impor­tância refrescar o vernáculo todos os dias ouvindo Bruno e Marrone naquele boteco da esquina. A tra­dicional bebedeira tem de ser man­tida, nem que para isso seja preciso emprestar R$ 60 do amigo e fingir que irá pagar depois.

“Amor bandido e solidão é uma ressaca”, ressoa a famosa canção da dupla Bruno e Mar­rone pela jukebox. Essas máqui­nas são um dos amores de mi­nha vida, ainda que sejam tidas como ultrapassadas pela gera­ção smartphone que se delicia com inúmeras músicas a um cli­que de distância. Todavia, duvi­do honestamente de que alguém tenha parado alguns minutos para curtir o som de Wando ou Odair José. Pobre geração.

Seu Leandro, traz mais uma e não esqueça daquele bolinho de carne, eu pagarei dessa vez, prome­to. Um brinde aos homens que pos­suem nervos de aço, como cantou o nobre Lupicínio, com quem apren­di a escorar os cotovelos no bar. Um brinde para todos os sofredores des­te mundão de meu Deus.

A semana começou com jogo do Vila Nova contra o Guarani. Na terça-feira, o Brasil duelou con­tra o maior produtor de cocaína do mundo, a Colômbia. Tanto o Tigrão quando a seleção canari­nho não saíram do empate, mas os certames serviram como es­quenta para o que estava por vir nos próximos dias. A trinca fute­bol, cenas lamentáveis e birita vi­riam à tona no feridão.

Thompson Silva, jornalista à lá Hunter Thompson, garante que um homem pode fazer qualquer coisa quando o decreto do feriadão passa a vigorar. “Beck, hoje é sexta-feira no meio da semana, e implica em dia de decreto”, esclarece Silva. “É obri­gatório beber hoje”, salienta.

Para que discutir? E eu lá sou besta de fazer isso. Sim, meu caro, tu me ensinaste a não ter vergonha da dor de cada dia, com a frase “nós nunca seremos felizes”. Aliás, a cada pé-na-bunda coloco um brega altís­simo no alto-falante e sinto algumas lágrimas escorrerem pelos meus olhos – quem disse que homem não pode chorar, cacete?

Mais um brinde, amigo. O que tu achas desta minha reles crônica destinada liricamente para quem prefere ficar enclausurado em casa a transar com as moças da casa da luz vermelha e encher a cara – eis o delírio de uma geração que faz tudo com um clique, e esqueceu-se de que embriagar os sentidos é funda­mental para o psiquismo.

Embriagar-se é preciso, não im­porta que horas são, escreveu o poe­ta Baudelaire, o cara que mudou a poesia no século XIX. Bem, não sei vocês, mas daqui a pouco irei mo­lhar a palavra, pois ninguém é obri­gado a ficar o feriadão sem inge­rir qualquer substância alcoólica. Tchau obrigado. Até a próxima.

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