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Evento cultural com Dudu Braga agita a noite do Alphaville

Diário da Manhã

Publicado em 8 de agosto de 2018 às 22:20 | Atualizado há 3 semanas

O Alphaville, através dos seus projetos Alphacultural e Alphasolidário, promove hoje em Goiânia evento filantró­pico que tem como estrela Dudu Braga, filho de Roberto Carlos, pa­lestrante motivacional. Cego desde os 24 anos de idade, resolveu com­bater o preconceito através da infor­mação. E afirma: “É preciso saber viver.” Confira a entrevista exclusiva concedida por ele ao DMRevista.

DM – Como é ser filho do rei Roberto Carlos?

Dudu Braga – Brinco muito com isso, porque não sei como é ser fi­lho de outro. Então, como sempre fui filho do meu paizão. Falando sério, ser filho de pessoa pública é muito bacana, muito gostoso, abre muitas portas, e por isso a responsabilidade é muito maior, de dar um bom exemplo. Ser filho de uma pessoa pública como Ro­berto Carlos é fácil. Difícil é ser fi­lho de político hoje em dia. Meu pai é um cara muito amado e, de tabela, pego um pouquinho desse amor que as pessoas dão ao meu pai. Sou fã do meu pai, tanto como filho quanto profissional. Uma das coisas mais bacanas que o meu pai me ensinou foi o profissionalismo e, na parte familiar, o amor que ele sempre dispensou para a fa­mília, para os filhos, com as pes­soas que estão à volta dele. Meu pai é um cara muito simples e o admiro pela maneira como ele trata as pessoas. Dele só herdei coisas boas. Ele é muito amável, sensível. O artista tem uma sensi­bilidade diferenciada, e meu pai é um cara muito observador. O coração dele não cabe no peito.

DM – Como você se tornou um palestrante?

Dudu Braga – Sou deficiente visual há 25 anos, perdi minha visão entre os 22 e 24 anos. Hoje tenho 49, mas já trabalho com co­municação há muito tempo. Sou radialista, e rádio é uma paixão dos deficientes visuais. Já traba­lhava com meus amigos deficien­tes visuais dando palestras sobre o mundo profissional de rádio, di­cas, etc, porque gosto muito des­se universo radiofônico.

DM – Depois de participar da novela América, da Glória Peres, em 2005, me atentei para o fato de que poderia falar às pessoas que enxergam sobre a pessoa com deficiência. Esse foi um trabalho paradoxal, pois um cego trabalhar em um lugar chamado ‘televisão’ me abriu um campo muito bacana. Sempre fui muito tímido, mas o rádio me fez desenvolver como comunicador. Como sou deficiente, fui vítima de preconceito e por isso resolvi que poderia falar com as pessoas sobre isso, porque a melhor forma de combater o preconceito é com informação. E é isso que falo nas minhas palestras.

DM – Como você encara sua deficiência visual?

Dudu Braga – Da mesma for­ma a gente combate o preconcei­to, na palestra. A vida de todos nós é uma superação. Todos te­mos as nossas superações do dia a dia. Então penso que na pales­tra é uma oportunidade de aju­dar as pessoas em todos os senti­dos: motivar, superar, sensibilizar em relação às pessoas com defi­ciência e quebrar o preconceito em relação às pessoas que têm deficiência.

DM – Vale a pena viver?

Dudu Braga – Principalmente depois que a gente tem filhos. Te­nho três filhos, e com certeza vale a pena viver. A música do meu pai é muito perfeita: “Quem espera que a vida seja feita de ilusão é melhor ficar maluco ou morrer na solidão”, porque é preciso ter os pés no chão. Há que se enten­der que a vida não vai ser só de coisas boas, que a vida não é fei­ta só de vitórias. As vitórias são feitas para serem desfrutadas e as derrotas são para aprender­mos com elas. Vale a pena viver justamente entendendo o que é a vida. É preciso saber viver!

DM – Observo que você tem feito muitas palestras pelo Brasil. O que tem a dizer sobre sua agenda lotada?

Dudu Braga – De fato. Faço um programa de rádio que é veicula­do para 40 rádios em todo o Bra­sil, de músicas do paizão (Roberto Carlos). Tenho a minha banda, que se chama RC na veia, de rock and roll, onde sou baterista. Do­mingo fiz um show em São Pau­lo, e o DVD da banda acabou de sair. Tinha uma banda de clássicos do rock, e aí cheguei para o meu pai e falei que iria fazer versões dele em rock pesado, que é o que gosto de tocar. Fizemos algumas versões, onde tivemos a partici­pação especial do Toni Garrido, Rogério Flausino, Digão, do Rai­mundos; Andreas Kisser, do Se­pultura, tudo isso para dar uma força para um cara em começo de carreira chamado Roberto Car­los (risos), que também gravou conosco. O DVD saiu dia 12 de julho passado pela Sony Music.

DM – Você nasceu neste ambiente artístico e sabe fazer outra coisa, senão viver da arte?

Dudu Braga – Tentei muitas coisas. Já trabalhei com comér­cio, tive importadora, exportado­ra, fui vendedor de carros porque meu pai já teve uma concessioná­ria de veículos. Na verdade tentei fugir do meio artístico, daquela história de ser ‘filho do Roberto Carlos’. O comparativo é pesado. O que vem à mente é que não dá para trabalhar com esse compa­rativo, pois cantar como Roberto Carlos não vai dar. Então a prin­cípio você busca um caminho al­ternativo. Entretanto, sempre fui músico. Desde os nnove anos que toco bateria. Quando trabalhei com exportadora e importadora, acabei montando uma gravado­ra, fui produtor musical duran­te um bom tempo, e cheguei a ga­nhar um Grammy como produtor musical com o Padre Marcelo. En­tão, não teve jeito. Como traba­lho com arte, ela veio até mim. É algo indissociável.

DM – Você participa de projetos sociais?

Dudu Braga – Dou voluntário na Fundação Dorina Nowill, tam­bém na Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiên­cia Visual Laramara, que são duas instituições em São Paulo para pessoas com deficiência visual. Sou um dos fundadores dos Me­ninos do Morumbi, que é um pro­jeto social muito bacana em SP que a gente cuida de 3.500 crian­ças carentes, com aulas de percus­são, dança. Interessante observar que essas crianças têm necessida­des imediatas que a própria fa­mília não consegue suprir, o que torna a questão muito complica­da. Sempre trabalhei com proje­tos sociais e herdei isso do meu pai, que sempre esteve envolvi­do com causas sociais. Acredito que todos temos que fazer algu­ma coisa, e não esperando que o governo resolva tudo. Todo cida­dão é um voluntário em potencial que tem que ser despertado des­sa forma, para saber que pode e deve fazer isso.

DM – Você se orgulha do Brasil dentro desse contexto político que tratamos acima?

Dudu Braga – Sempre fui um cara engajado politicamente, sem­pre me preocupei com as ques­tões políticas do País. No meu twitter sempre dou meus pita­cos sobre política, e penso que estamos vivendo um momento de grande dificuldade. Porém, vejo os momentos de dificuldade uma oportunidade. Estamos vi­vendo um momento de transfor­mação, e não vai ser fácil, porque as opções que a gente tem por aí não vislumbram muita chance de mudança, mas acho que gra­dativamente a consciência que devemos ter em relação ao nos­so País vai acontecer. Ao mesmo tempo que estamos vivendo um momento muito triste, estamos vivendo um momento de opor­tunidade, para quebrar justa­mente tudo o que vinha aconte­cendo de errado, dos vícios que a nossa política tem. Na minha concepção os políticos se acos­tumaram a um modus operan­di que não vai mais funcionar. Está na hora do Brasil respon­sabilizar as pessoas que fazem mal ao País. Não podemos mais passar por cima de tudo fingin­do que não estamos vendo a cor­rupção. Independente da pes­soa ser de esquerda, direita ou centro, não importa. O que im­porta é que ela seja um cidadão de bem. Corrupto é corrupto, e deve ser punido por isso. No Brasil, as pessoas não são res­ponsabilizadas pelo mal que fazem e, na verdade, elas pre­cisam ser responsabilizadas pe­los seus erros e, principalmen­te, pelos seus crimes.

DM – O que você espera para o Brasil?

Dudu Braga – Sei que está difí­cil ser otimista nesse furacão que estamos vivendo, mas temos que acreditar. Penso que, com a par­ticipação de todos, podemos mu­dar esse País. Minha irmã passou por uma situação em Londres que deveria servir de exemplo para cada brasileiro –e quando falo em Brasil, me coloco à frente de todos, como brasileiro que sou. Ela estava sentada em um par­que e havia acabado de comer um lanche, tendo deixado o pa­pel do sanduíche ao lado dela. Um londrino que estava pas­sando olhou para ela e disse: você não vai deixar esse papel aí, vai? Ela respondeu: não, pois de fato ela iria jogar o papel na lixeira. A situação é tão simples, mas reflete bem o que um cida­dão tem que fazer: todo mundo tem que ser fiscal, todo mundo tem que ser voluntário. Apesar disso tudo, pode parecer meio duro, mas tem uma frase do Che Guevara que juntei com uma mú­sica do paizão: “Quem espera que a vida seja feita de ilusão, é melhor ficar maluco ou morrer na solidão.” Che disse que de­vemos endurecer sem perder a ternura: “Hay que endurecerse pero sin perder la ternura ja­más”. Precisamos amadurecer sem perder a esperança. É esse o processo que o Brasil está vi­vendo, um processo de amadu­recimento. O amadurecimento deixa a gente mais duro, mas não pode deixar a gente sem esperança.

 

Luciana Paula

O Alphaville tem dois projetos: um cultural chamado Alphacultural, e um projeto solidário chamado Alpha­solidário. Um está ligado ao outro. O objetivo é trazer o entretenimento, a cultura e a arte para os moradores e convidados. Tudo que o cultural arre­cada é revertido para o solidário, onde ajudamos quem precisa com dona­tivos que são arrecadados, como ali­mentos ou artigos de uso necessário. Acredito que somos pioneiros nessa área no Alphaville em termos de Bra­sil. A iniciativa surgiu de um grupo de moradores que se organizou para tor­nar projetos de ajuda reais. O projeto cresceu e o Alphacultural se tornou uma fonte de arrecadação para o Al­pha solidário, de modo que hoje há o engajamento de quase todos os mo­radores nos projetos propostos. En­fim, o objetivo é que a nossa comu­nidade viva melhor, com qualidade de vida voltada para a cultura e a arte.

 

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