Festival de poesia encenada começa neste domingo
Diário da Manhã
Publicado em 3 de agosto de 2018 às 21:30 | Atualizado há 2 semanasO coletivo Goiânia Clandestina surgiu em Goiânia nos últimos dois anos, capital do Estado de Goiás. A intenção do coletivo é fazer com que os poetas goianos da nova geração fossem lidos. Sem muitas pretensões, o grupo desenvolve sua parte, através de saraus, lambes, zines e adesivos e outros diversos meios de divulgação. Tudo realizado pelas mãos dos próprios poetas, que agem, atualmente, nas mais diversas áreas artísticas. No grupo, o caráter experimental tem muito valor. Todos as cenas e projetos são elaborados em conjunto, transformando o fazer poético em um ato muito mais profundo e colaborativo
A partir desse mês, mais precisamente amanhã, dia 5 (domingo), ocorre a primeira edição do Festival Goiânia Clandestina, realizado com apoio da Secretaria de Cultura de Goiânia e prefeitura. A programação do evento se estende durante o segundo semestre do ano, com eixos temáticos para cada edição. O primeiro evento trata a chamada Poesia Marginal, que surgiu no Brasil no bojo da contracultura, através das pirações de poetas da década de 70 e 80. “O festival busca transmitir com novas linguagens a poesia, que até então é confinada ao papel, através de performances vocais e corporais, abordando temáticas relacionada a conflitos sociais e existenciais de nosso século. Para isso, contamos com poetas dessa nova geração da poesia goiana, que transferem a linguagem para os muros, o corpo e busca despertar novos sentidos para a compreensão do todo que a compõe”, diz o poeta e um dos organizadores do festival, Mazinho Souza.
Os eixos temáticos serão apresentados por um escritor-chave, que carrega dentro da sua escrita estes elementos. O convidado da edição de agosto é o escritor, produtor cultural e contista Marcelino Freire.
Além da participação de Marcelino, a primeira edição do festival também conta com um show do músico e compositor goiano Diego de Moraes, performances poéticas com os integrantes do selo Goiânia Clandestina e palco aberto para poesia, música, dança e demais expressões artísticas.
Marcelino Juvêncio Freire (1967) nasceu na cidade de Sertânia, em Pernambuco, no dia 20 de março de 1967. Dois anos depois sua família foi morar em Paulo Afonso, na Bahia, onde permaneceram durante seis anos. Em 1975 retornam para Pernambuco e se instalam na cidade do Recife. Em 2003 começou a coordenar oficinas de criação literária. Em 2004 organizou a antologia de micro contos Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século. Participou de várias antologias no Brasil e no exterior. Em 2005 publicou Contos Negreiros, que recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura, de 2006. Publicou Rasif – Mar Que Arrebenta (2006). Criou a “Balada Literária”, evento que, desde 2006, reúne escritores, nacionais e internacionais, no bairro paulistano da Vila Madalena.
5 DE AGOSTO – MARGINAL (TEATRO SONHUS)
Marcelino Freire: oficina e bate-papo sobre Quebras
Slam Clandestino
Eu & Ego (Diego de Moraes e Kleuber Garcez)
Walacy + poetas + performance
CONFIRA ABAIXO A ENTREVISTA COM O POETA PAULO MANOEL, DO SELO GOIÂNIA CLANDESTINA:
– Como e quando surgiu o selo literário Goiânia Clandestina? Havia algum intuito para a criação desse coletivo?
O Goiânia Clandestina surgiu, mesmo, há coisa de dois anos. O intuito era diminuir as distâncias entre os jovens poetas de Goiânia, ainda que fossem, e sejam até hoje, todos completamente distintos uns dos outros (ainda bem!), e aumentar os intercâmbios poéticos, de forma a fortalecer reciprocamente a poesia regional. Abraçar o coleguinha ao lado, auxiliar nas autopublicações e, lógico, ser lido. A vontade primal, inconsciente, sem dúvidas, era a de agrupar pessoas que precisavam ser lidas.
– Cada poeta é a voz de um mundo bem específico. Você consegue notar alguma relação entre os textos dos poetas goianos? Qual seria o tema principal tratado pela poesia contemporânea na capital do Estado?
Pessoalmente, não distinguo um tema principal tratado pela nossa poesia, a poesia goiana. Os poetas, não é de hoje, são muito diversos em personalidade e estilo, em qualquer lugar. Entendo como se cada um estivesse em um ponto diferente da sua própria caminhada. Existe, no entanto, um amor por Goiânia, afrontoso, que vira-e-mexe deixamos escapar, a exemplo do livreto Goiânia-véia Desvairada, que lancei junto a Mazinho Souza. Mas algo comum a todos, mesmo, somente a forma como, um dia ou ainda hoje, veiculamos nossa arte. Isto é, independentemente.
– O festival Goiânia Clandestina é dividido por temas. Como vocês encontraram estes temas? Quais as expectativas do festival?
Cada tema suscita, à sua maneira, certa urgência. Essa é a intersecção entre eles, como eles apareceram e onde mora a poesia. “Marginal”, o primeiro tema, urge porque precisamos compreender e, quem sabe, reeditar o legado da dita “poesia marginal” de forma honesta, proveitosa, deslumbrante. Os temas seguintes, “Diversidade”, “Feminista” e “Afro”, não precisa dizer muito, né? A urgência e o protagonismo acompanham essas três palavras, e queremos mostrar, explorar e abraçar a carga poética delas. As expectativas do festival são positivas e incontroláveis. Queremos, e temos certeza de que conseguiremos, marcar essas datas na vida de muitas pessoas.
– A primeira edição convida o escritor Marcelino Freire. De onde surgiu a ideia de convidá-lo para esta primeira edição?
Marcelino já esteve em Goiânia em outras oportunidades. Todos amamos o homem, porque é um escritor importante, grande, sem medo. Seus personagens, muitas vezes, estão à margem da sociedade, como a “poesia marginal” esteve à margem do mercado. Em síntese, Marcelino Freire tem tudo a ver com o primeiro encontro do Festival e será uma honra imensa tê-lo conosco.
– A poesia sempre foi vista como a prima pobre das artes. Como é ser um escritor da nova geração em Goiânia? Existe uma cena para a poesia na cidade?
Os desafios são constantes. A busca por espaço é constante. Algumas portas estão sempre fechadas, e você tem que abrir sua própria trilha. Mas existe, sem sombra de dúvidas, uma cena, e de qualidade. Temos poetas em ascensão incríveis, como Walacy Neto. Temos vários poetas fazendo fanzine atrás de fanzine, sem parar. Pessoas que são viciadas em poesia, que se entendem, via de regra, e se ajudam nessa caminhada. Temos feiras de publicações independentes ótimas, e espaços muito bons, que têm sido bem aproveitados. Sempre pode melhorar, é lógico, e Goiás ainda é, nestes meandros, relativamente pequeno. O caminho deve ser ascendente.
– Fale um pouco de você. Quais poetas você gosta de ler e quais você traz como referência? Como você divulga seus poemas?
Faço parte desses viciados em poesia. Tenho meu panteão de heróis e heroínas pessoais, que salvam qualquer dia. Manuel Bandeira, Hilda Hilst, José Paulo Paes. Tenho lido Afonso Felix de Sousa, grande poeta, daqui. É inevitável, e uma necessidade vital, ler a nossa galera, os poetas goianos de agora, como os que citei anteriormente. Costumo fazer livretos, os fanzines, de poesia. Já fiz lambe-lambes, com poemas mais curtos, de impacto. São formas muito boas e necessárias de fazer a coisa circular. Tenho algumas aventuras pelas colagens, também.
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