Geometria de Paris
Diário da Manhã
Publicado em 24 de janeiro de 2018 às 22:02 | Atualizado há 2 semanasA fama e o reconhecimento da obra de Robert Delaunay surge diante da reinvenção de estilos que ele propõe como artista, em meio ao fervente cenário intelectual da cidade de Paris no início do século XX. O pintor ficou bastante conhecido no período que antecede a Primeira Guerra Mundial, trazendo visões inéditas da cidade de Paris, mergulhadas em abstrações. Influenciado por vertentes artísticas como o cubismo e o fauvismo, e por textos de autoria de Paul Signac (um dos idealizadores do pontilhismo), dentre outros, Robert é considerado um dos ícones do ‘orfismo’, movimento artístico que amplifica a dimensão das formas e cores para transmitir um novo conceito.
Uma das frases mais célebres do autor, “eu jamais em minha vida vi uma linha reta”, ajuda a compreender sua forma de compreender e de expressar a arte. Delaunay foi criado por um tio em Paris, depois da separação dos pais. Aos dezoito anos já demonstrava confiança com pinturas impressionistas. Passou a ganhar notoriedade internacional no final da primeira década do século XX, quando passou a construir quadros abstracionistas.
Estabeleceu sua maneira particular de imprimir cores fortes em traços geométricos com pontos de vistas destorcidos de paisagens simbólicas da cidade de Paris. Robert compartilhava da mesma profissão de sua esposa Sônia. Os dois tornaram-se representantes de um movimento artístico chamado ‘orfismo’, uma vertente atualizada do cubismo que surgiu em 1912 na França.O movimento foi fundamental no processo de transição do cubismo para a arte abstrata.
AMPLITUDE
O termo ‘orfismo’ foi escrito pela primeira vez pelo poeta francês Guillaume Apolinaire, no intuito de atingir um significado que remete a ideia de amplitude, imprecisão, vaguidão. De certa forma, é como se a pintura ganhasse uma dimensão a mais. Sônia e Robert Delaunay são considerados pioneiros no estilo, ao lado do pintor checo František Kupka.
No ‘orfismo’, as formas e as cores são as responsáveis pelo conteúdo e pela mensagem dos artistas, dispensando informações visuais de significado concreto. O crítico de arte Carter B. Horsley traz uma crítica dos retratos parisienses de Robert Delaunay , evidenciando o protagonismo de Paris como polo de produção intelectual no início do século XX, sendo o pintor em questão um dos nomes mais estrelados do cenário artístico do momento.
Em resenha especial da série ‘Visões de Paris’ para o site The City Review, Horsley exalta o lirismo presente nos retratos parisienses do pintor Robert Delaunay. Sua descrição contextualiza a importância da Torre Eifel como ícone da cultura urbana e das intenções metropolitanas do homem diante da natureza. “Apesar de a Torre Eiffel já ter sido substituída do posto de maior estrutura do mundo há muito tempo, ela permanece como símbolo essencial do urbano, a representação máxima da construção e da encorporação da escalada de uma cidade aspirante”, informa o autor. O crítico encaixa Delaunay no posto de renovador de conceitos envolvendo o imaginário popular da Torre, destacando sua pintura ‘A torre vermelha’, de 1911 como uma das mais emblemáticas peças do artista.
A TORRE E A GUERRA
Dentro do emaranhado conceitual que gira em torno da Torre Eiffel, Delaunay, segundo Horsley, contribui com uma visão expressiva do império de concreto construído pelas civilizações modernas. “As descrições de Delaunay sobre a fábula Torre são terrivelmente exitantes, e evocam uma ruptura vertiginosa com as dinâmicas da arquitetura e do espaço construído pelo homem”. O primor estético dos traços executados pelo pintor também são lembrados pelo autor da resenha. “Elas são, talvez, a mais bela expressão da visão cubista”, conclui. O contraste simultâneo de cores em um mesmo quadro também é uma característica observável dos quadros de Delaunay durante o período em que ficou famoso: os anos que antecederam a Primeira Guerra Mundia.
No momento da deflagração da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Robert e Sônia Delaunay encontravam-se de férias na casa de amigos espanhóis. Decidiram não retornar para a França, e estabeleceram-se em Vila do Conde, no norte de Portugal, levando com eles o filho Charles. Em terras portuguesas, o casal passou a ter contato com artistas locais, como Amadeu de Souza-Cardoso e Almada Negreiros. A luz portuguesa impressionava o casal, incentivando os Delaunay a desenvolverem teorias sobre o contraste simultâneo de cores. Voltaram a Paris onde permaneceram até o início da Segunda Guerra Mundial. Nesse período, Delaunay descobriu um câncer, que causou sua morte aos 56 anos em outubro de 1941.
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