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Goiânia noir

Diário da Manhã

Publicado em 3 de maio de 2018 às 22:10 | Atualizado há 2 semanas

Com lançamento previsto para o próximo dia 12 (sá­bado), a coleção de contos Cidade Sombria, organizada pelo jornalista, roteirista e professor uni­versitário Adérito Schneider, traz vi­sões sórdidas daquilo que acontece nas estranhas do desplanejamento da cidade planejada. São 28 leituras inéditas que juntas ajudam a traçar o lado sombrio de Goiânia – cidade iniciada na década de 1930, com a missão de trazer modernidade e desenvolvimento para o Estado de Goiás, e que continua se alastran­do em todas as direções. O projeto teve início em 2014, e agrega, além de veteranos da literatura goiana (como Bariani Ortencio, Edival Lourenço, Heleno Godoy, Miguel Jorge), nomes de destaque das no­vas gerações (Jarleo Barbosa, Rafael Saddi, Pablo Kossa, entre outros).

A ideia desta antologia, que reú­ne os indícios de uma Goiânia lado B, é amplificar o imaginário literá­rio que envolve a cidade. “A atmos­fera sombria dá o tom de Goiânia, mesmo quando o sol está rachan­do e o termômetro marca seus 30 e tantos ou 40 graus. Nesta cidade planejada, as coisas nem sempre saem como a gente gostaria. E se a metrópole até tem seu charme e seu encanto, há também uma en­xurrada de sordidez que não pode ser varrida para debaixo do con­creto”, anuncia o material de di­vulgação do lançamento, que será realizado na Livraria Palavrear, a partir das 17h. Os 28 contos que compõem Cidade Sombria apro­priam-se da literatura policial. Para complementar a atmosfera som­bria das histórias, o livro traz ilus­trações de Júlio Shimamoto, reno­mado desenhista brasileiro.

De acordo com os organi­zadores do lançamento, Cida­de Sombria é uma proposta de apropriação literária dos lugares e peculiaridades de Goiânia. Lu­gares estes que estão marcados na história de muitas pessoas que viveram e vivem por aqui. “Nin­guém pode falar que ama ou odeia uma cidade sem encará-la no fundo dos olhos. Viver uma ci­dade é deparar-se com o que há de melhor e pior nela; é experi­mentá-la e enfrentá-la diariamen­te, de diversas formas”.

Os autores envolvidos na cria­ção deste documento literário presenciaram as reconfigurações contínuas da cidade em diferen­tes gerações: Adele Lazarin, Ade­mir Luiz, André de Leones, Baria­ni Ortencio, Edem Ortegal, Edival Lourenço, Eugênia Fraietta, Fer­nanda Marra, Heleno Godoy, Ja­messon Buarque, Jarleo Barbosa, Ludielma Laurentino, Luis Mal­donalle, Luiz Fafau, Marcelo Fer­raz de Paula, Márcia Deretti, Már­cio Jr., Miguel Jorge, Pablo Kossa, Pedro Novaes, Rafael Saddi, Thiago Camargo, Valdivino Braz e Adérito Schneider, idealizador do projeto.

No mês passado, o evento li­terário Cidade Sombria: Goiânia e Literatura Noir, na Vila Cultu­ral Cora Coralina, foi uma prévia do lançamento do livro, e recebeu os escritores Flávio Carneiro (RJ) e Paulo Scott (RS), referências do noir brasileiro, para discutir e am­plificar o conceito de noir na litera­tura. Também foi aberto um con­curso para receber propostas de noir de novos escritores de Goiás.

TRADIÇÃO

Conhecido pelas narrativas en­trelaçadas por mistério e suspense, o romance policial abocanha uma parcela considerável dos leitores de ficção ao redor do mundo. De acor­do com Adérito Schneider, a cidade de Goiânia tem um papel de desta­que no desenvolvimento do gêne­ro no Brasil. “Pouca gente sabe, mas o fato é que Goiânia é uma cidade importante para a tradição da lite­ratura policial no Brasil e, especial­mente, para o subgênero noir”, ex­plica o organizador do livro.

A história do noir brasileiro teve início no fim dos anos 1960, quando o livro Parada Proibida foi publica­do. “A obra literária, que é conside­rada o primeiro romance noir brasi­leiro, foi publicada na capital goiana quando Ascendino de Souza Fer­reira Filho, jornalista radicado aqui, sob pseudônimo de Carlos de Sou­za, lançou, em 1972, Parada Proibi­da, pela extinta editora goianiense Oriente”, conta Schneider.

Publicado há quase 50 anos, ainda é um livro pouco acessível aos goianienses, pois não existem reedições. “Então repórter poli­cial, Carlos de Souza ambientou em Goiânia sua narrativa, escrita em 1967 e publicada apenas cinco anos depois”. O romance, de pouco menos de 160 páginas, é bastante raro de ser encontrado, e faz parte do acervo de importantes biblio­tecas, como a da Universidade de Texas e a Biblioteca Nacional da Espanha. O livro está há anos es­gotado e é uma raridade (apenas alguns exemplares circulam por aí, em sebos e nas mãos de coleciona­dores). Portanto, não é de hoje que Goiânia é uma cidade sombria em páginas literárias”

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