Hannah Arendt: pensamento, persuasão e poder”
Redação
Publicado em 25 de maio de 2018 às 00:13 | Atualizado há 7 anosO século XX deve a Hannah Arendt um esforço extraordinário, o de uma reflexão em que a esperança é possível, ainda que inserida num mundo em crise: abalado pelo triunfo do homo laborans, um mundo marcado por uma ruptura sem precedentes, capaz de deixar-nos semparadigmas e, por issomesmo, sujeito a experimentos de toda sorte, em que tudo é tecnicamente realizável. Uma reflexão, porém, não conservadora, em que a autoridade da tradição é retomada em face dos desafios do futuro.
Num quadro de destruição, trata-se de um pensamento de reconstrução, que não se fundamenta (nem poderia fundar-se) em ideologias, opiniões públicas ou “convicções”, mas tem por cerne a capacidade de pensar por si mesmo (o Selbstdenken de Lessing), cujo exercício trazoriscodastentaçõesinerentesaoniilismo, mastambémdos otimismos fáceis, queArendt superadeummodocompetentee original. Seupensamentosingular faz dela uma intelectual impossível de ser reduzida a correntes e teorias, mas, ao mesmo tempo, marcadapelaobstinação de pensar as perplexidades de seu tempo de forma universal.
Nesse jogo arendtiano entre a liberdade do pensar e a inserção do pensamento nos vínculos da filosofia ocidental, coloca-se este livrode Celso Lafer, sendo, simultaneamente, uma apresentação, uma interpretação e uma reflexão.
É nessa linha, portanto, que os textos deste livro, elaborados no correr das décadas, são trazidos ao público por Celso Lafer, possivelmente um dos poucos discípulos da grande pensadora que tiveram tanto a experiência da vitacontemplativado acadêmico quanto a da vita activa no espaço público da palavra e daação. Pelapersistenteirradiação do pensamento de Hannah Arendt, ele leva ao leitor de nosso tempo uma mensagem de reflexão, capaz de iluminar as perspectivas que se abrem para aanálisedapolíticanarealidade em que vivemos.
A segunda edição de Hannah Arendt: Pensamento, persuasão e poder, de 2003, incorporava à primeira – datada de 1979 – cinco textos elaborados posteriormente. Por tratar-se de uma obra que conjuga a fiel e respeitosa compreensão de um discípulo de Arendt com sua própria experiência em relação a ela, esta terceira edição ampliaconsideravelmenteaanterior, incorporando-lhedeznovos textos. Não só, porém, pois o livro está agora organizado de maneira mais sistematizada, levandoemcontaasequência dos temas tratados e os nexos que os aproximam. O que faz desta uma obra que se perpetua.
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