Lembre-se dela
Diário da Manhã
Publicado em 5 de dezembro de 2017 às 01:04 | Atualizado há 2 semanasUm dos riscos que pedem mais atenção é a doença de Alzheimer, que cresce e afeta 7,2% da população idosa. Já se fala em uma epidemia anunciada
Uma professora referência mundial em linguística, seu nome é Alice, está proferindo uma palestra na academia. De repente, eis que vem um pequeno branco. Depois disso, esquecimentos de palavras e nomes se tornam recorrentes, mas foi só após se perder ao voltar para casa após uma corrida, que a faz procurar um médico. O diagnóstico não poderia ser pior para uma pesquisadora da língua: Alice está com doença de Alzheimer (DA). Depois disso, o longa se torna uma sequência emocionante e perturbadora da degradação de tudo o que a personagem conquistou ao longo da vida: conhecimento, carreira, família, relacionamento, vida social e, por fim, a debilitação física e o isolamento quase completo.
Esta é a triste história do filme Para Sempre Alice (2005), estrelado por Julianne Moore (que ganhou Oscar de melhor atriz pelo longa), mas é o drama real vivido por milhões de famílias em todo o mundo. No Brasil, o Alzheimer já atinge 1.2 milhão de pessoas, de acordo com a Academia Brasileira de Alzheimer e, segundo a Academia Brasileira de Neurologia (ABN), afeta 7,2% da população idosa. É ainda a principal causa de demência na terceira idade, responsável por 60% e 70% dos casos, conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Combinado ao fato de que a população brasileira está envelhecendo, devido ao aumento da expectativa de vida – que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) passou de 45,5 anos para 75,5 anos, um aumento de 30 anos, a tendência é que o número de portadores da doença aumentem. Em pleno avanço é perigoso que se torne uma epidemia. E aí vem uma questão: o País está preparado a lidar com o Alzheimer? Sabe-se o que e como identificar seus sintomas? Família e cuidadores estão conscientes a respeito de suas peculiaridades? Chegou o momento de pensar nisso.
PREVENÇÃO
Atualmente sem cura, a DA trata-se de uma doença degenerativa do cérebro, decorrente do acúmulo de proteínas, como o amiloide beta e a proteína tau, que formam aglomerados proteicos tóxicos para as células cerebrais, ocasionando sua morte. Causa impacto na memória, linguagem, orientação, compreensão e pensamento. No início, algumas áreas são atingidas e num período de 10 anos todo cérebro é acometido pela patologia. Além disso, pode ocorrer degradação do controle emocional e social.
O diagnóstico da Alzheimer requer a realização de testes sanguíneos para afastar outras possíveis causas de comprometimento cognitivo, como infecções e distúrbios de tireoide. Também são obrigatórios exames de imagem, como tomografia e ressonância magnética e, se necessário, a análise do líquor, extraído da coluna em uma punção.
E uma das principais preocupações da Academia Brasileira de Neurologia atualmente é exatamente conscientizar sobre a importância da detecção precoce da patologia. Ou seja, a qualquer sinal de enfraquecimento da memória deve-se procurar um especialista. Pois, de acordo com o neurologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, um dos sinais mais comuns do Alzheimer é a perda da memória recente, na qual o indivíduo tem dificuldade de guardar fatos ocorridos no dia a dia, porém episódios do passado algumas vezes são preservados.
“A doença possui três fases: leve, moderada e grave e existem situações em que o paciente esquece o nome de pessoas, objetos, palavras e, dependendo do estágio que se encontre, há uma mudança de comportamento mais acentuada com sinais de depressão, apatia e agressividade. A demência causada pelo Alzheimer tem consequências no físico, psicológico e social do indivíduo”, esclarece Caramelli.
Com foco na prevenção, em setembro – Mês Mundial da Doença de Alzheimer –, a Academia Brasileira de Alzheimer aderiu à campanha mundial “Lembre-se de mim” (Remember Me, na versão original). O tema foi escolhido porque menos de 50% dos portadores de Alzheimer são diagnosticados e têm acesso aos tratamentos disponíveis.
“Pessoas diagnosticadas na fase inicial da doença são capazes de tomar decisões de vida, inclusive para realizar sonhos que ficaram no passado”, disse o neurologista Roger Taussig Soares para entrevista à Academia Brasileira de Neurologia.
NOVIDADE TRATAMENTOS
Outro desafio da doença é a falta de novidades em relação a tratamentos. Lançado há 15 anos, um dos últimos medicamentos aprovados foi a Memantina, que recentemente chegou ao Brasil sua versão em gotas, um avanço, já que ajuda os pacientes com dificuldades de deglutição, favorecendo a adesão ao tratamento.
Recentemente um estudo clínico realizado na Europa também mostrou que o composto nutricional Souvenaid pode trazer benefícios na fase inicial da patologia. Apesar de não ter apontado melhorias na atenção, planejamento e capacidade de mudança de estratégia, trouxe bons resultados em testes cognitivos e de memória.
APOIO FAMILIAR
Vale lembrar que no início do Alzheimer, apenas algumas áreas são atingidas, mas num período de 10 anos, a doença contagia todo cérebro. A degradação não é só física, como perde-se o do controle emocional e social. Com o avançar do Alzheimer, o paciente torna-se cada vez mais dependente de cuidadores e familiares, tendo a necessidade de estar sempre acompanhado em sua rotina diária. Ao fazer refeições, na realização da higiene pessoal e nos momentos de lazer, sempre deve ter alguém próximo para auxiliar.
Por este motivo, Caramelli explica que familiares e cuidadores devem procurar buscar sempre conhecimento de como lidar com a patologia. “Para todos, é necessário que haja paciência, dedicação e amor. Estimular a conversa, a realização de jogos de memória e a interação diária são fundamentais para o bem viver. O esforço coletivo é a maneira mais adequada para possibilitar uma melhor qualidade de vida para esses pacientes”, aconselha.
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