Manifestação do alegre
Diário da Manhã
Publicado em 23 de maio de 2018 às 22:32 | Atualizado há 4 semanas“Amar em tempos de ódio é mesmo um ato revolucionário”. Certeira é esta afirmação de George Orwell, retirada do livro “1984”, para a sociedade atual. A revolução não se faz de corpos acomodados dentro do que lhe é oferecido. É como uma fagulha que sobrevive, insistente, e apresenta aos olhos dos outros uma chama de possibilidade. No contexto atual, onde eclodem guerras e a desigualdade social parece ser desimportante, o cidadão, condicionada ao trabalho, comete um ato de contestação quando simplesmente se diverte. Neste contexto, onde o trabalho é dito como o único caminho para a existência, é extremamente relevante quando alguém encontra uma outra opção, uma porta para outro destino, pois um bloco sempre puxa o outro, um sorriso sempre leva à outro, e, ao final, coisas importantes não parecem ter tanta urgência.
Os pequenos atos, como dar uma carona ou ouvir uma pessoa, são também atos de revolução, aqui onde a informação constante nos mostra cada vez menores. A Galhofada, realizada há 15 anos na Oficina Cultural Geppetto, é uma junção de pequenos atos e por isto um indício de como sobrevive a cultura contemporânea. Galhofada vem da palavra, “galhofa”, que significa manifestação alegre, ruidosa ou zombaria explícita. Realizado de maneira colaborativa, o evento é possível graças ao empenho de produtores e artistas de Goiânia, que somam, pedacinho a pedacinho, até montar uma programação viva. “A solidariedade, o compromisso, o profissionalismo, a competência, a fibra, o carinho e a disposição de toda uma população, de fazedores e consumidores de cultural, prontos para trocar de papel a qualquer instante, pode ser medida nestas 15 Galhofadas”, conta o coordenador do festival e responsável pelo espaço cultural onde é realizada, Marcos Lotufo.
“A primeira edição aconteceu em 2004 e foi uma Pequena Mostra de Teatro na Rua”, diz o coordenador do evento, Marcos Lotufo
Esse formato de criação coletiva é o que cria um ambiente ainda mais leve, pois o diálogo parece ser feito sem restrições ou nomeações, sendo o público e o produtor um só. Nada mais justo, tendo em vista as características apresentadas, que a Galhofada tenha como um dos palcos principais a rua. “A primeira aconteceu em 2004 e foi uma Pequena Mostra de Teatro na Rua. Não tinha número. Não foi a Primeira, porque foi feita para ser a única. Não deu. A experiência foi tão rica, tão gostosa, que não pudemos resistir. Venho a segunda, a Terceira e agora a 15ª .Para explicar o que é, não tem jeito… só mesmo participando.”, afirma Lotufo.
PEQUENA MOSTRA
Resumidamente, e pelas palavras do coordenador do evento, a Galhofada se resume em “uma pequena mostra de artes de rua, criada e organizada por artistas e produtores culturais de Goiânia e cidades vizinhas”. O evento, desta forma, é também um local de formação para agentes da área cultural. Além disto, promove uma série de oficinas abertas ao público, permitindo que estes ocupem os espaços da programação do ano seguinte. As oficinas acontecem no sábado, 26, das 9h às 12 horas. Para participar das aulas, basta se inscrever no próprio dia e local, ou pelo telefone: 3241 18 47(Geppetto).
Entre as oficinas estão, Malabares, com o Circo Lahetô; Pirofagia; Teatro Prático, com o Instituto Hélio e Maria Auxiliadora; Escultura com balão tripa; Da voz falada e cantada, com a mexicana Patrícia Ordaz; Pintura de “Gelateraturas”, com Radarani Oliveira; Brincadeiras Tradicionais de Rua, com a Radarani Oliveira; Jogos, Música e Percussão Corporal; com Griff Roney; Teatro de formas animadas, com Marcos Marrom; AfroAfetos, com Grupo de Ativismo Goiânia – Anistia Internacional; Confecção de brinquedos para gatos, com LAFEL; Confecção de brinquedos, com o Seu Divino.
MANIFESTAÇÃO ALEGRE
A programação deste ano também inclui a apresentação de artistas e grupos de música, teatro e performance. Todos se apresentam de forma voluntária. Entre eles estão o Passarinhos do Cerrado, Claudia Garcia, Circo Itinerante Chocozuela, Família Colombo Argento, Palhaço Beterraba, Xiru e Liru, Isabela Lellis, Patrícia Ordaz, Radarani, Griff Roney, Lafel UFG, Josy Vieira, Gamelin Malabares, Palhaço Physquila, Mel Gonçalves, Grupo de Ativismo Goiânia – Anistia Internacional, Instituto Hélio e Maria Auxiliadora, Cia Teatro Do Maleiro, Circo Lahetô, Grupo Por Quá?, Teatro del Camino, Grupo In Bust de Teatro de Animação (Belém do Pará), Grupo Caboclinho, Tiago Verano, Seu Divino, Grupo Imagem, Grupo Contemporâneo de Dança, Juliana Pimentel, Lendas Cantadas, Chico Aafa e Felipe Valoz, Duo Sankara e Camerata Caipira.
15 ANOS
O coordenador da Galhofada, Marcos Lotufo, relembra um pouco da trajetória do evento, desde a primeira edição, que foi organizada no ano de 2004. Desde a primeira edição, o evento já demonstrou que poderia se tornar um marco na agenda cultural de Goiânia e uma novidade importante para a região do Setor Pedro Ludovico. “Nestas condições, decidiu-se que ‘galhofar era preciso”, conta Lotufo. Já na primeira edição, com dois dias de evento, a ideia de “teatro de rua” estava presente, sendo realizadas peças teatrais nas proximidades da Geppetto.
Na segunda edição, realizada em 2005, o evento já contava com o apoio da comunidade local e estendeu a programação por mais um dia. Em 2006 foi a própria comunidade do bairro que buscou a Oficina Cultural Geppetto para que a Mostra tivesse prosseguimento. Com isto as aulas foram intensificadas e formou-se um elo entre a Galhofada e os moradores do bairro.
Em 2007, com ainda mais grupos participando e mais artistas construindo juntos o evento, a Galhofada se instaurou como acontecimento cultural da cidade.“O que recebemos em troca deste trabalho é a certeza de que estamos cumprindo um papel importante em nossa sociedade, levando arte e cultura para toda a cidade e, com isso, alavancamos o nosso trabalho, formando público e contribuindo para que estas pessoas reconheçam o artista como um profissional… sem falar que estamos formando uma parceria muito importante com outros grupos, artistas e produtores que também são voluntários.” afirmou o ator e diretor Hélio Fróes, da Cia de Teatro Nu Escuro, durante a edição de 2007
VAQUINHA CULTURAL
A Galhofada, como afirma o coordenador e os artistas que agregam a programação, não tem fins lucrativos. Desta forma, consegue sobreviver graças ao empenho e comprometimento da população e artistas. Assim foi criado o projeto de captação pelo site Vakinha Virtual. O objetivo do financiamento público é pagar pequenas despesas que surgem durante a construção do festival, como por exemplo, alimentação, transporte, aparelhagem de som e luz e outros. Quem quiser contribuir com a Galhofada e com a continuidade do espaço Oficina Cultural Geppetto é só entrar no site www.vakinha.com. br e buscar a sessão da Galhofada.
15ª GALHOFADA – PEQUENA MOSTRA INTERNACIONAL DE ARTE DE RUA
Onde: Ilha da Galhofa (Alameda Henrique Silva, Setor Pedro Ludovico)
Datas e horários
Sexta – das 17 às 21h
Sábado – das 08 às 21h
Domingo – das 10:30 às 21h
Entrada Franca
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