Memórias de rua
Diário da Manhã
Publicado em 2 de dezembro de 2017 às 00:32 | Atualizado há 2 semanas“Poética e icônica” – com essas palavras a escritora Narcisa Abreu Cordeiro descreve a Alameda dos Buritis, via que margeia o Bosque com mesmo nome e divide os setores Central e Oeste, sublinhando a cor verde que caracteriza várias ruas de Goiânia, uma das cidades mais arborizadas do mundo. A arquiteta é coautora do livro Alameda dos Buritis – Moradores Pioneiros nas décadas de 1940 e 1950, a ser lançado no próximo dia 5, terça-feira, às 19h30, na sede da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás (Aflag – Rua 132-C nº 114, Setor Sul). Ela divide a autoria com o desembargador aposentado Rogério Arédio Ferreira. Ambos compartilharam da Alameda como cenário da juventude e contam conhecer cada detalhe da região.
Segundo a presidente da Aflag, Alba Lucinia Dayrell, o lançamento deste livro faz parte de um projeto que pretende incentivar escritores a reviver, recriar e materializar em texto a história de várias ruas importantes da nossa Capital. “O projeto, capitaneado pela Aflag, vai, segundo sua presidente, apoiar outros escritores que desejam contar como eram as ruas históricas da capital, a começar por ela própria, que pretende eternizar os antigos moradores da Rua 23, no Centro”, contam os organizadores. A iniciativa deixa para as futuras gerações um documento importante para o resgate da memória da cidade, que cada vez mais recebe novos moradores, e tem um dos maiores índices de crescimento populacional do País.
Os autores tiveram ajuda de vários outros personagens na reconstrução escrita das primeiras décadas da Alameda, de acordo com os organizadores do lançamento. “Narcisa credita muito do que está no livro às suas conversas com a vizinha Marisa Lobo, ‘de fantástica memória’”. As mudanças estruturais que aconteceram ao longo do tempo, e ambientes que hoje já não existem, também fazem parte da narrativa do livro. “Um capítulo está dedicado ao Abrigo Cristo Redentor, que ficava onde hoje está construído o Tribunal de Justiça do Estado. Um dos fatos curiosos que se percebe na leitura é a grande quantidade de intelectuais e construtores que povoavam a Alameda no início da nova capital.”
Várias figuras importantes no processo de construção da nova capital também têm seus perfis traçados pelos autores. Vários urbanistas compunham a cena da Alameda nas primeiras décadas de Goiânia. “Destaque para os alemães: o professor Fritz Koeller, que era conhecido por suas virtudes, mas também por ter sido colega de estudos de Albert Einstein, e os urbanistas Ewald Janssen e Sollenberg Werner, que projetaram vários setores goianienses. Também na área de construção civil, ali morava o cartógrafo Pedro Ozório, figura importante na construção de Goiânia.”
Também havia muitos representantes das letras, como explicam os organizadores. “Dentre os intelectuais, estavam a consagrada artista plástica Maria Pacheco, os acadêmicos Eli Brasiliense, Mário Rizério Leite e José Xavier de Almeida Júnior. Este último trouxe para Goiânia o Congresso Internacional de Escritores, em 1954, com a rara presença do chileno Pablo Neruda, que anos depois ganharia o Prêmio Nobel de Literatura.”
BOSQUE DOS BURITIS
De acordo com a pesquisadora e mestre em Projeto e Cidades Helloá Vicente Fernandes Rocha, o bosque é uma das concepções mais antigas do projeto inicial de Goiânia. No texto Arquitetura residencial verticalizada e paisagem de Goiânia, disponibilizado no site da Biblioteca Central da UFG, a autora retoma importantes características da região. “Situado no Centro da cidade, na Alameda dos Buritis, Avenida Assis Chateaubriand com Rua 1, no Setor Oeste, o Bosque dos Buritis é o patrimônio paisagístico mais antigo da capital, estando presente desde o início da concepção do Plano Original de Goiânia, em 1933.” O Museu de Arte de Goiânia, o Centro Livre de Artes e a Assembleia Legislativa situam-se no Bosque.
A autora cita ainda uma pesquisa de 2005 do IBGE, que, com dados históricos, desenha as primeiras concepções do urbanista Attílio Corrêa Lima sobre o Bosque. “O Buritizal, situado entre as Rua 72 e Alameda dos Buritis, será transformado em pequeno parque. É necessário drená-lo convenientemente, conduzindo as águas pelo talweg, em canal descoberto, tirando partido deste para os efeitos de cascata e um grande lago recreativo.” Helloá Vicente revela em sua pesquisa que o espaço destinado ao bosque foi drasticamente reduzido ao longo dos anos. “O bosque teve sua área reduzida em cerca de 70%, e o que restou corresponde à área atual do bosque. Essa diminuição ocorreu após a elaboração e implantação do Setor Oeste e posteriormente do Setor Marista.”
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