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Menina: quando o destino traz união em tempos de guerra

Redação

Publicado em 1 de agosto de 2018 às 21:52 | Atualizado há 6 anos

Com edição esgotada, Me­nina, obra do jornalista e escritor Paulo Stucchi, é relançada pela Amazon Bra­sil. No romance ambientado durante a Guerra do Paraguai, 1864-1870, o autor relata o con­flito disseminado pela Tríplice Aliança formada por Brasil, Ar­gentina e Uruguai contra o go­verno expansionista e militaris­ta de Francisco Solano López.

Com intensa narrativa e cons­trução de personagens, Stucchi traduz de maneira ímpar o amor e amizade entre Negro João, sol­dado desertor do exército impe­rial do Brasil, e María, menina ín­dia paraguaia que dá título à obra. A comunicação entre os dois é ba­seada em olhares e gestos – recur­so utilizado pelo autor para dimi­nuir a barreira entre as línguas.

“Os homens que amavam podiam falar, não somente pelo coração, mas pela energia que transborda através do amor.”

Depois de ser enviado à Guer­ra, João almeja a alforria ao tér­mino do conflito. No entanto, o destino o leva a outra missão ao conhecer María, única sobrevi­vente de sua família que morava no interior paraguaio devastado pela guerra. Por sua vez, a me­nina guarani sonha em concre­tizar o desejo de sua mãe quan­do viva: chegar a Assunção, e, ali, recomeçar sua vida.

Entre relatos de cólera, fome e medo, o autor mescla confli­tos internos e interesses políticos à honra; e a esperança e reden­ção aos dois pilares essenciais na formação do Brasil e Paraguai: o negro e o índio guarani.

A trama levou 12 anos para ser construída e possui profun­da pesquisa do autor sobre fatos históricos importantes, como a narrativa da Batalha de Acosta Ñu. Também conhecida como Batalha de Los Niños ou Cam­po Grande, o conflito foi uma das últimas tentativas de resis­tência dos guaranis em blindar a fuga de Solano López para o in­terior do Paraguai. A data de 16 de agosto de 1869 ficou marcada como o mais sangrento infanti­cídio da historia sul-americana.

O Dia das Crianças no Paraguai foi proclamado na mesma data como homenagem às vitimas.

MASSACRE

“No es necesário decir que te­nemos aqui a unos cinco o seis mil valientes soldados que espe­ran el ataque contra el enemigo en un número mucho mayor que la invasión de nuestra tierra. Sin embargo, también es necesário recordar la valentia del soldado Paraguayo. La valentia de todos los hombres de esta tierra que es­tán dispuestos a morir antes de entregar nuestro país a los veci­nos gigantes que se vem a noso­tros como buitres”.

Historiadores estimam que cerca de 20 mil soldados alia­dos lutaram contra seis mil paraguaios, boa parte adoles­centes e crianças, durante a Batalha de Acosta Ñu, região hoje próxima San Bernardino, no Departamento de Cordi­lheiras. O alistamento de me­ninos tornou-se uma realidade no ano final da guerra devido à escassez de homens aptos a lu­tar no exército paraguaio.

O livro também destaca a figu­ra feminina paraguaia e seu exí­mio desempenho no papel pós­-guerra, e o papel do negro no Exército Imperial do Brasil e na sociedade do século 19.

Enfim, Menina traz ao leitor um romance com fatos histó­ricos e descrições de episódios reais. Uma leitura intensa, pro­vocadora, que traz reflexões so­bre o quanto a guerra pode afetar o destino das pessoas e destruir sonhos, mas, também, aflorar o que existe de mais humano em todos nós: o desejo de proteger a vida, e de recomeçar uma nova realidade, em paz.

SOBRE O AUTOR

Paulo Stucchi é psicanalista e jornalista. Atuou como reda­tor, jornalista responsável e edi­tor em jornais impressos e re­vistas. Também foi professor e coordenador de curso de Co­municação. Atualmente, divi­de seu tempo entre o trabalho como assessor de imprensa e sua paixão pela Literatura, His­tória e Psicanálise.

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