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O feminismo e luta inquietantes de Patrícia Galvão

Diário da Manhã

Publicado em 26 de dezembro de 2017 às 01:21 | Atualizado há 2 semanas

“Sou mais macho que muito homem. Sou rainha do meu tan­que. Sou Pagu, indignada no pa­lanque” este é um trecho da mú­sica Pagu de Rita Lee, referência a uma das mulheres precursoras do feminismo brasileiro, Patrí­cia Galvão. Figura que tornou-se símbolo da força e luta pela liber­dade da mulher trabalhadora.

Patrícia Galvão, ou Pagu, sem­pre foi dada a “extravagâncias” de acordo com o padrão de com­portamento das mulheres de seu tempo. Militante comunista foi a primeira presa política do Brasil. Quando foi libertada da prisão, o Partido Comunista Brasileiro, ao qual era filiada, fez com que ela assinasse um documento. Nes­te papel ela era obrigada a se de­clarar uma “agitadora individual, sensacionalista e inexperiente”.

Pagu era uma “agitadora” a nível internacional e foi pre­sa e quase mandada a morte em 1935. El uma de suas viagens Fi­liou-se ao Partido Comunista francês, pra onde foi para fazer cursos na Universidade Sorbon­ne, em Paris. Foi então presa como militante comunista es­trangeira. Na iminência de ser deportada para a Alemanha na­zista, o embaixador brasileiro Souza Dantas conseguiu man­dá-la de volta ao Brasil.

Pagu e o feminismo classista

Pagu defendia a revolução so­cialista e lutava pela melhoria das condições de vida do proletaria­do feminino Ela então usava sua coluna “A mulher do Povo”, pu­blicada no jornal paulista de es­querda “O Homem do Povo”, a favor da mulher operária e da sua liberdade de expressão.

Pagu em seus textos jornalísti­cos já criticava o feminismo que só incluía as “mulheres cultas” isso na década de 30. Em seus tex­tos ela criticava a linha classista da luta da mulher. Em artigo es­crito para o jornal O Homem do Povo, em sua sua coluna, ela diz: “uma elitezinha de “João Pessoa” que, sustentada pelo nome de vanguardistas e feministas, ber­ra a favor da liberdade sexual, da maternidade consciente, do di­reito do voto para “mulheres cul­tas”, achando que a orientação do velho Maltus resolve todos os problemas do mundo”.

No texto que inclui esse trecho ela criticava pessoalmente Ma­ria Lacerda de Moura, militan­te que agia no feminismo anar­quista. As críticas dela eram por conta das campanhas lideradas por Maria Lacerda e seguida por outras anarquistas em prol da libertação sexual e maternida­de consciente. Pagu considerava que havia questões mais emer­genciais a serem tratadas, como a pobreza e a exploração de clas­se das mulheres.

No jornalismo ela ainda tra­balhou nos jornais cariocas “A Manhã”, “O Jornal”, e nos pau­listanos “A Noite” e “Diário de São Paulo”. Sob o pseudônimo de King Shelter, escreveu contos de suspense para a revista “De­tetive”, dirigida pelo dramaturgo Nelson Rodrigues.

Companheiros de vida e luta

Um dos casamentos de Pagu foi com Oswald de Andra­de. Um filho abastado da bur­guesia brasileira do fim do sécu­lo XIX. Ele acabou por se tornar um jornalista e escritor irreve­rente e combativo ao lado de sua companheira Patrícia Galvão. Oswald escreveu dois manifes­tos, o da “Poesia Pau-Brasil” e o “Antropófago”. Além desses con­ceitos culturais escreveu poemas e peças de teatro.

Na companhia de Oswald, Pagu construiu alguns fru­tos, como as publicações subversivas do jornal O Ho­mem do Povo. Periódico cria­do pelo casal para expressar suas ideias revolucionárias, mas que teve apenas oito edi­ções por conta de seu conteú­do. Geraram também, os dois revolucionários, um filho cha­mado Rudá de Andrade.

Depois de suas prisões e to­das as outras intempéries por que passou, Pagu desligou-se do Partido Comunista. Deixou Oswald, quando foi repatriada após sua prisão na França. Ela então casou-se com o jornalis­ta Geraldo Ferraz com quem teve seu segundo filho, deixou de lado um pouco a militância de esquerda e dedicou-se mais a sua atividade como jornalis­ta, escrevendo críticas literá­rias e de teatro.

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