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O olhar esperto – e eclético – da música

Diário da Manhã

Publicado em 23 de março de 2018 às 23:53 | Atualizado há 2 semanas

  •  A presença do “veinho” abrasileirou ainda mais o rock feito aqui. Logo, não há espaço para tristeza: sua presença foi eternizada em discos lendários dos Raimundos, Mundo Livre S/A e dos goianos da MQN e Hellbenders
  • Nesta quinta-feira (22) dei­xou a vida um cara que não vendeu milhões de cópias com sua banda. Contudo, estava por trás de grandes sucessos. Sua carreira foi indispensável à músi­ca brasileira, principalmente ao rock nacional. Assim fez o produ­tor musical Carlos Eduardo, mais conhecido como Miranda. Popu­lar por suas atuações como jurado em programas de calouros, o mais famoso deles foi o reality musical Ídolos – exibido no SBT em que fez participações em 2006 e 2007 –, o gaúcho se foi aos 56 anos, ainda guardando ares de jovem. Como legado ficará conhecido em tra­zer ao cenário bandas importantes fora do eixo Rio-São Paulo, a exem­plo de Raimundos (de Brasília), Skank (Belo Horizonte) e Mundo Livre S/A (Brasília).

    Miranda sofreu fortes dores na cabeça em sua casa, em São Paulo, no início da noite de quinta-feira, foi para o quarto e morreu subita­mente. Quando a notícia se espa­lhou, rapidamente houve comoção no mundo musical. Seu parceiro no programa Ídolos, o também produ­tor musical Arnaldo Saccomani, em post o chamou de “herói”. Mas foi o perfil oficial do Skank nas redes sociais o primeiro a se pronunciar: “Foi ele quem chamou a atenção da imprensa do eixo Rio-SP sobre um quarteto que vinha de Minas Ge­rais”, reconheceu a postagem.

    “Difícil expressar o profundo choque e a tristeza que se abate­ram sobre a banda com o súbito falecimento do músico, produtor e brilhante agitador cultural Carlos Eduardo Miranda. Amigo e parcei­ro desde o Abril Pro Rock 93, o po­pular Veinho foi um dos primeiros a nos abrigar no Sudeste, patroci­nando e produzindo – através dos selos Banguela e Excelente Discos – os álbuns “Samba Esquema Noi­se” (94), “Guentando A Ôia” (96) e “Carnaval Na Obra (98)’”, publi­cou, também em seu perfil oficial, a banda Mundo Livre S/A.

    As palavras das bandas Skank e Mundo Livre S/A resumem bem o que Miranda veio fazer nesta terra: mostrar a música do Brasil para o Brasil. Logo, cumpriu sua missão. Nascido em Porto Alegre, o pro­dutor começou a carreira tocando teclado e compondo músicas em bandascomooTaranatiriça, Atahual­pa Y Us Panquis e Urubu Rei. Quan­do mudou para São Paulo se tornou um dos mais polêmicos críticos de música da revista Bizz.

    A carreira de produtor musical começou na década de 1990, com a Banguela Records, um selo fono­gráfico da gravadora Warner Mu­sic Brasil, criada por Miranda, jun­to com integrantes da banda Titãs. Nessa época é bom lembrar que quem mandava no cenário era o axé. Mas, desafiando o mercado, in­vestiu no irreverente “forrócore” dos Raimundos, e a banda foi sucesso.

    A Banguela não teve vida longa, foram apenas dois anos. Mas em 1995 teve seu trabalho continuado pelo selo Excelente Discos da gra­vadora Polygram. Por todos locais em que passou Miranda se consa­grou como um dos “olheiros” mais interessantes que a música já teve.

    Apesar de parecer sempre ten­der pelo rock, não se prendia a rótulos. Trabalhou com bandas que apostaram nas misturas de estilo, como O Rappa e os já cita­dos Mundo Livre S/A e Raimun­dos. Observando o tecnobrega do Pará, apostou em Gaby Amaran­tos – gravou seu aplaudido álbum de estreia “Treme” – e mais recen­temente trabalhou com universo pop de Mahmundi e Jaloo.

    “FILHOS” GOIANOS

    Conectado como era, a cena de Goiânia e de seus festivais de música independente não pas­sou despercebida a Miranda, ele sempre esteve presente por aqui. E desde que foi confundido em uma coletiva de imprensa como pai do produtor cultural goia­no e vocalista da MQN Fabrí­cio Nobre – um dos criadores da lendária Monstro Discos e da A Construtora Música e Cultura, além de festivais, como Bana­nada, eles iniciaram uma ami­zade de fato paternal.

    “Generosidade gigante do Miranda faz com que ele trate vários amigos da minha gera­ção como filho. Mas para mim isso é muito verdade… Que alegria de ter convivido esses 15 anos com vc, Velhão!” Esta declaração de Fabrício Nobre foi feita em uma sequência de posts emocionantes sobre Mi­randa. Em um dos primeiros textos ele contou uma conver­sa com Miranda no dia anterior de sua morte, em que o produ­tor gaúcho planejava participar da edição deste ano do Bana­nada e apresentar o palco “da bagunça”, em que subirão no­mes como Pabllo Vittar, Boo­garins e ATTØØXXA.

    Porém, a publicação mostrou ain­da que Miranda – que fez aniversá­rio no último dia 22, um dia antes de sua morte – passava por certos pro­blemas de saúde, que ele minimizou, na conversa, com um “vou ficar bem”.

    A banda goiana Hellbenders também deixou sua homenagem no Facebook no que revela mais gratidão ao produtor. Afinal, Mi­randa foi o responsável pela pro­dução do primeiro álbum do gru­po e, de acordo com a postagem, a ajuda do produtor foi essen­cial ao desenvolvimento artísti­co dos músicos. “Se por um acaso você já viu um show nosso e fa­lou: ‘Poxa, esse caras tocam bem ao vivo’, tá aí o culpado. Realmen­te tirou o máximo que podia da gente…”, comentou a banda em um dos trechos da homenagem.

    A banda goiana Hellbenders postou nas suas redes sociais: “On­tem o dia terminou sem um amigo querido. Miranda, velhinho, mu­dou nossas vidas como artistas independentes. Um ótimo profissional, um ótimo contador de histórias e uma presença muito forte.

    Pra quem não sabe, ele assinou a produção do nosso primeiro dis­co. Nos mandou pra casa no primeiro dia de gravação: “baah, vcs não tocam nada, precisam ensaiar demais”.

    Se por algum acaso você já viu um show nosso e falou “poxa esses caras tocam bem ao vivo”, tá aí o culpado. Realmente tirou o máximo que podia da gente pra fazer um disco que nos orgulhamos muito. Fi­que em paz, sua passagem aqui foi mais do que especial.”

     

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