Os sons da (e na) Capital
Diário da Manhã
Publicado em 30 de julho de 2018 às 23:31 | Atualizado há 1 semanaGoiânia é testemunha ocular – e também inspiradora, claro –, de um cenário musical eclético e criativo. Cada bairro evoca um estilo. O Setor Vila Nova, por exemplo, é raiz do samba local. No Centro a MPB e o choro têm mais vida. Já no Setor Sul há pubs destinados à cena indie. E por aí vai. Pensando neste diálogo entre música, artistas e a capital, a produtora goiana NonaNuvem Filmes criou a web série A Música e a Cidade, na qual cantores contam parte de sua biografia em um ponto marcante da cidade.
Dirigido por Huliana Duarte e Higor Coutinho, a primeira temporada deste projeto teve início em 2015 e sua pré-estreia aconteceu no Pirenópolis.doc-Festival do Documentário Brasileiro. Desde o começo era explorar o complexo urbano e seus múltiplos sons, através da busca pela identidade em construção no imaginário de quem produz música em Goiânia. Logo, nos primeiros cinco episódios, a série contou com três nomes importantes da cena goiana: Dom Casamata e a Comunidade, Carlos Brandão e a banda Casa Bisantinha.
O cenário para a banda instrumental Dom Casamata e a Comunidade tocar e contar sua história foi o castelinho do Lago das Rosas. Já o Mercado Popular da 74, o pano de fundo para o compositor, cantor e agitador cultural Carlos Brandão relembrar suas canções e história junto à música goiana. E o último episódio foi no meio do Centro de Goiânia, com a banda Casa Bisantina.
“Nossa ideia é ocupar a cidade. O que quisemos foi redescobrir a cidade a partir de sua música, porque amamos ambas e compartilhar com o pessoal que também gosta delas. A música produzida em Goiânia é plural, cosmopolita, um belo cartão de visitas para uma cidade tão jovem. E cada músico tem uma história para contar, uma relação particular com a cidade”, explica um dos diretores, Higor Coutinho.
A SEGUNDA TEMPORADA
Dessa vez, os episódios estão sendo divulgados semanalmente e projeto convidou cinco artistas para novos bate-papos e performances em espaços públicos de Goiânia: o grupo de jazz Trio Cerrado, na Vila Cultural Cora Coralina; o compositor Juraíldes da Cruz, no Museu Pedro Ludovico; a cantora Grace Carvalho, no Cepal do St. Sul; a banda Mandatory Suicide, no DCE da Federal, além do DJ ngelo Martorell, que fez um set em plena rua do Centro de Goiânia.
No primeiro deles, já online, o Trio Cerrado ocupa o largo de totens acessos da Vila Cultural Cora Coralina. Parte do projeto de revitalização do Centro da cidade, a Vila foi projetada pelo arquiteto goiano Luiz Fernando Cruvinel para ressaltar a imponência do Teatro Goiânia e dialogar com o estilo original da arquitetura art déco.
Na sequência, Juraíldes da Cruz canta, toca e conta suas histórias no Museu Pedro Ludovico, grande marco da modernidade goiana e símbolo da ruptura com o passado colonial da antiga capital. A construção, também em art déco, foi erguida entre 1934 e 1937, segundo o projeto de Atílio Corrêa Lima para ser a residência de Pedro Ludovico Teixeira, fundador da cidade. O museu, criado em 18 de maio de 1987, remete à vida familiar e política do criador de Goiânia.
GRACE CARVALHO NO CEPAL
O terceiro episódio – também on line – é estrelado pela cantora Grace Carvalho, uma das expoentes do samba no Estado e ambientado pelo Centro Popular de Abastecimento e Lazer, o Cepal, no Setor Sul. Lá, a cantora, que ficou conhecida por invocar clássicos sambas no The Voice Brasil, da TV Globo, conta como Goiânia a conduziu à sua paixão maior: o samba.
Em meio a paisagem urbana, veículos, transeuntes, paredes de grafites, depois de uma tarde de feira no Cepal – construído em 1989 para abrigar bazares populares, o Cepal foi originalmente pensado também como um espaço de lazer –, Grace volta à sua origem artística que teve início em grupos de teatro da Capital. Depois, ela diz que “roletou” muito pela capital, cantando em bares, bandas de rock e reggae.
Conheceu o samba com o violonista João Garoto, e o ritmo a levou a várias localidades do País. Mas nunca perde em vista a cidade em que se tornou sambista, e é comum vê-la em espaços como o Quintal do Jorjão, por exemplo.
REENCONTRO ROCK
Semana que vem o episódio será dedicado a uma das principais bandas de música independente da década de 90, a Mandatory Suicide. Esse grupo foi um protótipo do boom do rock goiano dos anos 2000. Entre 1992 e 1998 foi a banda da cidade que mais fez shows fora do estado, angariando fãs pelo Brasil.
Extinto há quase de 20 anos, o grupo foi ressuscitado pelo convite de A Música e a Cidade e retornou a um dos cenários mais significativos do underground goiano: o DCE da Federal, que tem sido por décadas palco e testemunha da evolução do rock feito em Goiânia.
NAS BATIDAS
Encerrando a segunda temporada, o DJ ngelo Martorell desembarca nas ruas do Centro carregado de LPs, pertinho do Parthenon Center. Lá, ele desenvolve um som para os passantes em uma terça-feira. Entre uma faixa e outra, fala sobre a reinvenção da noite do Centro de Goiânia, através de sua própria carreira como DJ na capital há 20 anos.
MAIS PLANOS
De acordo com um dos diretores da web série, Higor Coutinho, o que mais o deixou satisfeito em relação à temporada anterior é a expansão estilística, possibilitada pela mistura de gêneros musicais que pode ser vista nessa segunda temporada.
“Tem episódio com samba, heavy metal, jazz e MPB. E, pela primeira vez, convidamos um DJ para participar, pra botar som na rua do Centro, num dia qualquer. E isso do DJ na rua, tocando vários gêneros musicais pra qualquer um que se dispuser a ouvir, talvez simbolize essa pluralidade da música feita em Goiânia, que quisemos sublinhar na segunda temporada”, analisa.
E, conforme o diretor, a segunda temporada deu fôlego para os produtores pensarem na continuidade, com outra música e outra cidade. A previsão é gravar mais cinco episódios com artistas de Alto Paraíso, na Chapada dos Veadeiros, porque achamos que lá a coisa também acontece, há música de qualidade sendo produzida. Mas, como sempre, essa terceira tem parada depende do patrocínio da Lei Goyazes, que ainda não está confirmado”, adianta.
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