Entretenimento

Poesia musicada

Diário da Manhã

Publicado em 8 de maio de 2018 às 23:12 | Atualizado há 1 mês

Se tem a curiosidade de saber um pouco sobre os poetas de cabeceira do teatrólogo, romancista e contista Miguel Jorge e, ainda, ouvir tais obras embala­das por canções, há uma oportu­nidade interessante hoje à noite. Nesta quarta feira, às 20 horas, no Teatro Sonhus, o autor estreia o espetáculo “Poemas para Vozes, Poesia e Música”. O formato, como o nome diz, une o textos de gigan­tes da literatura brasileira – e pre­feridos do escritor goiano – com a música da cantora Karine Serrano e o violonista João Garoto.

A fim de contagiar o públi­co com clássicos da literatura, a montagem foi idealizada por Mi­guel Jorge, que chamou os ami­gos e músicos talentosos para executar com ele este projeto. A ideia – se amparada por alguma lei de incentivo à cultura – é le­var a peça ainda para escolas e universidades da Capital. Mas, por enquanto, nada ainda está fechado e, quem estiver presen­te no Teatro Sonhus, que fica em uma área anexa ao Colégio Lyceu de Goiânia, verá à primeira mão uma iniciativa inspiradora.

Há na peça a presença literária de autores brasileiros, a exemplo de João Cabral de Melo Neto, João Gui­marães Rosa, Cecília Meireles, Car­los Drummond de Andrade, Olavo Bilac, Manuel Bandeira. “No rotei­ro do espetáculo há apenas dois no­mes estrangeiros – o português Fer­nando Pessoa e o alemão Charles Bukowski, porque quis homenagear também a literatura internacional”, conta Miguel Jorge, que tem mais de 50 anos de carreira como escritor, e é ocupante da Cadeira nº 18 – que já pertenceu a Bernardo Élis –, da Academia Goiana de Letras (AGL).

O formato da montagem une ainda teatro, música e poesia. Ape­sar de não ter obras de Miguel Jor­ge, um pouco de seu trabalho será mostrado, já que antes de a cada interpretação, o escritor fala um texto, que fez sobre cada poeta pre­sente na peça. “Assim, criamos um clima para entrar o poema e a mú­sica”, explica.

Em cena, o escritor sul-mato-grossense, que se considera goiano de coração, ficará responsável por declamar os poemas, e Karine Ser­rano e João Garoto incrementarão com música o momento. As esco­lhidas para a montagem são cheias de lirismo e cruzam com a história da Música Popular Brasileira. Tem por exemplo “Lamento Sertane­jo” (Gilberto Gil e Dominguinhos), “Cavalgada” (Roberto Carlos e Eras­mo Carlos). “Tem também a mú­sica de Noel Rosa chamada ‘Men­sagem’, quando declamo o poema ‘Cartas de Amor’, de Fernando Pes­soa,” adianta Miguel Jorge.

Questionado sobre como surgiu a ideia deste projeto, o escritor con­ta que nasceu da vontade de deixar a poesia mais presente na vida das pessoas e a possibilidade de sensi­bilizar ainda mais, trazendo a de­claração e a música. “Eu sempre gostei muito de declamar poesias. Acho que a poesia falada ganha uma outra conotação, uma outra voz. E como acredito que a poesia é melodia, combina muito com a palavra poética”, declara o goiano.

VÁRIOS AMORES

Outra característica de “Poe­ma para Vozes, Poesia e Músi­ca” é que os textos circundam sempre ao redor de uma temá­tica: o amor, claro, que é trata­do sob a perspectiva dos artistas escolhidos, logo é mostrado em variados ângulos. “Guimarães Rosa fala do amor de Riobaldo e Diadorim, do livro ‘Grande Ser­tão Veredas’, que eu peguei um trecho para o espetáculo. Hilda Hilst, fala de não um amor não exagerado, que vemos cheio de intensidade na obra de Bukows­ki”, analisa Miguel Jorge.

Ainda de acordo com o es­critor, o amor que vai poder ser contemplado no espetáculo não é apenas o amor romântico en­tre as pessoas, é retratado ainda como a paixão pela natureza ou por determinado região do país. “João Cabral de Melo Neto, por exemplo, fala de amor pela paisa­gem do Nordeste. Não tem obras minhas. São poetas ‘meus’, que se­leciono para as minhas leituras, meus textos de dramatização…”.

 

 

 ENTREVISTA MIGUEL JORGE


O escritor é testemunha da época que está vivendo”

 

A frase acima é de Miguel Jorge, pois, aproveitamos a oportunidade da estreia de “Poemas para Vozes, Poesia e Música”, para falar também com o autor, sobre outros assuntos, como seu livro novo, os rumos da literatura mundial e sobre o ato de escrever em tempos de crise. Con­fira a seguir, trechos da conversa.

LIVRO NOVO

Será um romance, que chama “Em busca do Coração Em Um Sá­bado À Noite”. Tem como pano de fundo a cidade de Goiânia e eu faço uma viagem pelo universo sócio político da Capital. É uma ficção, mas toda ficção tem a base na rea­lidade. Talvez será lançado em ou­tubro, novembro, por aí…

ROTINA DE ESCRITOR

A escritura nÃo deixa escritor. Sou o tempo todo escritor. Mesmo quando estou em um momento ocioso, de silêncio, estou criando algo na minha cabeça. Seja um li­vro, um projeto para teatro ou um romance. Então, eu não desligo, porque o que move nós escritores é a realidade que estamos vendo e vi­vendo. E buscamos inspiração em lugares que ninguém mais vai, só o escritor, como as áreas mais caren­tes da cidade. Tudo isso é mote para o escritor criar personagens e am­bientação para os seus romances.

LITERATURA GOIANA

Vejo o contexto atual da litera­tura goiana indo muito bem. Tem muita gente estudiosa buscando inovação, novas linguagens e no­vas formas de expressão. Acho que nossa literatura sempre foi des­tacada nisso aí. Tem muita gen­te boa aí e tem já são bons e estão cada dia melhores. Essa levada de poetas e de ficcionistas, cronistas e contistas que temos hoje é mui­to interessante. Porém, prefiro não citar nomes, para não correr o ris­co de esquecer alguém.

LITERATURA MUNDIAL

Não gosto muito deste univer­so fantasioso, que faz muito su­cesso hoje em dia, que é ao meu ver é muito exagerado. Eu prefiro os escritores que criam dentro de um universo fantástico do aqui e do agora ou do cotidiano. Porque tem muita coisa da realidade que é fantástica, para você tirar e criar. Sabe? E usar como ponto de fun­do, com um aprofundamento psi­cológico. Porque para você criar um personagem, você tem que criar, não uma estrutura realista ou caricatural, você tem que apro­fundar dentro do seu persona­gem, o que ele sente, o que pensa, seus sentimentos bons ou maus e, um histórico deste personagem. Por que ele é assim? Por que ele é assado? Então, nos meus textos eu gosto de trabalhar muito o psi­cológico dos personagens.

ESCRITOR EM TEMPOS DE CRISE

O escritor repercute muito a sua época. Então ele registra um pouco da história, da realidade, através da ficção, de sua poesia. Por exemplo, o João Cabral de Melo Neto deixou todo nordes­te registrado em sua poesia, que é uma maravilha. Falou dos reti­rantes, a seca, os rios, a pedra. En­fim, ele é genial. Já João Guimarães Rosa, deixou sua história marcada dentro da sua literatura a história regional do caboclo, da vivência, da linguagem. Então o escritor é testemunha da época que está vi­vendo. O minha literatura acho que será marcada por várias mu­danças, tanto social, como climá­tica, como política e educacional também. É importante as mudan­ças que o tempo traz. Não é só es­crever por escrever, mas dou teste­munha do momento em que vivo, do que acontece, das reações, da vivência, do tempo. Enfim, você pega esse universo que parece uma célula regional, mas trans­forma isso em universal.

 

 

SERVIÇO

Poemas Para Vozes, Poesia e Música

Quando: Hoje, às 20 horas

Onde: Teatro Sonhus, área anexa ao Lyceu de Goiânia (Rua 21, 10– St. Central)

Ingressos: R$ 20 (inteira) R$ 10 (meia)

 

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