Poesia musicada
Diário da Manhã
Publicado em 8 de maio de 2018 às 23:12 | Atualizado há 1 mês![](https://v2024.dm.com.br/wp-content/uploads/2025/01/1-10_noexif-1.jpg)
Se tem a curiosidade de saber um pouco sobre os poetas de cabeceira do teatrólogo, romancista e contista Miguel Jorge e, ainda, ouvir tais obras embaladas por canções, há uma oportunidade interessante hoje à noite. Nesta quarta feira, às 20 horas, no Teatro Sonhus, o autor estreia o espetáculo “Poemas para Vozes, Poesia e Música”. O formato, como o nome diz, une o textos de gigantes da literatura brasileira – e preferidos do escritor goiano – com a música da cantora Karine Serrano e o violonista João Garoto.
A fim de contagiar o público com clássicos da literatura, a montagem foi idealizada por Miguel Jorge, que chamou os amigos e músicos talentosos para executar com ele este projeto. A ideia – se amparada por alguma lei de incentivo à cultura – é levar a peça ainda para escolas e universidades da Capital. Mas, por enquanto, nada ainda está fechado e, quem estiver presente no Teatro Sonhus, que fica em uma área anexa ao Colégio Lyceu de Goiânia, verá à primeira mão uma iniciativa inspiradora.
Há na peça a presença literária de autores brasileiros, a exemplo de João Cabral de Melo Neto, João Guimarães Rosa, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Olavo Bilac, Manuel Bandeira. “No roteiro do espetáculo há apenas dois nomes estrangeiros – o português Fernando Pessoa e o alemão Charles Bukowski, porque quis homenagear também a literatura internacional”, conta Miguel Jorge, que tem mais de 50 anos de carreira como escritor, e é ocupante da Cadeira nº 18 – que já pertenceu a Bernardo Élis –, da Academia Goiana de Letras (AGL).
O formato da montagem une ainda teatro, música e poesia. Apesar de não ter obras de Miguel Jorge, um pouco de seu trabalho será mostrado, já que antes de a cada interpretação, o escritor fala um texto, que fez sobre cada poeta presente na peça. “Assim, criamos um clima para entrar o poema e a música”, explica.
Em cena, o escritor sul-mato-grossense, que se considera goiano de coração, ficará responsável por declamar os poemas, e Karine Serrano e João Garoto incrementarão com música o momento. As escolhidas para a montagem são cheias de lirismo e cruzam com a história da Música Popular Brasileira. Tem por exemplo “Lamento Sertanejo” (Gilberto Gil e Dominguinhos), “Cavalgada” (Roberto Carlos e Erasmo Carlos). “Tem também a música de Noel Rosa chamada ‘Mensagem’, quando declamo o poema ‘Cartas de Amor’, de Fernando Pessoa,” adianta Miguel Jorge.
Questionado sobre como surgiu a ideia deste projeto, o escritor conta que nasceu da vontade de deixar a poesia mais presente na vida das pessoas e a possibilidade de sensibilizar ainda mais, trazendo a declaração e a música. “Eu sempre gostei muito de declamar poesias. Acho que a poesia falada ganha uma outra conotação, uma outra voz. E como acredito que a poesia é melodia, combina muito com a palavra poética”, declara o goiano.
VÁRIOS AMORES
Outra característica de “Poema para Vozes, Poesia e Música” é que os textos circundam sempre ao redor de uma temática: o amor, claro, que é tratado sob a perspectiva dos artistas escolhidos, logo é mostrado em variados ângulos. “Guimarães Rosa fala do amor de Riobaldo e Diadorim, do livro ‘Grande Sertão Veredas’, que eu peguei um trecho para o espetáculo. Hilda Hilst, fala de não um amor não exagerado, que vemos cheio de intensidade na obra de Bukowski”, analisa Miguel Jorge.
Ainda de acordo com o escritor, o amor que vai poder ser contemplado no espetáculo não é apenas o amor romântico entre as pessoas, é retratado ainda como a paixão pela natureza ou por determinado região do país. “João Cabral de Melo Neto, por exemplo, fala de amor pela paisagem do Nordeste. Não tem obras minhas. São poetas ‘meus’, que seleciono para as minhas leituras, meus textos de dramatização…”.
ENTREVISTA MIGUEL JORGE
O escritor é testemunha da época que está vivendo”
A frase acima é de Miguel Jorge, pois, aproveitamos a oportunidade da estreia de “Poemas para Vozes, Poesia e Música”, para falar também com o autor, sobre outros assuntos, como seu livro novo, os rumos da literatura mundial e sobre o ato de escrever em tempos de crise. Confira a seguir, trechos da conversa.
LIVRO NOVO
Será um romance, que chama “Em busca do Coração Em Um Sábado À Noite”. Tem como pano de fundo a cidade de Goiânia e eu faço uma viagem pelo universo sócio político da Capital. É uma ficção, mas toda ficção tem a base na realidade. Talvez será lançado em outubro, novembro, por aí…
ROTINA DE ESCRITOR
A escritura nÃo deixa escritor. Sou o tempo todo escritor. Mesmo quando estou em um momento ocioso, de silêncio, estou criando algo na minha cabeça. Seja um livro, um projeto para teatro ou um romance. Então, eu não desligo, porque o que move nós escritores é a realidade que estamos vendo e vivendo. E buscamos inspiração em lugares que ninguém mais vai, só o escritor, como as áreas mais carentes da cidade. Tudo isso é mote para o escritor criar personagens e ambientação para os seus romances.
LITERATURA GOIANA
Vejo o contexto atual da literatura goiana indo muito bem. Tem muita gente estudiosa buscando inovação, novas linguagens e novas formas de expressão. Acho que nossa literatura sempre foi destacada nisso aí. Tem muita gente boa aí e tem já são bons e estão cada dia melhores. Essa levada de poetas e de ficcionistas, cronistas e contistas que temos hoje é muito interessante. Porém, prefiro não citar nomes, para não correr o risco de esquecer alguém.
LITERATURA MUNDIAL
Não gosto muito deste universo fantasioso, que faz muito sucesso hoje em dia, que é ao meu ver é muito exagerado. Eu prefiro os escritores que criam dentro de um universo fantástico do aqui e do agora ou do cotidiano. Porque tem muita coisa da realidade que é fantástica, para você tirar e criar. Sabe? E usar como ponto de fundo, com um aprofundamento psicológico. Porque para você criar um personagem, você tem que criar, não uma estrutura realista ou caricatural, você tem que aprofundar dentro do seu personagem, o que ele sente, o que pensa, seus sentimentos bons ou maus e, um histórico deste personagem. Por que ele é assim? Por que ele é assado? Então, nos meus textos eu gosto de trabalhar muito o psicológico dos personagens.
ESCRITOR EM TEMPOS DE CRISE
O escritor repercute muito a sua época. Então ele registra um pouco da história, da realidade, através da ficção, de sua poesia. Por exemplo, o João Cabral de Melo Neto deixou todo nordeste registrado em sua poesia, que é uma maravilha. Falou dos retirantes, a seca, os rios, a pedra. Enfim, ele é genial. Já João Guimarães Rosa, deixou sua história marcada dentro da sua literatura a história regional do caboclo, da vivência, da linguagem. Então o escritor é testemunha da época que está vivendo. O minha literatura acho que será marcada por várias mudanças, tanto social, como climática, como política e educacional também. É importante as mudanças que o tempo traz. Não é só escrever por escrever, mas dou testemunha do momento em que vivo, do que acontece, das reações, da vivência, do tempo. Enfim, você pega esse universo que parece uma célula regional, mas transforma isso em universal.
SERVIÇO
Poemas Para Vozes, Poesia e Música
Quando: Hoje, às 20 horas
Onde: Teatro Sonhus, área anexa ao Lyceu de Goiânia (Rua 21, 10– St. Central)
Ingressos: R$ 20 (inteira) R$ 10 (meia)