Rensga! Égua!
Diário da Manhã
Publicado em 16 de maio de 2018 às 01:29 | Atualizado há 4 semanasOs goianos Bruno Caveira e Igor Zargov costumam aumentar a temperatura quando se juntam para produzir Felamacumbia, festa que acontece há mais de três anos em Goiânia. A cada edição, a dupla busca trazer atrações com identidades alinhadas à proposta do evento que explora latinidades. Já passaram pelo palco e pelas mesas artistas como Superlage, Francisco El Hombre, Lucas Santtana, Monike Goyana e DJ Dolores. Na última quinta-feira, no espaço estilo galpão da Imerse, no Setor Sul, os convidados foram paraenses.
A sonoridade do Norte do País é, sem dúvida alguma, uma das principais influências para a montagem da festa. Em toda edição é possível dançar lambada, carimbó, siriá ou tecnobrega. Nada mais coerente do que introduzir um artista – que está sob a luz, não de holofotes, mas de farol– capaz de combinar todas essas referências e explorar novos conceitos.
Lucas Estrela é um prodígio. Como músico, tem se desenvolvido bastante na última década. Desde que trocou o contrabaixo pela guitarra, tem construído uma imagem sonora baseada nas lições do músico e pesquisador Pio Lobato e de Waldo Squash, nome expressivo da produção musical paraense. O resultado é uma criação fervente e frenética com referência aos estilos mais tradicionais da música paraense além de experimentações com a vertente eletrônica.
Na Imerse, espaço multifuncional em Goiânia, conta com bar, café, loja de roupas, estúdio de tatuagem e área para shows e baladas, Lucas comandou a festa junto com Dan Bordallo (DJ DBL) nos sintetizadores, Renata Beckmann na guitarra de apoio e a participação especial do percussionista Macaxeira Acioli, da banda Muntchako. O público já previamente aquecido pelos anfitriões Caveira e Zargov começou a se apertar para chegar mais perto do palco logo nas primeiras músicas.
Ali, a centímetros dos músicos, ao som de “Jaguar” o público ensandecido gritava “rensga!” e “égua!”, acusando o lugar de onde vinham enquanto tremiam ao gosto de cachaça de jambu e cerveja – sobrou até para os pedais de Lucas que tomaram um banho de cevada. Também não faltou um sonoro coro de “Fora, Temer!”. Lucas ainda tocou sua versão de “2×2”, de Pio Lobato, além de “Atalaia 2000” e “Sal ou Moscou”, músicas do seu primeiro disco programadas com batidas de tecnobrega. Para o bis, Estrela escolheu “Techno Will” e repetiu “Farol”, faixa que batiza seu trabalho mais recente – que tem o apoio do projeto Natura Musical.
Em seguida, a discotecagem do DJ DBL contou com um setlist recheado de “marcantes”– expressão usada por paraenses para os bregas que marcaram uma época -, funk, tecnobrega, além de hits como “What Is Love”, do trinitino Haddaway e “Toxic”, de Britney Spears–selecionados de forma improvisada no YouTube. Com bom humor, DBL parodiava os comportamentos dos DJs de aparelhagem de Belém, interrompendo as músicas para interagir com os presentes e ensinar coreografias.
A noite quente e agitada na Imerse só acabou por ordem dos organizadores do local. Por pouco os músicos não foram trancados do lado de dentro, após ficarem relutantes em parar de tocar. O calor típico da região norte ferveu os corpos presentes, transformando a última edição da festa Felamacumbia em uma das melhores atrações da série de showcases do Festival Bananada deste ano.
(André Luiz Pacheco da Silva, estudante de Psicologia e Psicanálise, escritor e editor do blog Tambatajá)
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