Revelações sobre a alta sociedade goiana
Diário da Manhã
Publicado em 22 de julho de 2018 às 01:56 | Atualizado há 3 semanas“A senhora achou ele elegante”? pergunta a funcionária do jornalista Luis Carlos de Moraes Rodrigues, mais conhecido como Luis Carlos, ao me servir um café.
“Sim, claro. Uma casa cheia de antiguidades, tapetes persas e obras de arte demonstra que ele é diferente e tem muito bom gosto!” respondi.
Assim começou a entrevista do Diário da Manhã que buscou revelar ao público em geral peculiaridades daquilo que se chama ‘alta sociedade’.
Luis Carlos explica que fazem parte da alta sociedade “quem nasceu nela, e vem por tradição de gerações”, comentou.
Para fazer parte da alta sociedade não precisa ser necessariamente rico, mas pertencem a ela pessoas de famílias tradicionais, que tem uma boa bagagem cultural, sabedoria de como receber.
Há pessoas que são tão elegantes que podem andar de ônibus e irão elegantes.
Coco Chanel já dizia: ‘a mulher elegante passa despercebida na estação do metrô’. A elegância é fundamental para quem frequenta e alta sociedade, e não está em você andar em carros luxuosos, mas é antes de tudo uma opção de vida e de comportamento.”
CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA COM O COLUNISTA SOCIAL:
DM Revista – Pode haver alguém que tenha muito dinheiro mas não pertença à alta sociedade?
LC – Claro. São os novos ricos, que se se firmarem nesta condição, um dia poderão se tornar tradicionais, mas ainda estão começando. Pode ser que um dia pertençam a ela. Mas hoje tudo mudou, é fato. Antes era mais complicado para frequentar. A pessoa ia adquirindo dinheiro mas não era tida como os ‘novos ricos’ como se apresentam hoje. Na verdade, o dinheiro vai mudando de mão, e aí eles foram entrosando. Neste caso, a alta sociedade tem que aceitar isso por conveniências, por negócios, e eles acabam entrando. São pessoas igualmente maravilhosas. Conheço muitos novos ricos que são muito simples e tudo.
DM Revista – O que faz a alta sociedade diferente das outras camadas sociais, já que o dinheiro não é o único critério de seletividade?
LC – Primeiramente, é necessário observar onde a pessoa nasceu, o seu berço, já que isso vai determinar aspectos comportamentais que irão fazer com que essa pessoas saiba diferenciar o que é realmente bom, já que irá ser criada no que há de melhor.
DM Revista– É o que se chama de ‘berço de ouro?
LC – Depende do que se conceitua como berço de ouro, pois tanto ricos quanto pobre podem nascer em berço de ouro. Isso vem da educação. Então, a alta sociedade nasce em casarões ou apartamentos enormes, vem de uma família onde todos são muito bem sucedidos, viajam muito, têm uma boa educação, estudam fora. Tudo isso é um conjunto de adjetivos que definem alta sociedade.
DM Revista – Então a ‘alta sociedade’ realmente existe?
LC – É o que eu digo aos meus amigos: a alta sociedade ficou doente em 1980, em 1990 ela entrou em coma e em 2000 ela morreu. Os valores mudaram. Antes, uma senhora ou uma moça jamais deixaria de se arrumar para sair, com roupas mais finas, para onde quer que fosse, ainda que ao mercado. Hoje, observamos que as mocinhas e até as senhoras aderiram a essa moda da ‘calça rasgada’, com uma camisetinha. Até comentei com uma amiga minha: “pelo amor de Deus, tira essa calça que não combina com você!”. Outro dia, após um almoço na casa dela fomos na casa da mãe dela que fez o mesmo comentário: “minha filha, o que você está fazendo com essa calça rasgada?” Então tudo mudou. Claro que ainda há festas em que as moças se aprontam para ir, mas não é a regra. Hoje, às vezes me assusto e me pergunto: ‘parece que não é filha de fulano de tal’, porque na verdade as mães se esmeram, mas nada será como antes.
DM Revista – Quais foram os melhores anos da alta sociedade?
LC – 1960 a 1980. Muitas mulheres de Goiânia costuravam com o Dener, Clodovil, Guilherme Guimarães, que eram todos alta costura. As noivas iam fazer enxoval com a Lygia Mattos, de Belo Horizonte, que era um preço absurdo. Uma toalha de jantar desta grife de organdi bordada custava na faixa de U$ 11 mil. Já em 1980 já começou a surgir a ‘modinha’, os novos ricos, que por causa dos negócios começaram a ser incluídos, já que promoviam grandes festas, etc. Em 2000, ela foi extinta. obviamente existem muitas pessoas que pertencem à alta sociedade, que são bem fechadas, e não abrem as portas para ninguém, somente para os seus pares. Mas outro fator é que as damas da alta sociedade não recebem mais como recebiam antes. Comentei com uma amiga: “só falta você, fulana e eu para morrer, pois todos os outros ícones da alta sociedade já se foram.
DM Revista– Quais teriam sido esses ícones para você?
LC – Da. Eugênia de Pina foi uma senhora da altíssima sociedade, de família tradicional. Ela era uma mulher exuberante, loura, dessas mulheres que já não vemos mais. Hoje já não existe festa ‘black tie’, onde as mulheres vestiam longo e os homens de smoking. Eram festas com jantar dançantes chiquérrimas.
DM Revista– O que tem a dizer sobre a maravilhosa festa promovida por você na antiga ferroviária de Goiânia?
LC – Foi uma festa caríssima promovida por mim em 1998. Naquela época já era muito cara: ficou mais de R$ 100 mil. Dentre a decoração, um lustre de 4,5 mts de cristal foi instalado no rol de entrada e uma passarela que ligava a estação ferroviária à Avenida Independência. Todos os homens usavam smoking, e champagne servida desde o início. Não se fazem mais festas assim.
DM Revista – O que tem a dizer sobre sua carreira de jornalismo?
LC – Completei recentemente 45 anos de jornalismo, e fui homenageado pelo governador Marconi Perillo e Valéria com um belíssimo jantar no Palácio das Esmeraldas. Fui condecorado e ganhei uma placa com lindos dizeres, da parte da 1.ª dama. Foi um festa muito bonita e muito prestigiada. Ao longo da minha carreira eu recebi muitas homenagens, não só em Goiás mas em São Paulo e Curitiba. Comecei no 5 de Março através de um convite de Batista Custódio de Consuelo Nasser no lançamento de um livro de poesias de Laila Navarrete “Espelho Fosco”. Depois veio o Diário da Manhã, do qual eu faço parte da equipe de jornalismo.
DM Revista – Você é seletista?
LC – Me considero seletista no sentido que não gosto de gente falsa nem fofoqueira, que liga para me dizer coisas das quais eu realmente não estou interessado. Na alta sociedade eu sou seletista, o que não significa que não tenha amigos de todas as classes sociais. Uma seleção é necessária como princípio de vida, pois há valores que não são negociáveis. Quando eu comecei minha profissão, chegando em uma festa, me deparei com uma roda de homens, e fui logo abordado: “chegou o homem das mulheres!” Respondi: “quero esclarecer que de fato sou o homem das mulheres mas não sou cafetão. A partir daí todos eles passaram a me respeitar. Por isso acho importante selecionar amigos e clientes da minha coluna social, pois também sou promoter.
DM Revista – Você dá valor à regras de etiqueta?
LC – Quando se fala em etiqueta, as pessoas pensam em frescura. Etiqueta para mim é a boa educação. Dou valor a uma boa educação à mesa, Uma mesa bem posta, a pessoa saber comer, não ficar conversando demais durante a refeição, usar copos e talheres certos. Não é correto o uso corriqueiro do suplat. É correto o uso do suplat quando a pessoa oferece um jantar à francesa, porque o suplat não pode ficar descoberto. Então no caso, um garçon vem com um prato e coloca outro logo em seguida. Hoje este item é usado apenas com o efeito de decoração, onde as mesas ficam amontoadas, cheias de tudo, o que é desnecessário. Muito disso vem das mega decorações que precisam justificar o preço pago pelo cliente, mas isso não é fino. Sou adepto da elegância e da simplicidade.
DM Revista – O que diz dos casamentos de hoje. São elegantes?
LC – Hoje acontece de tudo. Casamentos parecem festas de 15 anos ou festas de 15 anos parecem casamentos. Confesso que eu me perco no meio de tanta novidade. Também acontece de a mulher ir super bem vestida e o marido acompanhar de manga de camisa. Vejo erros grotescos nas festas, como homens de terno claro à noite. Usa-se terno claro usa-se durante o dia ou no almoço, para sair ou trabalhar. A noite comporta o terno azul marinho ou o preto. Regras básicas não podem ser quebradas.
DM Revista – Existem regras do bem vestir?
LC – xistem. Por exemplo, às vezes a mulher usa tantas joias durante o dia, o que é desnecessário. Uma bonita bijuteria de bom gosto é suficiente.
DM Revista– O que é ser elegante?
LC – Qual a mulher que não se sente feliz em o homem abrir a porta do carro para ela? De puxar uma cadeira para ela se assentar? Quem não se sente feliz em ser em tratado? Todos mundo adora estar ao lado de um cavalheiro, de um homem bem educado.
DM Revista– O que é uma boa herança?
LC – A moral. Essa definição é da professora de etiqueta Cristina Yufon, em um almoço juntos. Primo pelo caráter de uma pessoa. Isso sim é fundamental.
DM Revista– O que é uma casa de bom gosto?
LC – Hoje em dia há arquitetos preparados para definir tendências de construção ou decoração, o que permite que o dono do imóvel se isente desta obrigação. Mas isso tem feito que com que os ambientes fiquem frios e sem identidade. Cada casa deveria ter sua marca. O modismo tomou conta inclusive dos ambientes. De repente são tantos designers, tanta gente, que ficamos confuso. Designer de peso é Sérgio Rodrigues, mas hoje aparece designers famosos de todo lugar. É onde as pessoas se perdem. Tudo tem que ter o toque pessoal.
Finalmente, Luis Carlos afirma que a alta sociedade significa saber pôr uma mesa corretamente sem ser ensinado, porque aquilo é natural no dia-a-dia. São atitudes pessoais que fazem toda diferença. A pessoa nasce elegante, tem glamour, porque foi criada nesse ambiente. Isso é pertencimento. É algo que passa de pai para filho e de filho para neto. Elegante é saber presentear porque os filhos sabem que o pai o fazia e entendem ser importante manterem a tradição. As famílias se renovam através dos valores passados de pai para filho, e é por isso que a tradicional sociedade nunca acabará.
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