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Diário da Manhã

Publicado em 25 de agosto de 2018 às 02:53 | Atualizado há 3 semanas

O movimento é um ato que vai além do que o olho captura. Com uma certa distância, a gente observa pessoas indo para o trabalho, uma folha de árvore balançando em decor­rência do vento, ou um artista que usa os braços e pernas para repre­sentar algum sentimento interno. Essa parte interna do movimento é o que interessa, e em muitos ca­sos passa despercebida pela falta de atenção. Esse ato é o tema prin­cipal do Manga de Vento, reali­zado no Centro Cultural UFG, na Praça Universitária, desde o mês de maio, com atividades marca­das até o mês de outubro.

Manga de Vento é um dispositi­vo de análise de movimento, utili­zado em campos de pouso e deco­lagem para informar a orientação das correntes de ar. “Essa vulne­rabilidade do dispositivo é aves­sa a ideia de apontar tendências, de circunscrever escolhas temáti­cas, de defender circuitos conso­lidados, entre outras expectativas tantas vezes sustentadas pelo dis­curso curatorial. Aspiramos um programa que contempla do pen­samento coreográfico que extra­pola os entendimentos de corpo às pesquisas que avançam naquilo que a dança traz de mais elemen­tar: estar em movimento. Mesmo quando este movimento não é ex­clusivamente da ordem do visível”, reflete o curador.

A terceira edição da Manga de Vento – Mostra Expandida de Dança programa uma semana de apresentações com artistas contemporâneos reconhe­cidos em todo o mundo. Com apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás, a agen­da deste mês se inicia com retrospectiva do trabalho de Wag­ner Sch­w a r t z (SP-FRA) no dia 27 de agosto e segue até 2 de setembro, sem­pre às 20 horas, no Centro Cul­tural da UFG, com performan­ce de Dudude Herrmann (MG), Denise Stutz (RJ), Clarice Lima e Aline Bonamin (SP).

Em 2017, os artistas Elisa­bete Finger, Maikon K, Rena­ta Carvalho e Wagner Schwartz foram objeto de debates em torno da liberdade de expres­são, censura e limites na arte. Wagner, em sua performan­ce La Bête, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, ofere­ce seu corpo nu para ser do­brado e desdobrado pelo pú­blico, revisitando a proposta das esculturas Bichos, de Ly­gia Clark. Na mesma ocasião, a coreógrafa Elizabete Finger foi criticada, como mãe de uma criança que esteve presente.

Maikon, em sua performan­ce DNA de DAN, fica nu e imó­vel dentro de uma bolha transpa­rent e. Na apresenta­ção em frente ao Museu Nacional da Re­pública, em Brasília, teve seu ce­nário danificado e foi detido pela polícia militar sob a acusação de ato obsceno. Renata, atriz, teve sua peça – O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu – censura­da, e foi impedida de se apresen­tar por ser travesti e interpretar Jesus Cristo.

Em Domínio Público, progra­mado para 27/8 (segunda), às 20 horas, no CCUFG, os quatro ar­tistas se juntam para uma refle­xão a partir dos ataques sofridos. Tomando como ponto de parti­da um dos ícones da história da arte, revelam como uma obra pode ser utilizada em diferen­tes narrativas ao longo do tem­po, incitando as mais diversas reações, espelhando os fatos e absurdos de nossas sociedades.

Em sua passagem por Goiânia, no dia 28/8 (terça), Wagner Sch­wartz também performa o solo Piranha, a metáfora de um corpo em reclusão. Ele se agita nevral­gicamente, entre uma dinâmica voluntária e involuntária, sitia­do por uma composição de ruí­dos digitais. O fluxo de movimen­to que se enreda sob um feixe de luz desdobra, em seu próprio cor­po e no espaço, as variações sutis entre uma rave, uma guerra, uma possessão, um susto, uma morte.

A terceira e última apresen­tação de Schwartz está marcada para 30/8 (quinta). Em Transo­bjeto ele é um homem-placa em cena, que fica nu, vira bicho, artis­ta e modelo, canta, bebe, dança e fuma um cigarro. “Se essa história fosse um poema, ele seria moder­nista; se fosse um espetáculo, ele seria ativista; se fosse música, ela seria tropicalista; e se a história fosse verdade, o homem esta­ria solto pelas ruas do Brasil”, diz-se sobre o solo monta­do em 2004 e remontado 10 anos depois. Em 2013, Transobjeto recebeu o Prêmio Funarte de Dan­ça Klauss Vianna.

DANÇA E ÓPERA

Do tanque para a televisão e da te­levisão para o tan­que, a bailarina e coreógrafa Dudu­de Herrmann, em parceria com o artista plástico Marco Paulo Rol­la, cria uma partitura coreográfi­ca que explicita uma “dança do­méstica”, estranhamente cortada pelo canto. No dia 29/8 (quarta), o duo contemporâneo Tanque – Uma ópera molhada coloca em cena um drama cotidiano redi­mensionado através dos recursos da expressão cênica da dança e da ópera. Tanque foi apresenta­do pela primeira vez no Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto em 2003.

Em Sublime Travessia (2016), no dia 31/8 (sexta), Dudude Herrmann convida a uma reflexão amorosa so­bre o cultivo do pertencimento, a va­lorização das origens, a prática da éti­ca e a uma redescoberta deste lugar que habitamos nos tempos de ago­ra. O Hino Nacional é fonte de ins­piração para uma travessia subjetiva pelo Brasil, vivenciando a interven­ção do ser humano no meio ambien­te, pormeiodadestruição de sítiosna­turaiscomorios, montanhas, florestas, gente. Neste contexto, o corpo atravessasublimemente cadasom, permeável de urbanidades, estilizado, técni­co, treinado nas habilidades do movimento.

 

SERVIÇO:

 

Manga de Vento – Mostra Expandida de Dança

Retrospectiva Wagner Schwartz

27/8 – 20H

Domínio Público | Elizabete Finger, Maikon K, Renata Carvalho e Wagner Schwartz

(Classificação indicativa: 18 anos)

28/8 – 20H

Piranha | Wagner Schwartz

(Classificação indicativa: 16 anos)

30/8 – 20H

Transobjeto | Wagner Schwartz

(Classificação indicativa: 18 anos)

29/8 -20H

Tanque – Uma Ópera Molhada | Dudude Hermmann e Marco Paulo Rolla (MG)

(Classificação indicativa: 18 anos)

31/8 -20H

Sublime Travessia | Dudude Hermmann (MG)

(Classificação indicativa: 16 anos)

1/9 – 20H

Entre Ver | Denise Stutz (RJ)

(Classificação indicativa: 16 anos)

1/9 – 10H ÀS 12H

Oficina: Dançar Dói

Com Clarice Lima e Aline Bonamin (SP)

2/9 – 20H

Intérpretes em Crise | Clarice Lima e Aline Bonamin (SP)

(Classificação indicativa: LIVRE)

20/10 – 23H

Serão Performático no Cabaré Voltaire | Grupo Empreza (GO)

(Classificação indicativa: 18 anos)

23/10 – 20H

Protocolo Elefante | Grupo Cena 11 (SC)

(Classificação indicativa: 18 anos)

Local: Centro Cultural UFG (Avenida Universitária, 1533, Setor Leste Universitário)

Entrada: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)

 

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