“Um só pensamento preenche a imensidão”
Diário da Manhã
Publicado em 28 de novembro de 2017 às 00:15 | Atualizado há 2 semanasApesar de não ter adquirido reconhecimento em vida, atualmente William Blake é considerado um dos artistas mais completos e importantes da história da Inglaterra. Nasceu em família humilde em 1757, sendo o terceiro de sete filhos. Atuou como pintor e poeta, e morreu pobre em 1727, aos 69 anos, sem nunca ter conseguido fazer fortuna com sua arte. Apesar de ter sido considerado louco pela maioria de seus contemporâneos, principalmente por suas ideias idiossincráticas, teve sua obra aclamada por críticos de gerações seguintes, principalmente por sua expressividade e criatividade, abordando temas místicos e filosóficos. Começou a ganhar visibilidade a partir do século XIX, descoberto pelo crítico William Rossetti, dentre outros intelectuais.
PINTURA
A poesia de Blake, acompanhada pela simbologia de suas pinturas, é geralmente caracterizada como parte do movimento pré-romântico que instalava-se na Europa na segunda metade do século XVIII. De acordo com o artigo Radical Blake: Influence and Afterlife from 1827, de autoria de Shirley Dent e Jason Whittaker, as pinturas de Blake continuam algo de filosófico e profético, e sugere que a arte surrealista da Inglaterra foi criada a partir do trabalho visionário do artista, que teve grande influência no trabalho de pintores, como Paul Nash e Graham Sutherland, expoentes da arte britânica na primeira metade do século XX. O crítico de arte Jonathan Jones, em artigo para o jornal The Guardian, declarou Blake como “o maior artista já produzido pela Inglaterra”.
No mesmo periódico, a autora Fiona Maddocks fez uma seleção das 10 melhores obras pintadas por William Blake. A pintura em aquarela ‘Cristo no Sepulchre guardado por anjos’, de 1805, está em primeiro lugar da lista. “Esta aquarela com caneta e tinta é uma entre as 80 pinturas bíblicas encomendadas pelo patrão de Blake, o servidor público Thomas Butts”, conta Maddocks. “Descreve o momento em que Maria Madalena visitou a tumba de Jesus, depois da crucificação, e encontrou dois anjos pairando no lugar em que o corpo se encontrava. […] As cores são tão delicadas que a pintura é quase monocromática. Aos oito anos de idade Blake contou a sua mãe ter visto uma árvore cheia de anjos ‘enfeitando todos os ramos como estrelas’”, conclui.
POESIA
Considerado o livro mais famoso publicado por Blake, Canções de inocência e experiência surgiu em duas etapas. A primeira consiste numa coleção de 19 poemas, foi impressa por Blake em 1879, cinco anos antes de ser anexada a outros 18 poemas em um novo volume com o título de Canções de inocência e experiência revelando os dois estados contrários da alma humana. Os conceitos apresentados por Blake nesta obra fazem referência ao Paraíso Perdido proposto pelo poeta John Milton (Londres, 1608-1674), cujos pensamentos tem como base a liberdade e a autodeterminação. Apesar de possuir estrutura simples e direta, é composto por linguagem e ritmos cuidadosamente elaborados.
Blake usava poemas de estrutura simples e curta para criticar e discutir práticas de sua sociedade. Apesar de o primeiro livro, Inocência, mostrar uma percepção ingênua das belezas do campo, em ‘O limpa-chaminés’ e ‘O rapazinho negro’, Blake ataca o tratamento negativo de minorias raciais e o sofrimento causado pelo trabalho infantil. O autor utiliza Experiência para destacar a influência negativa da Igreja, que ele via como corrupta e depressiva. Isso pode ser visto especialmente em ‘O jardim do amor’ e ‘O menino perdido’. No primeiro ele fala da limitação do amor pelas instituições religiosas, enquanto no segundo fala dos sentimentos confusos de um adulto que não teria seguido as orientações de Deus durante a vida.
Em análise geral da coletânea, publicada no site SparkNotes, o autor analisa Canções de inocência e experiência como uma justaposição contrastante entre as percepções bucólicas e inocentes de uma criança e o mundo adulto, repleto de corrupção e repressão. “A coletânea, como um todo, explora os valores e limitações de duas perspectivas de mundo. Muitos dos poemas são lançados como pares, onde a mesma situação ou problema é vista sob as lentes da inocência e em seguida da experiência”, escreve. A primeira parte, segundo o texto, “dramatiza os medos e esperanças ingênuas que rondam a vida das crianças e traçam suas transformações enquanto tornam-se adultas”, enquanto a segunda “lamenta como as experiências ásperas da vida adulta destroem o que há de bom na inocência”.
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