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Uma nova e revolucionária era científica começou

Diário da Manhã

Publicado em 27 de fevereiro de 2018 às 22:27 | Atualizado há 1 semana

Na década de 60 e início da década de 70, a publicação do trabalho do cientista Wer­ner Arber sobre o mecanismo de defesa de bactérias ao ataque de vírus conhecidos como bacterió­fagos (ou fago lambda) teve como desdobramento o início da era da Engenharia Genética. Entretanto, naquela época o próprio mecanis­mo de defesa bacteriana não teve uma repercussão significativa no meio acadêmico.

Retomando a linha de pesquisa de Werner e com um “novo olhar” sobre o estudo da defesa de bac­térias atacadas por vírus bacterió­fagos, as cientistas Emmanuel­le Charpentier e Jennifer Doudna, respectivamente de nacionalida­des francesa e americana, desven­daram inteiramente o mecanismo molecular de defesa imunológica das bactérias. Incrivelmente a com­preensão do processo operacional do sistema de defesa da bactéria permitiu às pesquisadoras concluí­rem que o arsenal de moléculas en­volvidas no processo que passou a ser conhecido como CRISPR CAS 9 (lê-se “Crisper cas nove”), simpli­ficação de “Clustered Regularly In­terspaced Short Palindromic Re­peat”, que pode ser traduzido como “Repetições curtas agrupadas e re­gularmente intercaladas”, executam de forma precisa a identificação de genes “ruins” presentes o DNA, pos­sibilitando assim a substituição por genes “bons”.

Nesse momento há uma grande euforia entre os cientistas que com­preenderam que a maquinaria mo­lecular do sistema CRISPR CAS 9 pode ser aplicada nas células de to­dos os seres vivos dos reinos da bios­fera (Monera, Protista, Fungi, Plan­tae e Animalia), o que significa que o cientista operador pode nocautear genes “ruins” e ativar genes “bons” em conformidade com o propósi­to almejado.

APLICAÇÃO EM DNA HUMANO

A técnica do CRISPR CAS 9 pode ser aplicada em células humanas para clivar o DNA e retirar sequên­cias adulteradas correspondentes a genes mutantes e deletérios para inserir a sequência correta de ba­ses nitrogenadas correspondente ao gene capaz de corrigir a disfunção metabólica. O sistema CRISPR CAS 9, devido ao seu caráter universal, possui um enorme leque de apli­cações. Pode, por exemplo, purifi­car o DNA, fazer repressão de genes “ruins” ou ativação de genes “bons”.

Recentemente, pesquisadores na China conseguiram retirar 95% de genoma do vírus HIV em célu­las humanas. Em síntese, o CRISPR CAS 9 identifica a sequência da in­formação viral que foi integrada ao DNA de linfócitos (células de defe­sa), cliva o DNA e retira a informa­ção viral inserida no DNA Humano.

Outra aplicação de sucesso foi a correção do DNA com gene para a Fibrose Cística, anomalia genéti­ca com alta letalidade em crianças. Nesse caso, o sistema CRISPR CAS 9 identificou o gene deletério mutan­te em células tronco, retirando-o. O gene que responde pela síntese da enzima funcional foi inserido com sucesso no DNA e a célula tronco voltou ao paciente para se diferen­ciar em células saudáveis.

Os chineses também aplicaram o CRISPR CAS 9 para produzir por­cos resistentes a vírus, com gran­de sucesso. No ambiente acadêmi­co da área de genética molecular já se fala muito que com o CRISPR será possível mudar o “pool gênico” das populações humanas. De fato, se genes deletérios não passarem para as próximas gerações e genes “bons” passarem – dizem eles – tere­mos seres humanos potencialmen­te mais saudáveis.

Inimagináveis operacionalida­des são conjecturadas todos os dias e como a técnica é de baixo custo e de fácil execução, as aplicações de­vem ser bem avaliadas, com mui­ta responsabilidade, para que não ocorram abusos de transgressão da bioética.

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