Opinião

499 anos da Reforma Protestante

Diário da Manhã

Publicado em 2 de novembro de 2016 às 23:23 | Atualizado há 8 anos

Em 31 de outubro é comemorado em todo o mundo o dia da Reforma Protestante. No Brasil e em vários países de língua espanhola é mais comum usarem a denominação “evangélicos”.

Quatrocentos e noventa e nove anos atrás, em 1517, um dia antes da festa católica de “Todos os Santos”, o monge agostiniano Martinho Lutero pregou publicamente suas 95 teses, na porta da Catedral da cidade de Wittenberg, na Alemanha. Seu apelo era por uma mudança nas práticas da Igreja Católica, por isso o nome “Reforma”.

A iniciativa teve consequências por toda a Europa, dividiu reinos, gerou protestos e mortes. E mudou para sempre a Igreja. Para alguns, Lutero destruiu a unidade do que era considerada “a” igreja, era um monge renegado que desejava apenas destruir os fundamentos da vida monástica. Para outros, é um grande herói, que restaurou a pregação do evangelho puro de Jesus e da Bíblia, o reformador de uma igreja corrupta.

O fato é que ele mudou o curso da história ao desafiar o poder do papado e do império, e possibilitou que o povo tivesse acesso à Bíblia em sua própria língua. A principal doutrina de Lutero era contra o pagamento de penitências e indulgências aos líderes religiosos. Ele enfatizava que a salvação é pela graça, não por obras.

Conta-se que muita coisa mudou dentro daquele monge até então submisso ao papa quando, em 1515, Lutero começou a dar palestras sobre a Epístola aos Romanos. Ao estudar as Escrituras se deparou com o primeiro capítulo de Romanos, que decretava “o justo viverá pela fé”. Desvendava-se diante dele o que é conhecida como “justificação pela fé”, ou seja, a justificação do pecador diante de Deus não é por um esforço pessoal, mas sim um presente dado àqueles que acreditam na obra de Cristo na cruz.

O movimento encabeçado por Lutero ocorreu durante um dos períodos mais revolucionários da história (passagem da Idade Média para o Renascimento) e mostra como as crenças de um homem podem mudar o mundo.

A controvérsia acabou sendo, segundo historiadores, maior do que Lutero pretendia ou imaginara. Porém, ao atacar a venda de indulgências por parte da igreja, acabou opondo-se ao lucro obtido por pessoas muito mais poderosas do que ele.

Segundo Lutero, se era verdade que o Papa tinha poder de tirar as almas do purgatório, devia usar esse poder, não por razões egoístas, como a necessidade de arrecadar fundos para construir uma igreja, mas simplesmente por amor, e devia fazê-lo gratuitamente. A idolatria aos santos também foi um dos grandes pontos de discórdia com os líderes católicos.

A maioria dos historiadores concorda que Lutero teria tentado apresentar seus argumentos ao Papa e alguns amigos de outras universidades. No entanto, as teses colocadas na porta da Catedral de Wittemberg e os muitos argumentos teológicos impressos e distribuídos por ele nos meses seguintes, acabaram se espalhando por toda a Europa, fazendo com que ele fosse chamado ao Vaticano para se retratar perante o Papa. A partir de então, entrou abertamente em conflito com a Igreja Católica.

O Papa Leão X com o intuito de terminar a construção da Basílica de São Pedro determinou a venda de indulgências (perdão dos pecados) a todos os cristãos. Lutero, que foi completamente contra, protestou com 95 proposições que afixou na porta da igreja onde era mestre e pregador. Em suas proposições condenava a prática vergonhosa do pagamento de indulgências, o que fez com que Leão X exigisse dele uma retratação pelo ato. O que nunca foi conseguido. Leão X então excomungou Lutero em 1520, que em mais uma manifestação de protesto, rasgou a Bula Papal (documento da excomunhão), queimando-a em público. Devido a esses acontecimentos, Lutero temendo a morte, ficou exilado no Castelo de Wartburg, por cerca de um ano. Durante esse período trabalhou na sua tradução da Bíblia para o alemão, resultando na impressão do Novo Testamento em setembro de 1522.

Lutero expressa suas idéias através de três obras, “A Liberdade Cristã”, nesse livro, pregou que somos livres em Cristo. Negou nessa obra que somente o papa pudesse interpretar as Escrituras, mas que podiam ser lidas e interpretadas por qualquer cristão sincero. “Apelo à Nobreza”, livro no qual Lutero faz um apelo para povo se unir contra a Igreja Católica Romana. “Cativeiro Babilônico da Igreja”, aqui Lutero afirmava que a Igreja estava vivendo num cativeiro, assim como o povo de Israel esteve na Babilônia escravizado.

As principais doutrinas defendidas por Lutero era a Justificação pela Fé, baseado nos ensino de Paulo, Lutero ensinava que o homem não é justificado pelas suas obras, mas pela fé em Jesus Cristo. Outra doutrina defendida é a Infalibilidade da Bíblia, para o monge agostiniano, a Bíblia deve ser considerada infalível e acima de toda e qualquer tradição religiosa. Enquanto a Igreja Católica Romana defendia a idéia de que o papa era infalível e a Bíblia era sujeita à sua interpretação, Lutero afirmava que a Bíblia estava acima do papa, pois ela é a Palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo. Era defendida ainda a doutrina do Sacerdócio de todos os cristãos, Martinho Lutero negava o conceito que afirmava ter o papa poderes sobrenaturais como intermediário entre o povo e Deus. Ele defendia a idéia de que todo cristão é um sacerdote e tem livre acesso à presença de Deus. Cristo é o único intermediário entre o home e Deus. Foram 3 os princípios fundamentais da Reforma Protestante, A Supremacia sobre a tradição, A supremacia da Fé sobre as obras  e a Supremacia do povo sobre o sacerdócio exclusivo.

A Reforma Protestante é conhecida pelos cincos “Solas”, que são frases latinas que definem princípios fundamentais da Reforma Protestante em contradição com os ensinamentos da Igreja Católica Romana. A palavra latina “sola” significa “somente” em português. Os cinco solas sintetizam os credos teológicos básicos dos reformadores, pilares os quais creram ser essenciais da vida e prática cristã.

Sola Fide, Somente pela Fé, é o ensinamento de que a justificação é recebida somente pela fé, sem qualquer interferência de boas obras, embora sejam importantes para o cristão.

Sola Scriptura, Somente a Escritura, é o ensinamento de que a Bíblia é a única palavra autorizada e inspirada por Deus e, é única fonte para a doutrina cristã, sendo acessível a todos.

Solus Christus ou Solo Christo, Somente Cristo, é o ensinamento de que Cristo é o único mediador entre Deus e o homem e que não há salvação através de nenhum outro o que significa que a salvação é somente por Cristo.

Sola Gratia, Somente pela Graça é o ensinamento de que salvação vem por graça divina ou favor imerecido apenas, e não como algo merecido pelo pecador. Isto significa que a salvação é um dom imerecido de Deus por causa de Jesus.

Soli Deo Gloria, Glória somente a Deus, é o ensinamento de que toda a glória é devida somente a Deus, pois a salvação é realizada unicamente através de sua vontade e ação e não só da toda suficiente expiação de Jesus na cruz, mas também o dom da fé em que a expiação é criada no coração do cristão por meio do Espírito Santo. Os reformadores acreditavam que os seres humanos, mesmo santos canonizados pela Igreja Católica Romana, os papas e a hierarquia eclesiástica não eram dignos da glória que lhes foi concedida, isto é, não se deve exaltar tais pessoas por suas boas obras, mas sim louvar e dar glória a Deus, que é o autor e santificador dessas pessoas e suas boas obras.

Martinho Lutero, de fato foi um vencedor, apesar das tentativas para o condenarem, o Papa e o Imperador Carlos V, não conseguiram. Quando foi convocado a comparecer ao concílio diante do Imperador, ele expressou-se destemidamente da seguinte forma: “É impossível retratrar-me, a não ser que me provem que estou laborando em erro, pelo testemunho das Escrituras ou por uma razão evidente. Não posso confiar nas decisões de concílios e de Papas, pois é evidente que eles não somente tem errado, mas se tem contraditado uns aos outros. Minha consciência está alicerçada na Palavra de Deus. Assim Deus me ajude”. Uma das expressões mais profundas do sentimento de Lutero está no hino de sua autoria, Castelo Forte, que diz:  “Que a Palavra ficará, sabemos com certeza, e nada nos assustará, com Cristo por defesa, se temos de perder os filhos, bens, mulher, embora a vida vá, por nós Jesus está, e dar-nos-á seu Reino”

Em 31 de Outubro de 2016, a Reforma Protestante comemorou 499 anos.

 

(Ian Leão, 21 anos, membro da Sociedade Dramática e Literária)

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