A análise psiquiátrica do eleitor de Bolsonaro
Diário da Manhã
Publicado em 29 de setembro de 2018 às 23:29 | Atualizado há 6 anosComo bom megalomaníaco, me julgo um cara inteligente. Provo aqui, no entanto, que a “burrice” que eu via no brasileiro é na verdade uma inteligência maior que minha pretensa sabedoria. Para isso, parto de uma análise psiquiátrica da mente daqueles que votam no Bolsonaro.
Durante muito tempo tive raiva do povo brasileiro , entre outras, por gostar mais de futebol do que de discutir, divergir e criticar os rumos político-sociais da nação. Sempre vi nisso sentimentos baixos : egoísmo, superficialidade, intelectualidade rasa, preocupação individualista de só valorizar os amigos, família, círculo próximo, interesses econômico-profissionais pessoais.
Os cientistas políticos também se indignam com a maneira como o brasileiro vota : são se preocupa com o coletivo, com a ideologia do partido, com os programas do candidato. Vota pensando como aquele candidato poderia resolver seus problemas junto ao Estado, protegê-lo do Estado, defender seus interesses pessoais, corporativistas, junto ao Estado.
O brasileiro, por índole, nunca acreditou no Estado; silenciosamente vem diminuindo o Estado em sua vida, pagando escolas, médicos e hospitais, medidas de segurança e seguros, etc. O brasileiro sabe que o mote “Estado cuida da Saúde , Educação, Segurança” não passa de balela para os “pobres”. Este tipo de conduta de demissão levou a classe média a entregar o Estado para três grupos de interesses : os grandes empresários ( capitalismo de Estado ), o funcionalismo público ( os que usam do Estado para salários e benesses ), e os que dizem usar do Estado para proteger os fracos ( os esquerdistas e estatizantes ). Todos os grupos têm, na verdade, usado do Estado para interesses puramente pessoais , e para isso sugam cada vez dessa classe média até então indiferente à política.
Assim vem sendo há séculos, até que o “caldo entornou” : os esquerdistas, dominando o Estado, em conúbio com o Grande Capital, começaaram a solapar os princípios morais dessa classe média. Começaram a dizer como criar os filhos, como deve ser a sexualidade, como devem ser nossas crenças politicamente corretas, como devemos “sacrificar ao Estado” nossa meritocracia, nossa estrutura de família, religiosidade, nossas profissões, propriedades, nossas empresas , enfim, até nossa consciência.
Este último sacrifício, o da própria consciência dos princípios morais, acendeu a luz vermelha da Sociedade para o descaso indiferente e despreocupado com que ela tratava o Estado. Resolveu votar em um candidato cuja maior plataforma é a restauração desta “moralidade perdida”. O voto nele não é para “fazer algo no Estado”, mas sim para impedir que continuem fazendo o “uso imoral” do Estado.
O brasileiro continua sem acreditar no trabalho positivo do político ( “ele vai fazer algo de bom para o povo”), mas aposta no seu trabalho do negativo ( “tirar de lá aqueles que estão usando do Estado para corromper nossos princípios morais, familiares, religiosos, patrimoniais” ). No fundo, o brasileiro continua acreditando que seus princípios individuais-familiares valem mais do que as decisões de um colegiado ou de uma pretensa democracia.
Tenho de dar a mão à palmatória : o tal do brasileiro tem mais sabedoria do que eu pensava. Nessa área político-social, os mais inteligentes, aqueles que têm mais ideias, mais ideologias, são os que mais produzem estragos, vide Marx, Nietzsche, Schmitt, Maquiavel, Lênin, Robespierre, Hitler, Mussolini, etc. Os “mais burros”, portanto, são os mais inteligentes. Cuidar da família é mais iimportante do que cuidar de um Estado; um ente que, ao final das contas, irá servir cada vez menos para alguma coisa.
(Marcelo Caixeta, psiquiatra)
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