Opinião

A árvore da vida

Diário da Manhã

Publicado em 28 de março de 2017 às 02:17 | Atualizado há 8 anos

Continua… “Quando Hórus atingiu a maturidade ele se pôs a caminho para achar Set e travar guerra contra o assassino de seu pai. Finalmente eles se encontraram e uma luta brutal se seguiu. Embora Set fosse derrotado, antes de ser por fim arremessado ao solo, conseguiu arrancar o olho direito de Hórus e guardá-lo. Mesmo após essa luta, Set pôde perseguir Ísis, estando Hórus impotente para impedi-lo até que Thoth fez Set entregar-lhe o olho direito de Hórus que ele arrebatara. Thoth então levou o olho a Hórus e o recolocou em sua face, devolvendo-lhe a visão cuspindo sobre ele. Hórus, a seguir, procurou o corpo de Osíris a fim de restituir-lhe a vida, e quando o achou desatou as bandagens para que

Osíris pudesse mover seus membros e ressuscitar. Sob a direção de Thoth, Hórus recitou uma série de fórmulas à medida que apresentava oferendas a Osíris… Abraçou Osíris e assim transferiu a ele seu ka, isto é, sua própria personalidade e virilidade vivas, e lhe deu seu olho, aquele que Thoth resgatara de Set e recolocara em sua face. Logo que Osíris comeu o olho de Hórus… recuperou com isso o completo uso de todas as suas faculdades mentais que a morte suspendera. Prontamente ergueu-se de seu esquife e se tornou o Senhor dos Mortos e Rei do mundo inferior.”

Marte e Ares são os equivalentes grego e romano, sendo venerados como os deuses da guerra e das batalhas, prosseguindo com a ideia essencial de Geburah, força, vigor e energia.

É relativamente a Tiphareth e aos deuses a ela associados que desejo me alongar um pouco mais porquanto são eles que mais do que quaisquer outros concernem à aspiração do mago. Como Tiphareth é a esfera da beleza e da harmonia, bem como a “casa da alma”, os deuses tradicionalmente associados a essa Sephira são, de modo peculiar, simbolizadores e representativos da alma glorificada, ou o Santo Anjo Guardião. Dionísio, Osíris, Mitra e muitos outros são todos tipos de imortalidade, beleza e equilíbrio. Maurice Maeterlinck sintetizou esplendidamente toda a posição filosófica a este respeito. “Dionísio” diz ele, “…é Osíris, Krishna, Buda; ele é todas as encarnações divinas; é o deus que desce ao homem, ou melhor, manifesta a si mesmo no homem; ele é morte, temporária e ilusória, e renascimento, real e imortal; é a união temporária com o divino que não é senão o prelúdio da união final, o ciclo infindável do eterno tornar-se.” As divindades típicas de Tiphareth, por conseguinte, representam a alma iluminada, exaltada mediante o sofrimento, aprimorada mediante a provação e ressurgida em glória e triunfo. Pode-se supor que Osíris seja distintamente representante dessas divindades rejuvenescentes, e há evidências favoráveis ao fato de desde o início Osíris ter sido para os egípcios o homem-deus que sofreu e morreu, e ressuscitou para ser rei do domínio espiritual. Os egípcios acreditavam que podiam herdar a vida eterna como ele fizera visto que o que fora feito pelos deuses para ele, fora feito para eles, o que supria a base racional para a execução do chamado ritual dramático. Celebravam rituais de maneira a poderem compelir ou persuadir Osíris e os deuses que haviam produzido sua ressurreição (a saber, Thoth, “o senhor das palavras divinas, o escriba dos deuses”, Ísis, que empregava as palavras mágicas que Thoth lhe concedera e Hórus e os demais deuses que realizaram os ritos que produziram a ressurreição de Osíris) a atuar a seu favor tal como tinham atuado a favor do deus.

A veneração de Mitra e Dionísio emerge da mesma raiz básica. Liga-se, também, ao triunfo espiritual do homem-deus e o retorno do deus-Sol que, como um símbolo da alma aperfeiçoada, entrou na consciência humana do ser humano, e tendo iluminado a mente e redimido as trevas de sua vida, torna o espírito aprisionado leve e jubiloso. Krishna, igualmente, é um símbolo do homem-deus, pois nele espírito e matéria foram equilibrados, e se convertendo num avatar, a morada terrestre do espírito universal, ele resumiu numa personalidade humana as qualidades duplas de um deus, imortal e estático, juntamente com todas as características típicas da espécie humana.

O Sol é também atribuído a Tiphareth. Assim, Ra – incluindo Tum e Kephra, o sol poente e da meia-noite – pertence a essa série de deuses. A concepção do sol era tão santa para o egípcios que eles concederam a Ra os atributos de luz e vida divinas; ele era a personificação do correto, da verdade, bondade e, consequentemente, o destruidor das trevas, da noite, da perversidade e do mal. Suas relações com Osíris, que era parte deus, parte homem e a causa e tipo de imortalidade para a humanidade, eram de imediato aquelas de um deus, um pai e um igual. Era em Ra que algumas das mais nobres concepções religiosas dos egípcios se concentravam e de deus solar, o doador do sustento e da vitalidade, tanto físicos quanto espirituais, aos habitantes da Terra, ele se tornou identificado a Amon, o poder criador oculto que dera origem a todo o universo manifesto.

A natureza de Osíris é bem conhecida nas lendas. Ele ensinou como usar o cereal e a cultivar a uva aos homens, sendo que nessa última fase é claramente identificado com Dionísio-Baco, o deus da vitalidade transbordante e dos êxtases para os gregos. Com o tempo Osíris passou a ser considerado o rei dos mortos e o guia das almas saindo das trevas da terra para o domínio venturoso onde, conforme sua teologia, as almas gozariam da visão plena da divindade, sem restrições. Aquele que partiu desta vida, se a vida fora bem vivida, é de uma maneira mística identificado com Osíris. Na vida do deus ele também não desempenha papel sem significação. Dionísio era venerado na Grécia como o poder que produzia folhas, flores e frutos nas árvores. A vinha, com seus cachos de uvas das quais procedia o vinho que alegrava os corações dos homens, era seu maior encargo, mas de modo algum o único. Como deus das árvores e da vinha, ele é uma divindade afável e gentil, enobrecendo a humanidade e a vida dessa, comprazendo-se na paz e na fartura, proporcionando riqueza e exuberância aos seus adoradores.

Embora na lenda fustigado pela tempestade, torturado e dilacerado por seus perseguidores, o deus portador do tirso foge dos inimigos que o perseguem e se ergue mais uma vez para vida nova e atividade renovada. Com o nome de Iacos, o irmão ou noivo de Perséfone, teve sua participação com ela e Deméter nos ritos de Elêusis. Pode ser interessante salientar de passagem que Perséfone é uma atribuição do Reino, denominado no Zohar a Virgem, a Noiva do Filho que está em Tiphareth. Foi esse benevolente jovem Dionísio, a divindade sofredora e transformada, de imediato evanescente e perpétuo, morrendo e irrompendo novamente para uma nova vida espiritual que foi a principal divindade dos poetas e místicos da seita chamada órfica, em cujos mistérios a alma e seu destino quando libertada do corpo se tornou o objeto preponderante.

Um deus similar, expressando a mesma ideia de equilíbrio espiritual e transformação, um deus que possui características quase idênticas às de Dionísio, era Mitra, o deus persa da luz, a luz do corpo e a luz da alma. Tipificava a força brilhante do Sol que, infalivelmente, conquista dia após dia e ano após ano os poderes das trevas e seus terrores. Mitra, comumente venerado numa caverna que, originalmente talvez representando o recesso sob a terra onde se supunha que o sol à noite se ocultava, passou a significar para os adoradores devotos o abismo da encarnação dentro do qual a alma necessita descer. E então, como o próprio deus, eles poderiam ascender, purificados por muitas provas e sofrimentos com glória e exaltação.

A deusa Hathor, bem como Afrodite e Deméter, estão associadas à Sephira Netzach, Vitória. Nos remotos tempos do Egito, Hathor era tida como uma deusa cósmica e acreditava-se terem elas sido, como a deusa-vaca, a personificação do poder gerador da natureza que se mantinha perpetuamente concebendo e criando, produzindo e conservando todas as coisas. Ela era a “mãe de seu pai e a filha de seu filho”, o que de chofre recorda a fórmula tradicional do Tetragrammaton. Parece ter havido muita conexão entre ela e Ísis e Nuit, a rainha e personificação do espaço. Já mencionamos a lenda segundo a qual Hórus matava Ísis cuja cabeça é transformada por Thoth na cabeça de uma vaca, a cabeça de Hathor. Isso era sugerido para inferir a transformação evolucionária das energias geradoras cósmicas de Ísis de acima do Abismo para uma esfera mais mundana de manifestação. Há várias formas que a retratam, a mais frequente sendo a de uma vaca. Às vezes, Hathor é representada como uma mulher com um par de cornos dentro dos quais repousa o disco solar, outras com uma tiara de abutre à frente da qual está a serpente Uraeus encimada por cinco outras Uraei. Na parte posterior de seu pescoço é usualmente encontrado um símbolo que significa alegria e prazer, e às suas costas existe também uma espécie de xairel com um desenho linear, e o conjunto de seu corpo é por vezes marcado por cruzes, o que pretende provavelmente representar estrelas. Nessa última retratação, ela indubitavelmente representa Nuit de cujos seios, se diz, o leite das estrelas flui. Ela representava, como Hathor, não apenas o que era verdadeiro como também o que era bom, e tudo o que é mais excelente na mulher como esposa, mãe e filha. Era também a deusa patrona de todos os cantores, dançarinos e foliões de todos os tipos, das mulheres belas e do amor, dos artistas e das obras de arte. É nessa associação que ela é comparável com Afrodite, a dama do amor. Como equivalente a Deméter, ela significa a fecundidade aparentemente inesgotável, a geração de plantas e animais sucedendo-se entre si na terra, à terra tendo que retornar. Era sem dúvida como a deusa fértil da vegetação e agricultura que ela era venerada, particularmente porque os antigos consideravam o cultivo e o desenvolvimento como um ato de amor. “Continua…”

 

(George Oliveira, jornalista. George Oliveira / Facebook, georgeoliveira777 / Instagram, @georgeoliver777 / Twitter)

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