A decadência do Marconismo
Diário da Manhã
Publicado em 6 de setembro de 2018 às 23:32 | Atualizado há 6 anosQue nome daríamos a um processo de lenta mas persistente desintegração? Decadência. Não tem outro.
Que adjetivo empregamos para descrever uma coisa que se tornou disfuncional e que não realiza mais os fins para os quais foi criada? Decadente. Não há outro.
A decadência começa por dentro, entropicamente. É a falência múltipla dos órgãos. A estrutura desaba sobre si mesma, num colapso implosivo. A casa vira tapera, e então um leve sopro vindo de fora a faz desabar de vez. O velho Hegel decretou que tudo que existe merece perecer. A dialética não perdoa.
O marconismo é um sistema de forças política decadente, que tem como centro de gravidade o sr. Marconi Perillo, – ex-governador de Goiás e candidato a senador. Mas a decadência do marconismo não começou hoje. Ela foi posta em evidência pelo avanço arrasador do favoritismo eleitoral de Ronaldo Caiado. Mas sua gênese pode ser localizada no início do quarto governo de Marconi Perillo.
Dos quatro governos de Marconi, este último tem sido o pior. Passará à história como o pior. Nos anteriores, Marconi foi essencialmente desenvolvimentista. Neste último, ele foi um seguidista ingênuo do neoliberalismo. Trocou a ousadia pela mediocridade dos ajustes fiscais, da busca neurótica do equilíbrio das contas públicas – que continuam desequilibradas, por sinal – e pela retórica cretina da “excelência em gestão” e outras babaquices do gênero.
Esperava-se que, neste governo, Marconi pelo menos concluísse obras importantes iniciadas lá atrás. O Sistema Produtor Mauro Borges devia ter entrado em operação há uns cinco anos atrás. Ainda não foi concluído. Os rasputins da comunicação palaciana nada informam a respeito, não esclarecem a opinião pública.
Também vai ficar para o próximo governo a conclusão do aeroporto de cargas de Anápolis, obra de suma importância para a economia goiana. Já devia estar em operação. Ninguém informa por que se arrasta inconcluso. Ninguém dá satisfações à sociedade sobre o que está acontecendo.
E as duplicações das rodovias estaduais que saem de Goiânia? A estrada que vai para Nova Veneza continua com parte do seu trecho até mesmo sem recapeamento. Nem o asfaltamento da estrada que passa em frente à fazenda do pai do governador será concluído este ano.
A ponte do Cocalinho foi concluída há quase quatro anos. Mas somente em julho do ano passado ela foi liberada, porque o governo não conseguia fazer o encabeçamento. Apesar da sua enorme relevância econômica, esta obra não teve a publicidade devida. Os operadores da comunicação do atual governo nunca deram maior importância a esta magnifica construção.
A tramo Sul da Ferrovia Norte Sul, que liga Ouro Verde, Goiás, a Estrela do Oeste, no Pará, tem mais 90% de suas obras construída. Mas está paralisada há anos. Embora seja obra federal, sua importância para a economia goiana é transcendental. Nunca se viu uma pressãozinha sequer do governo goiano para que ela seja terminada. Alcides Rodrigues, quando governador, cobrava de Lula, todo santo dia, a conclusão da Ferrovia Norte Sul. No finalzinho do governo Lula, os trilhos chegaram até o pátio do Daia, em Anápolis. Hoje, a FNS está plenamente operacional.
As obras da ferrovia foram paralisadas porque o governo Temer acha bonito congelar os investimentos públicos, para que os grandes bancos, credores da dívida interna, não fiquem sem receber seus rendimentos. O governo de Marconi aplaudiu esta maluquice e resolveu imitar, no plano interna, esta insensatez macro econômica.
O pior de tudo não é o endividamento brutal que o governo Marconi – ora sob gestão de Zé Eliton – vai deixar para a administração Ronaldo Caiado. O pior é a completa apatia deste governo em face desta tragédia, deste câncer que corrói silenciosamente as finanças do Estado e a economia da região. No fechamento de junho deste ano, esta dívida totalizou 18,9 bilhões de reais. Neste momento, deve ser mais, pois os dados referentes a julho e agosto ainda não foram disponibilizados pela Secretaria do Tesouro Nacional de pelo Banco Central.
São 8,8 bilhões para o Tesouro Nacional, deduzidos diretamente da receita liquida do Estado, à razão de 13% pro solvendo. Quase 10 bilhões para bancos públicos e o resto para os bancos privados, pagos à base do tal “superávit primário”.
É de duvidosa legalidade a metade dessa dívida, que cresce quanto mais se paga. Uma dívida sem contrapartida que há quase 40 anos Goiás vem pagando. Até agora, ninguém, exceto Jorge Kajuru, em entrevista a este Diário da Manhã, falou na necessidade de se auditar esta dívida. Nunca jamais ela foi questionada em juízo. Os governadores temem ser retaliados pela União. Marconi teve 2o anos para levantar a bandeira da remissão dessa dívida. Pelo contrário, preferiu aumentá-la com novas operações de crédito.
E não tem como, a não ser com novas operações de crédito, investir em obras e serviços essenciais, pois a arrecadação, em crescente declínio, mal cobre as despesas correntes, mal cobre a folha de pagamento dos funcionários. Não é só porque a atividade econômica diminuiu que a arrecadação vem caindo. A forma de fiscalizar também contribui para isso. Os postos fiscais de nossas fronteiras estão entregues às moscas. Fiscaliza-se apenas por meio digital.
Mas uma das razões da baixa arrecadação do Estado se deve à política de incentivos fiscais concedidas pelo atual governo. Nada contra. Goiás se industrializou graças a esta política, que foi inciada pelo governo Íris, já em l983. Mas a coisa está saindo do controle. Segundo o Conselheiro Tejota, os incentivos estão atingindo mais de 30% do potencial de geração de tributos, quando na maioria dos estados o índice é de 12%.
Falta uma política de planificação do processo de industrialização de Goiás. Os incentivos deveriam ser direcionados para a implantação de fábricas em ramos incompletos. Goiás, um dos maiores produtores de algodão do Brasil, e que possui polos confeccionistas de primeira linha, até hoje não possui fábricas de fiação e de tecelagem, apesar de já tê-las possuído no passado. Nossos confeccionista compram, em São Paulo, na forma de pano, o algodão cultivado no sudoeste goiano.
Poderíamos ter uma arrojada triticultura no nordeste goiano, livrando o Brasil da sina de importar trigo da argentina. A Emater e a Emgopa há anos completaram a pesquisa necessária ao cultivo de trigo no cerrado, e já tem todo o esquema da extensão rural planificado. Falta o impulso oficial, como o que deu origem ao cultivo da soja em Goiás. Mas o atual governador, que é do nordeste goiano, nunca cogitou de iniciar um programa de tal envergadura, e que lhe consagraria politicamente. Por sua chocante falta de imaginação, será derrotado até mesmo em Posse, sua cidade natal.
(Helvécio Cardoso, jornalista)
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