A eleição presidencial: o dilema da insensatez
Diário da Manhã
Publicado em 27 de outubro de 2018 às 00:14 | Atualizado há 6 anosAtento ao artigo de Liberato Póvoa sobre manifestação da espiritualidade a respeito de questões políticas, não nego a possibilidade de tal fato, mas é de se convir que a questão é muito delicada e, portanto, merece uma apreciação com bastante discernimento.
De acordo com a doutrina espírita, de que sou adepto, não só as pessoas têm seus anjos da guarda, mas também a coletividade, sobretudo as nações.
Segundo o livro “A caminho da Luz” do espírito Emanoel (Pe. Manoel da Nobrega em existência anterior), quando as invasões bárbaras punham em risco a própria cultura do Império Romano, a espiritualidade reuniu nas esferas superiores e resolveu promover a reencarnação de um virtuoso imperador do passado que voltou sob a roupagem de Carlos Magno, para, com sua liderança, chefiar as nações bárbaras e conter seus excessos, inclusive prestando obediência á autoridade religiosa do papa.
É sabido que o anjo Ismael é encarregado de velar pelo Brasil. A igreja católica considera Nossa Senhora Aparecida a padroeira do torrão brasileiro. Tais entidades devem ser invocadas nesta hora tão difícil, quando nossa pátria se encontra diante de um grande impasse numa eleição para escolha de seu presidente.
De um lado, uma pessoa mais capacitada para o exercício de poder, mas representa um partido que esteve muitos anos na presidência e montou um esquema de permanência lastreando numa corrupção jamais vista, e de outro lado alguém que se apresenta como “salvador da pátria”, para empolgar a multidão.
Nunca votei em Lula e candidatos por ele indicados e jamais votaria num candidato que se desponta como simples contestação ao lulopetismo. A primeira vez que votei para presidente, contrariando conselhos de meu saudoso pai, me enveredei no rumo ilusório de Jânio Quadros, o chamado homem da vassoura que varreu a si mesmo, numa frustrada tentativa de golpe, que mais tarde propiciou a implantação do regime militar de triste memória.
Não cometi o erro de votar em Collor de Melo que surgiu como caçador de marajás. Seu extremismo direitista praticou peraltices que nem mesmo a revolução bolchevique da Rússia ousou fazer: o bloqueio das contas bancárias de todos os cidadãos.
Lamentavelmente, sua eleição teve o apoio do famoso médium Francisco Cândido Xavier, que teria dito ser o candidato um grande expoente da proclamação da República, que estaria voltando para restaurar o regime implantado em 1889, aliás uma péssima implantação; A manutenção da monarquia com adoção do sistema inglês teria sido melhor. Um governante latino americano da época chegou a dizer que a queda da nossa monarquia foi a derrubada da única republica existente na América do sul.
Felizmente, o ilustre missionário espírita Chico Xavier não caiu no ridículo de afirmar que Collor seria o Deodoro reencarnado, até porque existe uma mensagem deste, através da psicografia do referido médium, quando Collor já havia nascido e é algo excepcionalíssimo um espírito encarnado, especialmente quando de baixo nível evolutivo, manifestar-se psicograficamente.
Reencarnação é um fato incontestável que a antiga cultura religiosa do extremo oriente já consagrava milênios antes da era cristã, mas situá-la historicamente, isto é, afirmar que fulano é reencarnação de beltrano trata-se de matéria muito problemática. Jesus afirmou, com sua incontestável autoridade, que o profeta Elias voltou seiscentos anos depois como João Batista (Mateus 11, 14) ambos tinham a mesma identidade de caracteres psicológicos.
Se é verdade que um arauto da republica teria voltado, este seria Floriano Peixoto, cujo temperamento se ajusta mais ao jeitão de Collor. O chamado “marechal de ferro” praticou grandes desmandos no país para consolidar a república. Lembro-me do saudoso prof. Idelfonso Dutra Alvim, na famosa Faculdade de Direito da Rua 20, proclamando, com grande orgulho, que seu ilustre parente Cesário Alvim fora “o único governante na época que não se curvou diante das peraltices de Floriano. ”
Aceito que a eleição de Collor foi um mal menor, porque Lula, naquela época, estava muito dominado pelo radicalismo esquerdista de seu partido e, caso eleito, iria complicar mais ainda a péssima situação em que o país se encontrava. Já em 2002, um Lula mais comedido assumiu a presidência em situação plenamente arrumada e resolveu convocar Meireles para controlar seu governo. Tudo deu certo. Os ventos internacionais sopravam favoravelmente. Colheu toda a lavoura que Fernando Henrique plantou. Depois, quando Dilma entrou, era a hora do plantio e continuou a gastança irresponsável e tudo se destroçou porque não quis manter Meireles no governo — o homem que deveria ser o novo presidente, caso o povo brasileiro tivesse juízo para evitar o atual dilema em que se encontra, que poderá comprometer o sistema democrático em face do ódio reinante numa eleição em que mais uma vez aparece a figura ilusória de um salvador da pátria (repetição do filme Collor de Melo).
Com todo o respeito ao médium Francisco Xavier, mesmo acreditando na grandeza de um Brasil no futuro, não posso crer que, nos anos 90, teria dito que um jovem adolescente com 15 anos na época, seria atualmente o meteoro que ora se apresenta como o “salvador da pátria”, sem o devido preparo para a alta investidura de presidente da República, que antes de 1930 era escolhido em eleições fraudulentas; depois de 30, através de compra de votos com financiamento de empresas e, atualmente, com a força da mídia e o aparato das modernas redes sociais corrompidas pelas noticias falsas onde impera a injúria e a calúnia sem qualquer punição.
(Vivaldo Jorge de Araújo, ex-professor de História e Língua Portuguesa do Lyceu de Goiânia, escritor e procurador de justiça aposentado do Ministério Público Goiano)
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