A expectativa sobre as crianças e o futuro do País
Diário da Manhã
Publicado em 1 de fevereiro de 2018 às 21:10 | Atualizado há 7 anosProvavelmente você já deve ter ouvido a expressão “as crianças são o futuro do nosso País” e, em meio a tal afirmativa, fica clara a responsabilidade herdada pelas crianças de hoje, os adultos de amanhã.
De acordo com a Revista Crescer, a cada hora nascem 321 bebês no Brasil, e, ao nascerem, eles já recebem o peso de serem o futuro do País. Com isso, podemos pensar se realmente a responsabilidade de representar a esperança de uma nação seria mesmo de uma criança, ou será dos adultos responsáveis por sua criação e de toda a sociedade em que está inserida?
É muito comum percebermos a capacidade que muitas pessoas tem de jogarem suas responsabilidades ou frustrações em seu terapeuta, em sua família, nas pessoas de seu círculo de convivência. A transferência de responsabilidade sobre várias situações acontece pela dificuldade do indivíduo em lidar com as próprias limitações. Porém, essa questão – que gera sofrimento para o indivíduo e pode acarretar muitos conflitos em seu meio – deve ser trabalhada no processo terapêutico.
Freud, em sua teoria, nomeou tal comportamento como projeção, isto é, um mecanismo de defesa psicológico em que determinada pessoa projeta seus próprios pensamentos, motivações, desejos e sentimentos indesejáveis em uma ou mais pessoas.
No entanto, quando adultos, afirmam que as crianças são o futuro do nosso País, mas será que existe a consciência de que essas mesmas crianças são educadas e formadas socialmente por nós? Ou será isso uma simples projeção para evitar encarar a responsabilidade social que temos sobre o que elas se tornarão?
Tal projeção pode ser um mecanismo de defesa para sanar os erros da sociedade, dos pais e/ou educadores, deixando sobre as crianças a responsabilidade de salvar uma nação. Há, então, pouca reflexão sobre o legítimo dever que temos de estruturar e desenvolver suas habilidades, regras, limites, consciência social, empatia, caráter e competência.
É possível que nossas crianças realmente sejam o futuro do País, contudo, cabe aos adultos contribuírem para que elas sejam uma boa imagem da formação que receberam, porque elas têm potencial para serem um bom futuro, são destemidas, corajosas, sonhadoras e gostam de aprender. Entretanto, vale ressaltar que elas são o espelho de sua família, assim, serão o reflexo do que aprenderam e, por isso é preciso ter cuidado, firmeza e carinho com o seu desenvolvimento.
(Taynara Edith, psicóloga clínica, A. T. para crianças TEA, graduanda em letras. Coautor: Eduardo Batista, psicólogo clínico e jurídico)
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