Opinião

A hipocrisia da lucratividade na saúde

Diário da Manhã

Publicado em 8 de junho de 2017 às 01:20 | Atualizado há 8 anos

Escuta-se de forma repetida na sociedade sobre a benevolência dos direitos humanos, os cuidados básicos com a saúde, a segurança e a educação: pilares básicos de qualquer rudimentar nação.

O grande problema é a insaciável sede pelo locupletamento. Em outras palavras, o que estraga tudo é a ambição de enriquecer-se.

Grandes empresas, redes, farmácias, governos, médicos, pesquisadores, professores, cientistas e profissionais da saúde, apesar do nobre ofício que os circunda, priorizam altos lucros a custa do sofrimento alheio.

Não vejo a mínima decência ou compaixão no ato de se cobrar 3 milhões por um medicamento. Não há no mundo uma boa alma que consiga explicar e justificar tão alto custo para alguém, que padece de uma grave ou rara, ou até mesmo penosa doença.

Como se não bastasse, ao doente e sua família, convalescida numa situação árdua, ainda levar à falência todas as suas redes de contatos, e muitas vezes sucumbir completamente até a morte do paciente (fato que poderia ser evitado com um desses medicamentos).

Esta semana mesmo foram noticiados alguns medicamentos desse patamar. Não se justifica a medicina ou a ciência diante de tão torpe e inconveniente intuito de lucratividade.

É certo que todo profissional merece ser bem pago, incluindo sua dedicação e competência. Vivemos num sistema capitalista onde o dinheiro é gasto pela própria sobrevivência. Não se fala aqui em desviar o mercado num socialismo construtivista ou numa grande e complexa estrutura à lá Cruz Vermelha ou Médicos Sem Fronteiras.

Falamos do cotidiano normal onde se justifica o parâmetro humanidade. Falamos de vidas, pessoas singulares e importantes para seus grupos. Todos especiais e diferentes de alguma forma que merecem ser protegidos.

Vejo com grande pesar quando anunciam um novo medicamento que utilizará terapia genética, desenvolvido na Alemana e custará quase 5 milhões de reais por paciente (é o caso do “Glybera”, produzido pela empresa holandesa “UniQure”, em parceria da italiana “Chiesi”. O medicamento serve para tratar uma doença rara chamada “deficiência familiar da lipoproteína lípase (LPLD, em inglês). O sangue desse paciente vai se entupindo rapidamente com gordura.

O avanço da tecnologia e o envelhecimento da população estão no centro desse fenômeno que se justifica pelos novos remédios. Cada vez mais se busca por drogas inovadoras com efeitos colaterais menores e com maior sucesso. Por mais caro que tenha sido a pesquisa, não se justifica cobrar um valor desse.

Casos mais simples podem ser citados. A tecnologia cobra seu preço para aqueles que não conseguem obter na Justiça a liberação do remédio gratuitamente. Quem tem atrite reumatoide (que vai inflamando as articulações), pode gastar até 8.000 reais por mês para se tratar com o “Humira”, do laboratório Abbott. Esse gasto é mais do que dobrado, praticamente 17 mil é pouco por mês se a doença da pessoa for hipertensão pulmonar (tratado com o medicamento “Tracleer”, da Actelion).

Quando a doença é rara e grave, é triste pensar assim, mas parece que a empresa farmacêutica quer compensar os lucros nos seus poucos pacientes, arrancando-lhes todos os recursos e, por último, a própria vida. Segundo constam pesquisadores na internet, o medicamento “Ilaris” da Novartis, que combate os sintomas das síndromes associadas à mutação de um gene que codifica a proteína criopirina (CAPs), que são doenças autoinflamatórias provocando urticárias agudas e podem levar à surdez. Há alguns tempos atrás, cerca de 220 brasileiros desembolsam mensalmente mais de 25 mil reais.

Existem exemplos diversos e tratamentos até mais caros. Fico pensando o quão torpe é o fato de alguém querer lucrar em cima de sofrimento alheio. Sem contar as infindáveis teorias conspiratórias insanas relacionadas à saúde mundial. Tenho assistido tais notícias com grande luto emocional. Detesto ser pessimista, mas acho que isso não vai mudar! Até a próxima página!

 

(Leonardo Teixeira, escritor)

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