Opinião

A piranha, um animal que causa terror em certos rios e lagoas

Diário da Manhã

Publicado em 18 de março de 2017 às 02:29 | Atualizado há 8 anos

Dias atrás, falei sobre a arraia, o sucruiú e o belo lobo-guará.

Hoje, deu-me na telha de mostrar aos menos esclarecidos em animais do nosso interior o que é a piranha, o temido carnívoro dos nossos lagos, lagoas e certos rios não só do Tocantins e Goiás, mas, de resto, de toda a região amazônica. Mas há rios caracterizados como infestados de piranhas, como o Javaés, afluente do Araguaia, e que banha Goiás e o Tocantins

No feitio do saboroso pacu, as piranha é um peixe muito voraz, predador e com mandíbulas fortíssimas. A maioria das piranhas são rápidas, mas geralmente atacam quando estão estimuladas para isso. Dentro das inúmeras espécies de piranhas, algumas são canibais e outras não, mas todas possuem comportamentos agressivos. Parentes próximas dos pacus, são facilmente confundidos quando pequenos. Tem a forma de um inofensivo pacu. Sua cabeça é constituída de ossos compactos, duríssimos, de onde sobressaem os olhos graúdos de um vermelho-escarlate. As escamas da piranha são miúdas e de difícil remoção. No mês de dezembro elas estão muito gordas e ovadas, quando suas escamas perdem o colorido e ficam escuras. Nessa fase, suas escamas perdem o colorido e ficam escuras (à exceção da piranha branca), sendo que as da base do flanco são as mais escuras. Procuram aninhar-se à margem dos rios, igarapés e lagos e preferem os locais emaranhados de raízes, onde cavam com a boca pequenos buracos, onde depositam seus ovos. Logo após, macho e fêmea revezam-se na guarda, espantando ou ameaçando qualquer predador.

Peixe essencialmente fluvial, existentes apenas na América do Sul, anda sempre em cardumes, sempre extremamente voraz, havendo cerca de quinze espécies, variando de tamanho entre 18 e 45 centímetros; sempre insaciável, ataca suas vítimas, que podem ser pequenos animais até gigantescos bois, seja nas águas profundas ou rasas. Está sempre em ação de dia ou de noite, e ouve ruídos a dezenas de metros de distância, nadando com excepcional rapidez em direção ao ruído. É por isso que, para melhor pescá-la, o pescador bate com o caniço na água, produzindo agitação e barulho, a fim de atraí-la para o pesqueiro.

Quando ela não tem tempo de aplicar uma dentada numa parte vital de outro peixe, rói-lhe as barbatanas a fim de comprometer-lhe o equilíbrio, a direção e a velocidade, para logo depois devorá-lo.

As piranhas ainda filhotes servem de batedoras, seguindo à frente para tanger os peixes feridos ou impossibilitados de fugir, facilitando o ataque das maiores. Esse pavoroso peixe ataca em geral animais feridos ou quase imobilizados por acidente ou velhice. Contudo, no auge da fome, ataca audaciosamente animais sadios e muito grandes, não sendo raro verem-se vacas desprovidas de mamas, devido ao ataque de piranhas nas lagoas; durante o furor do ataque, costumam devorar suas próprias companheiras. Seja uma grande sucuri ou um jacaré, uma vez feridos, as piranhas não relutam em atacá-los em cardume, com redobrado ímpeto.

Sua voracidade chega a tal magnitude, que já se encontrou piranha dentro de carcaça de bois e outros animais, pois, no afã de devorar, costuma ficar presa dentro do animal em que entrou a poder de dentadas. Nas travessias  de boiadas em rios infestado delas, costumam os tangedores sangrar um animal velho ou doente, para que as piranhas o consumam, enquanto atravessam a boiada. Daí ter surgido a expressão “boi de piranha”, que designa uma situação onde um bem menor e de pouco valor é sacrificado para que em troca outros bens mais valiosos não sofram dano. Também pode referir ao sacrifício de um indivíduo na tentativa de livrar outro indivíduo (ou organização) de alguma dificuldade.

Seu olfato é aprimoradíssimo, sentindo o cheiro de sangue até mesmo na correnteza. Ao sentirem a presença do homem, correm sujando a água em torno do local onde estão depositados os ovos, a fim de ocultá-los do inimigo.

A cor vermelha da piranha é mais forte a partir da lateral para baixo, tornando-se mais acentuada na base do corpo, numa estreita faixa que vai da ponta da mandíbula inferior até a parte final da barbatana anal. Da linha lateral para cima, a cor das escamas varia muito, conforme a idade, a estação do ano e a época do acasalamento, indo do cinza-claro ao prata embaçado. Na pele da piranha jovem existe, em quase toda a extensão do corpo (exceto na cabeça, barbatanas e parte ântero-posterior do dorso), é toda chuviscada com um grande número de pontos azul-escuros.

Os dentes, de forma triangular, são possantes e afiados, implantados em arcadas dentárias semicirculares. Possui 14 dentes superiores e igual número inferiores, sendo os da arcada superior menores do que os da inferior, que possuem o mesmo tamanho, estando os mais da frente em posição ereta, e os demais recurvos para trás; a arcada superior, a exemplo da inferior, tem os dentes da frente implantados a pique, e os demais são recurvados para trás. Os dentes da piranha possuem a curiosidade de terem um dente ainda menor entre cada dois dentes, e, ao contrário do que se supõe, os dentes superiores e os inferiores não se encaixam como uma engrenagem, e no ato da mordida apenas roçam, o que faz com que cortem não só a presa, dilacerando-a, mas também anzóis e arames de seu encastoo.

O rabo da piranha, além de ser o órgão propulsor do corpo, tende e levar o que toca em direção à boca, à maneira do jacaré; a flexibilidade da coluna vertebral permite-lhe que apanhe, com um brusco movimento de encurvamento da parte anterior do corpo, tudo aquilo que a cauda arremessa para a frente.

É um peixe audacioso no grau mais elevado, atacando até mesmo seus predadores naturais, como o jacaré e a lontra, roendo-lhes a cauda para desequilibrá-los, a exemplo do que fazem com os demais peixes. A piranha costuma perseguir um peixe já iscado no anzol, mordendo-lhe a cauda com tamanha firmeza, que acaba sendo trazido com ele no ato de ser retirado da água pelo pescador. Tracajás feridos são comidos por piranhas até a última fibra muscular, deixando apenas o casco e os ossos. Sua mordida é extremamente dolorosa, e até hoje guardo num dedo uma dolorida cicatriz de quando, há mais de vinte anos, fui “premiado” com uma mordida ao tirar do anzol uma piranha preta no Araguaia, em Caseara, no Tocantins.

Cozida, assada, frita ou em forma de caldo, tem sabor inigualável, e pesquisas científicas atestam que sua carne tem alto teor nutritivo e estimulante afrodisíaco.

 

(Liberato Póvoa, desembargador aposentado do TJ-TO, membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e da Academia Dianopolina de Letras, membro da Associação Goiana de Imprensa (AGI), escritor, jurista, historiador e advogado, [email protected])

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