Opinião

A (re)construção do sonho

Júlio Nasser

Publicado em 9 de abril de 2017 às 21:54 | Atualizado há 8 anos

 

O caminho da vitória, da conquista, da realização do sonho é sempre longo, tortuoso, difícil. Nunca é fácil, nem desprovido de desvios e recuos, às vezes um passo para trás, para dar dois para frente.

Assim é na vida, assim é na história.

A direita brasileira e latino-americana, as elites, os dominadores sempre souberam recuperar os pequenos espaços eventualmente perdidos ou em perigo. O povo pobre, explorado e oprimido, e os trabalhadores também nunca deixaram de lutar e se organizar, por mais difícil que fosse o trajeto de luta por direitos, por autonomia e liberdade. E construíram permanentemente os instrumentos de sua libertação.

Ou fugiram para os quilombos, como espaços de convivência livre. Ou resistiram nos seus domínios, como os indígenas, mesmo quando obrigados a ir cada vez mais para os fundos da floresta. Ou construíram movimentos populares, Centrais Sindicais, Comunidades Eclesiais de Base, ONGs, espaços de estudo, resistência e reflexão, partidos políticos como ferramentas para alcançar o sonho de uma sociedade justa, de um Brasil igualitário, com distribuição de renda, solidário, com condições dignas de vida para seus filhos e filhas, seus habitantes e moradores.

A caminhada sempre foi, continua sendo e será longa, dura, árdua, difícil, cheia de curvas e buracos, às vezes traições, ou então repressão. Mas a história anda e o povo oprimido e trabalhador também avança e conquista vitórias e direitos.

Na atual quadra da história, segunda década dos anos dois mil, está sendo de novo assim. Depois de décadas lutando pela redemocratização do Brasil, quando alguns, ainda poucos, sinais de primavera aconteciam, outra vez a tempestade, o medo e a escuridão ameaçam tomar conta do horizonte do país e do continente.

O Partido dos Trabalhadores está em realização do seu Sexto Congresso, a ter início domingo, dia 9 de abril, em sua etapa municipal, em 6 e 7 de maio o Congresso estadual e início de junho o Congresso nacional. O PT surgiu no contexto de enfrentamento à ditadura e de luta  pela redemocratização, da construção e reconstrução do sonho de uma pátria livre e soberana, junto com as greves do ABC e em todo Brasil, das Oposições Sindicais, das ocupações urbanas e rurais, do sindicalismo combativo, para ser um instrumento de luta e representação política de quem nunca sentiu-se verdadeiramente representado na política brasileira e para ser um canal e um partido capaz de produzir um programa de transformação de baixo para cima, de inclusão social, de apontar esperança sendo ao mesmo tempo movimento e instituição, de fazer uma síntese de futuro.

O PT está em Congresso e faz parte, junto com outros atores sociais e políticos, deste permanente processo de (re)construção do sonho. Fugir de práticas carcomidas pelo tempo. Relacionar ética e política, mística e política. Construir um partido na base, com Núcleos populares, com Setoriais de organização e reflexão, com debate político permanente. Um partido de militantes, colados aos movimentos sociais, colado na sociedade, construindo direitos. Um partido com práticas democráticas baseadas em valores comunitários e socialistas. Um partido capaz de propor  um projeto transformador e de mudanças estruturais da sociedade brasileira.

Se isso não foi impossível de se fazer nos difíceis anos 1970/1980, em meio a uma ditadura, por que seria impossível agora, quando há mais liberdade, quando as vozes dos de baixo, fruto de conquistas e avanços nos últimos anos, fruto de governos populares, são mais ouvidas, quando  meios de comunicação estão mais à mão, como este que uso agora para escrever e espalhar este artigo via internet, e disponíveis no cotidiano para todo mundo?

Nada está definitivamente perdido, ninguém está definitivamente derrotado. O sentimento petista continua e está encravado em muitos corações e mentes, mesmo daqueles que não seus filiados ou seus militantes permanentes. O sentimento da mudança, dos direitos e da democracia está nas ruas, está nas escolas ocupadas, está nas práticas solidárias, está nos sentimentos libertários.

Este é um dos desafios atuais e permanentes da militância petista e deste seu Sexto Congresso: recuperar sua voz militante e seu sentido de movimento, tornar seu espaço de instituição permanentemente colado à rebeldia e capacidade de voz crítica e à ousadia militante. Construir e reconstruir o sonho de um Brasil livre, democrático, soberano, igualitário.

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