A solução para a segurança pública no Brasil
Diário da Manhã
Publicado em 8 de setembro de 2018 às 21:47 | Atualizado há 6 anosIsso mesmo! É para aplaudir de pé meus amigos! Talvez esse seja o assunto mais falado nas últimas semanas, sobre como diminuir a ação dos criminosos em nosso país e garantir uma vida mais segura para os cidadãos de bem. E qual foi a saída encontrada e hoje defendida até por representantes de diversos seguimentos religiosos? Algo muito simples e rápido. Dizem os milhões de entendedores do assunto que a questão da segurança pública no Brasil se resolve liberando o porte de armas para a população. Como não pensamos nisso antes!!!
Já tinha lido e ouvido falar da letargia do brasileiro, de como somos demorados para nos apercebermos de coisas simples, mas agora parece que fomos longe demais, não é mesmo? Algo tão simples para resolver nosso grave problema de segurança pública, algo tão fácil de carregar e manusear e, só agora percebemos que a questão da segurança pública no país se resolve com uma simples Glock 17 nas mãos de cada cidadão de bem? É inimaginável como fomos bobinhos esse tempo todo.
Sim meus amigos, estamos perto da resolução do quadro grave de (in)segurança pública que, por ser histórico e sistêmico, assola todo o nosso país. E repito, a medida encontrada é muito simples: armar a população. Também já tinha lido ou ouvido, não sei ao certo, que as soluções para os grandes problemas estão nas coisas pequenas e simples. Pimba! Parece que agora somos um povo sábio e objetivo. Ou será que existe uma saída mais pequena e simples para o problema social da segurança pública brasileira, do que armar a população? Não mesmo, chegamos no máximo da simplificação.
Mas, por que não continuamos nesse esforço de rara intelectualidade e seríssimo comprometimento e aplicamos a mesma linha de raciocínio aos demais problemas que afligem nossos compatriotas? Vamos tentar juntos? Vamos aplicar o suprassumo do paradigma Glock 17 para resolver outros problemas? Mas antes, vou explicar em uma rápida frase, o que representa o “paradigma Glock 17. A frase é: “resolva você mesmo.” Mas vá de vagar, a institucionalização deste paradigma à la faroeste depende de mudanças legislativas complexas e, não apenas da vontade de uma pessoa, a não ser que esta pessoa esteja imersa em 40 graus de febre e alucinações.
Pensem comigo: se a resolução ou a drástica redução da criminalidade no Brasil – que é um problema de Estado – se resolve com uma medida extremamente liberal, isto é, a simples legalização do porte de arma, então já temos uma receita lógica que pode ser aplicada para outros problemas. No caso do aumento da criminalidade e sensação de insegurança, ao invés de cobrarmos que o Estado seja eficiente no cumprimento do disposto no artigo 144 da nossa Constituição Federal, o qual reza que a segurança pública é dever do Estado, a saída encontrada foi tomar nas mãos essa responsabilidade. De igual modo, se aplicarmos o paradigma Glock 17 não teremos mais problemas com a saúde e educação públicas.
Para resolver o problema da saúde, basta estabelecer que cada cidadão tenha o que poderá ser chamado de “porte saúde”. Explico: cada brasileiro terá que se conscientizar de que não deve esperar que o Estado solucione os problemas da saúde pública, mesmo que isso seja, constitucionalmente, uma obrigação do Estado. A solução é simples, e bem individualista também, basta contratar seu plano particular de saúde ou pagar, você mesmo, suas consultas médicas avulsas. Faça valer esse direito que já é seu! Conquiste seu “porte saúde”! Pois portar sua assistência à saúde é melhor que depender dos serviços de um Estado ineficiente, não é mesmo?
Para a educação aplica-se o mesmo raciocínio. Se o Estado não consegue resolver e, se você não quer mais discutir e cobrar que o Estado assuma suas obrigações e aplique um orçamento justo e digno para alavancar a educação pública no Brasil, só resta uma saída muito bem desenhada pelo paradigma Glock 17, tenha, também, o “porte educação de qualidade”. Isso mesmo! Compre a sua educação, pague do seu próprio bolso e… voilà! Problema resolvido.
Mas talvez você esteja se perguntando: A população trabalhadora terá dinheiro para bancar o “porte de arma”, o “porte saúde” e o “porte educação de qualidade”? Bom, economia não é uma preocupação por agora…
(Márcio Greik Viana é Professor, Psicanalista e Jornalista. e-mail: professor[email protected])
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