A tragédia em bom português
Redação
Publicado em 19 de novembro de 2015 às 22:50 | Atualizado há 9 anosNão existe a menor dúvida de que o ataque cruel dos insanos do Estado Islâmico (EI), assassinando pessoas inocentes no coração de Paris, merece atenção, análises exaustivas, repúdio e investigações capazes de identificar e punir os envolvidos. A imprensa brasileira, a exemplo do que acontece em todo o mundo, está cumprindo o seu papel, mostrando que as vítimas do Bataclan representam uma dor que atinge a todos os cidadãos de bem. Ponto.
O que não faz sentido é a ausência de cobertura, nos moldes que espectro funesto exige, do tsunami de lama provocado pelo rompimento da barragem de Mariana. No caso envolvendo milhares de famílias brasileiras, numa catástrofe com dimensões épicas e consequências mortais, numa calamidade sem precedentes no País, a grande mídia atua de forma tímida como se o fato fosse um desses vendavais típicos do El nino. Por que será?
Somos uma sub-raça que, por não falar francês, pode sucumbir ao descaso, à crueldade sem a necessidade de estardalhaço? Afirmo isso considerando que uma massa de terra poluída com minério, saiu triturando tudo o que encontrou pela frente, a uma velocidade de 60 quilômetros por hora, numa dimensão destrutiva que pior do que o tsunami do Japão, numa área mais extensa do que a fatalidade japonesa.
A força da lama aniquilou três rios, inclusive o Rio Doce, vitimando 3000 km do litoral do Espírito Santo. Essa massa destruidora viajou 500 Km em uma semana e as reportagens ficaram no óbvio. Espero, e Deus no livre disso, que este artigo seja publicado tendo rompido também a barragem de São Germano que no momento está trincada. A já ingrata e terrível situação será cinco vezes mais abrangente.
Principalmente para os telejornais, parece que somos uma raça inferior. Já pensaram cidades inteiras, como Valadares, sem água num reduto próximo a Torre Eiffel? Seria merecedor de manchetes alarmantes.
Até o fechamento dessa coluna não sabemos o nome dos assassinos que permitiram a mortandade de peixes, rios, nascentes e gente. Quem são eles? Nomes, por favor. A Polícia Federal prendeu alguém? O Ministério Público já denunciou? Quem vai amargar cadeia por este ato de terrorismo social? Ninguém sabe, ninguém viu. A culpa deve ser de São Pedro. Por santo ser, torna-se inimputável.
Os nossos políticos, tão zelosos quando lhes interessa, se acomodam nas cadeiras, fingem indignação, mas se borram porque os envolvidos são de uma casta especial de doadores de campanha. Que se lixem os tupiniquins atolados no barro.
Causa asco, e espanto, perceber que existe mais lama nos bastidores dessa desgraça coletiva, do que na essência do gravíssimo problema. Gente graúda que controla a mídia segurou, e deverá continuar protegendo, canalhas que deveriam ser expostos tanto quanto dementes que cospem fogo utilizando metralhadoras nos cafés de Paris.
Rosenwal Ferreira , jornalista
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