A valorização da paternidade
Diário da Manhã
Publicado em 13 de agosto de 2016 às 02:35 | Atualizado há 8 anosApesar dos primeiros passos do movimento feminista terem sido dados há mais de 150 anos, durante a Revolução Industrial, ainda hoje vivemos em uma cultura em que as funções sociais de homens e mulheres distinguem-se em muitos aspectos. A diferença pode ser percebida não somente nas leis, que precisam existir para garantir direitos às mulheres, como também nos comportamentos socialmente aceitos para um ou outro gênero e, até mesmo, no que se refere aos sentimentos.
Isso quer dizer que o sentimento pode ser diferente quando falamos de maternidade ou paternidade. Em nossa cultura, o senso comum acredita que as mulheres têm o dom da maternidade, ou seja, que são mães de forma muito instintiva e natural. Aprendemos que a maternidade faz parte da mulher.
Mas e os homens? Será que vivenciam esse sentimento da mesma forma? Acredito que seja possível, embora eles ainda não sejam socialmente treinados para isso. Apesar dos ideais e valores da cultura ocidental estarem se transformando, a mudança é lenta e depende que homens e mulheres se permitam vivenciar seus papéis plenamente, e não apenas da forma aceita pela sociedade.
Há muito tempo, os homens aprendem que o seu papel no lar é o de provedor, não de cuidador. Talvez por conta disso, muitos adiem o desejo de ser pai com o receio de que isso traga também o aumento de responsabilidade. Por questões sociais e até biológicas, parece que o desejo de ter filhos aparece com mais urgência nas mulheres do que nos homens. Enquanto as mulheres precisam se preocupar com a sua fertilidade, os homens buscam firmar-se em suas profissões para sentirem-se seguros em ter a vontade de ter um filho.
É claro que, embora compartilhemos da mesma cultura, toda decisão deve ser sempre muito individual e depende da história de vida de cada um. No entanto, não podemos deixar de considerar a influência que a cultura e a sociedade exercem sobre essa decisão.
O Brasil tem dado passos positivos na valorização da paternidade. Um exemplo disso é a lei que aumenta a licença-paternidade para 20 dias, sancionada em março deste ano. Embora a licença de 20 dias seja uma opção apenas para as instituições que fazem parte do programa Empresa Cidadã, já podemos perceber a preocupação e a importância do envolvimento do pai nos primeiros dias de vida de seu bebê.
Certamente, ao se sentir socialmente aceito para assumir funções consideradas até então como maternas, o homem se permite de forma genuína a sentir o desejo de ser pai e de conectar-se com seu filho. Este é um percurso que deve ser seguido por pais, mães, filhos e toda a sociedade.
(Priscila Camile Barioni Salgado, psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera de Campinas – unidade Taquaral)
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