Opinião

A velhice e a morte

Diário da Manhã

Publicado em 20 de novembro de 2015 às 21:58 | Atualizado há 9 anos

Ontem a noite, mergulhei em pensamentos sobre a velhice, foi um tanto desconfortável imaginar como seria, e comecei a escrever. Todavia, nenhum de nós tem certeza de como será a nossa velhice. Envelhecer faz parte da vida. É uma realidade que todos, ou quase todos, enfrentaremos. Mas estamos preparados para lidar com a velhice?

Começamos a envelhecer tão logo quando nascemos, é a dialética da vida, e a velhice apavora todos nós. Lembro que quando eu era criança e conhecia alguém com mais de trinta anos ficava pensando, “como ele é velho”, fico pensando em como será quando eu estiver como eles. O que terei aprendido? Onde terei andado? Quais caminhos terei trilhado? Sabe aquela coisa de legado que “temos de deixar”?

E hoje, me vejo na casa dos trinta e tenho a mesma sensação de criança, quando vejo alguém de 60 anos penso no que terei feito? Enquanto caminho lentamente fico a pensar: chegar velhice é realmente uma bagagem pesada. Mesmo sendo chamada por alguns de idade de ouro, essa fase outonal da vida não é indolor. Ela foi feita para os fortes. Somente para aqueles que são capazes de carregar a gravidade da vida.

Diante a velhice, tomamos consciência da nossa fragilidade, só não aceita o ato de envelhecer quem nunca aceitou a vida, pois a vida é em si mesma o próprio processo de envelhecer.

Muitas vezes me emociono, inclusive com pessoas muito queridas e próximas a mim. Pessoas que já foram tão dinâmicas, divertidas, desempenharam seus papéis na vida e com o amor que puderam receber e doar de forma brilhante e agora, na idade em que deveriam ser reconhecidas e tratadas com todo o respeito e carinho, muitas vezes, infelizmente, não é o que acontece. Criamos um modelo ideal de envelhecer e direcionamos a vida á isso.

Venhamos e convenhamos, temos que admitir que não é nada simples envelhecer, pois vivemos nos preparando para a velhice e quando chegamos lá estamos completamente despreparados. Pura dicotomia não é?

Talvez seja pelo motivo de que estamos sempre associando velhice a morte. Creio que o grande temor não é envelhecer, e sim de deixar de viver. Sei que mais cedo ou mais tarde todos irão partir, porém, não conseguimos aceitar isso como algo positivo, embora saibamos que é algo irreversível.

Sendo assim prefiro me acalentar com a paz e a doçura das palavras de Gilberto Freire quando diz: “ Venha doce morte… Não, a morte não é doce, mas peço a amarga morte que venha docemente…”

 

(Josanne Gonzaga, poeta com 4 livros publicados e participação em 3 antologias), coach e administradora de Empresas – E-mail [email protected])

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