Opinião

Adeus, dr. Filgueiras!

Diário da Manhã

Publicado em 16 de junho de 2016 às 02:58 | Atualizado há 9 anos

No ano de 1948, dr. Francisco Filgueiras Júnior, médico formado na capital da República e nascido nos pagos mineiros em dezembro de 1924, apareceu em Mineiros, sudoeste da terra goiana. Consta-me que chegou solteiro, mas seu coração já pertencia  a Maria Eduarda. Matrimoniaram-se, constituíram família e se enraizaram na “Terra dos Carijos” que os tomou por filhos e eles a adotaram por mãe. Dona Eduarda – assim o povo a chamava – partiu  há  cerca de três anos.  No último dia 8 ou 9 de maio, ela e outros da família e amigos o receberam na Mansão dos Justos. Junto ao portão, ouviu Filgueiras a voz do Salvador dizendo-lhe:

– Entre, bendito do meu Pai! A casa é sua.

Mineiros era pequenina, pequenina quando ele desceu as malas da esperança sobre seu chão sagrado. Dez anos antes, 31 de outubro de 1938, o antigo distrito jurisdicionado a Jataí ascendera ao status de cidade (Martiniano J. Silva, págs. 17 e 47. “Traços da História de Mineiros”). Comarca criada dia 31.12.1943, instalada a 25.3.1944 (Martiniano, obra citada, pág. 47). Dr. Filgueiras e dona Eduarda poderiam, claro,  procurar centros maiores, mas os Céus os elegeram instrumentos de bênçãos na acolhedora Mineiros, com influência na região, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Diz o escritor Martiniano J. Silva, membro da Academia Goiana de Letras, baiano de nascimento e mineirense por adoção e um dos maiores intelectuais  deste país, que nesse ano, ou seja, 1948, a medicina local se aparelhou graças ao  surgimento do Hospital Samaritano, fundado pelo dr. Suhail Rahal “e o próprio dr. Filgueiras”, aos quais se associaram dr. Carlos Dell Eugênio e Demilson Serafim (pág. 40, autor e obra citados em linhas pretéritas). O Samaritano fez de Mineiros  polo na área da Saúde, situação  consolidada com a inauguração, em 1963, do Hospital Nossa Senhora de Fátima. A este o povo apelidara de “Hospital de Cima”; àquele, “Hospital de Baixo”, em relação aos setores geográficos. Tinham outros apelidos: “Hospital dos Católicos”, “Hospital dos Protestantes”. Filgueiras, Suahil, Carlos e Demilson pertenciam à Igreja Presbiteriana do Brasil. Conta-nos Martiniano, na obre mencionada, que o Nossa Senhora de Fátima foi fundado pelos doutores Luiz Antônio Luciano e João Batista Paniago. Os dois hospitais beneficiaram o norte mato-grossense, afirma. E também a parte convertida em Mato Grosso do Sul, podemos acrescentar.

Mais do que líder religioso,dr. Filgueiras  foi líder cristão. Na igreja, no lar, no exercício da medicina, nos negócios, na cidade, testemunhou a fé. Aprazia-me, e muito, às suas aulas assistir na escola bíblica dominical da Igreja Presbiteriana, ao lado do colégio que leva o nome de outro homem extraordinário e de saudosa memória, reverendo Eudóxio Mendes, na vizinhança da praça Deputado José de Assis (o político de maior destaque da história da terra natal da minha amada esposa). Filgueiras ajudou a criar essa Igreja e essa escola, a CDL e a fundação que mantém o complexo universitário de Mineiros( a terceira mais populosa cidade do Sudoeste), que guarda, na galeria da sua história, o casal dr. Filgueiras e dona Eduarda.

Adeus, homem justo nos seus caminhos!

Adeus, benfeitor de Mineiros!

 

(Filadelfo Borges de Lima, autor de vários livros, membro e patrono  da “Academia Rio-Verdense de Letras, Artes e Ofícios”, maçom grau 33, natural de Jataí e morador em Rio Verde desde 1973. Tem 71 anos e é aposentado no Fisco Estadual de Goiás)

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