Agro reage às declarações de Lula em terras gaúchas
Diário da Manhã
Publicado em 26 de março de 2018 às 22:56 | Atualizado há 7 anosTentando mostrar força política, possivelmente com o intuito de manter o PT e seus aliados vivos para a próxima batalha eleitoral e ainda amedrontar o poder judiciário prestes a tomar posições que possam manter ou não suas pretensões políticas, Lula desembarcou no Rio Grande do Sul. E numa caravana percorreu o interior do Estado, visitando cidades como Passo Fundo, Bagé, Santana do Livramento e São Borja, terra de Getúlio Vargas, o criador da Petrobras.
Nessa incursão, nada teria acontecido demais, se Lula não tivesse atacado fazendeiros que reagiram com barricadas contra a sua presença. O ex-presidente, sem papas na língua, acirrou os ânimos de toda uma categoria, ao dizer que “fazendeiro que pegava dinheiro emprestado do governo federal, ele tinha dois prazeres na vida: um quando ele pegava o dinheiro e o outro quando eles davam o calote no governo”.
A reação foi imediata. Em nota, a Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul) como representante dos produtores, repudiou a declaração.
“(…) Dentre todas as linhas de crédito disponíveis no país, o crédito rural é a de menor inadimplência de acordo com o Banco Central, é um preconceito também com os produtores rurais. Nem os empresários e tampouco os trabalhadores devem favores a ocupantes de cargos públicos”, afirmou a Farsul. Em Goiás, a Faeg também se manifestou em nota, repudiando Lula “pelas suas declarações ofensivas, injustas e inaceitáveis aos produtores rurais brasileiros”. A SGPA não ficou atrás e repudiou “as declarações intempestivas de Luiz Ignácio Lula da Silva, por tentar “jogar estrume no ventilador”.
O site Notícias Agrícolas divulgou, na última quinta-feira, uma nota da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS), assinada pelo presidente Luis Fernando Marasca Fucks, comemorando a reação de ruralistas à passagem da caravana do ex-presidente Lula pelo Estado. Em algumas cidades, produtores rurais e manifestantes anti-petistas atacaram a comitiva de Lula, bloquearam estradas e agrediram fisicamente apoiadores do ex-presidente.
“Contará a história, que num dia do mês de março, tosca caravana, liderada por um corrupto condenado, fez seu trajeto pelo sul do País. Ficará registrado que o povo daquela região, cuja hombridade estava conservada, ‘deu de relho’ no sujeito e seus acompanhantes”, diz o primeiro parágrafo da nota. A SRB se posicionou seu repúdio às declarações de Lula, que durante sua caravana pelo Rio Grande do Sul ofendeu e difamou todos os produtores rurais do País, classificando-os de “ingratos” e “caloteiros”. As declarações são indignas, expressas com o único objetivo de denegrir a imagem e a reputação do setor.
Entendo que Lula tem direito a viajar pelos diferentes Estados. Discordo, pessoalmente, da provocação dele aos produtores rurais como discordo, também, de agressões físicas ou verbais à sua delegação. Em minha visão, o direito de um termina quando começa o do outro. Discordar faz parte do regime democrático. E suas declarações, realmente, foram ofensivas e sem sentido a uma categoria que trabalha de sol a sol, acredita no Brasil e investe na terra para produzir alimentos. O Brasil Rural aprendeu a superar muitas adversidades. E mesmo em crise, produz em escala crescente e, veja bem, sem aumentar área. Graças à tecnologia, sempre bem vinda a eles.
A agricultura e o agronegócio no Brasil contribuíram com 23,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2017, a maior participação em 13 anos, conforme assinala a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Portanto, o setor agropecuário contribui para a redução da inflação, com comida farta e barata. Além de preservar o emprego, geram outros. Por sinal, o único segmento econômico a gerar novos empregos nos últimos meses em que a economia começa a se estabilizar.
Rodinei Candeia, procurador geral no Rio Grande do Sul e múltiplos títulos acadêmicos na PUC-RS, FGV-RJ e Universidade de Barcelona, na Espanha, sentiu-se ofendido como gaúcho. E sem levar desaforo para casa, e declarou “guerra” à caravana de Lula ao interior do seu Estado e ao PT. “O Brasil demorará décadas para desfazer o que o PT fez de ruim no Brasil”. E lembrou que o “gaúcho foi forjado na luta”, exemplificando a Revolução Farroupilha, de forte ideal democrático. Esse seu repúdio foi divulgado pelas redes sociais, inclusive pelo Clube dos Marimbondos, existente em Goiânia, que conta com a participação de produtores rurais e suas lideranças, inclusive do ex-governador Irapuan Costa Junior, atual secretário da Segurança Pública.
Segundo Rondinei Candeia, o ex-presidente Lula tem instigado a luta de divisão de classes, provocando a “briga de irmãos, num verdadeiro ato de traição à pátria, inclusive com seus atos de corrupção sem precedentes na História do Brasil”. Para o mestre do Direito Tributário, Lula “lidera uma caravana provocativa” ao Sul, sobretudo, contra produtores que mostram seu desempenho em crescentes safras agrícolas, graças aos índices de produtividade obtidos, devido ao uso da tecnologia advinda da pesquisa agronômica. Isolamento a ele e vamos voltar os olhos para o Brasil. Este ano haverá eleições. Basta o eleitor escolher os melhores.
Saludos à roda de chimarrão, símbolo da fraternidade gaúcha.
(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histadrut, em Tel Aviv, Israel. Autor do livro: O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)
]]>