Alckmin subestimou o eleitor de Bolsonaro
Diário da Manhã
Publicado em 24 de setembro de 2018 às 23:09 | Atualizado há 6 anosUma técnica muito comum em eleições majoritárias é utilizar Wedge issue para atacar, dividir ou capitanear votos. Os temas polêmicos como aborto, casamento gay, liberação de armas, sexualidade, são usados recorrentemente como ferramentas publicitárias para condicionar o voto e conquistar eleitorados ou desidratar candidaturas. Por isso, é muito importante o estudo dos públicos e das matérias controversas antes de se fazer uma campanha publicitária. Um caso recente de estratégia equivocada é o posicionamento de Geraldo Alckmin como candidato a presidência no que se refere a flexibilização do estatuto do desarmamento.
Ao iniciar sua campanha eleitoral, com o maior tempo de TV, Alckmin atacou o candidato Bolsonaro, tentando pregar a ideia de que o candidato é extremista e radical porque queria resolver os problemas públicos “na bala”. A estratégia de Alckmin é apostar que poderia desidratar Bolsonaro e disputar os votos de um centro mais ponderado e contra a liberação de armas. Apesar disso, a mensagem que ficou é que Alckmin seria contrário à liberação de armas para a população.
Segundo um estudo sobre o debate das armas elaborado pela Levels – Inteligência, startup especializada em compreensão dos debates públicos nas redes sociais, a narrativa de Alckmin acabou sendo igual a de um grupo ou cluster que é tradicionalmente de esquerda e que não teria nenhuma empatia por Alckmin, ou seja, na tentativa de conquistar o “centrão”, o candidato acabou dizendo a mensagem errada para o público errado. O custo de conversão para convencer esse eleitor a votar em Alckmin ou até no PSDB é muito alto, tendo em vista o histórico eleitoral de oposição ao projeto dos tucanos, segundo Leonardo Volpatti, cientista político da Levels – Inteligência.
O estudo sobre o debate do tema nas redes sociais mostra que o eleitor de Bolsonaro advém de uma descrença da classe política tradicional, uma indignação em relação aos escândalos de corrupção e aumento da violência. “O eleitor está descrente e acha que o Estado é ineficiente e incapaz de prender ou proteger a cidadão da violência e dos criminosos, essa descrença total gera a ideia de busca por uma autoproteção e um maior acesso as armas seria essa solução”, diz Fabio Monteiro, socio-fundador da Levels.
Em uma campanha eleitoral majoritária, o candidato deve tomar cuidado ao se posicionar contrariamente aos temas que seus eleitores têm simpatia. Não são raros os casos posicionamentos geram incoerências e reduções das intenções de voto. Outro caso recente foi o da Marina Silva em 2014 que voltou atrás em relação aos seus posicionamentos de governo em relação à política LGBT quando criticada pela comunidade evangélica e o Pastor Silas Malafaia.
Em relação a Alckmin, o tucano que tinha todas as condições estruturais para ser o candidato mais competitivo já que possuia o maior tempo de TV, o maior número de agremiações partidárias, de ter sido governador do estado mais populoso por vários mandatos, enfim, acabou “dando um tiro no pé” ao não entender o perfil de seu potencial eleitor e negligenciar o voto cristalizado do eleitor de Bolsonaro em relação ao tema das armas. Corrupção e violência são os dois principais temas que movimentam as escolhas do voto nessas eleições, Alckmin terá que convencer que tem posicionamentos firmes para esses dois temas, se ainda quiser estar no segundo turno.
(Leonardo Volpatti, cientista político e advogado)
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