Alegrias e tristezas de um economista!
Diário da Manhã
Publicado em 16 de março de 2018 às 01:31 | Atualizado há 7 anos
Anos depois, um amigo me indagou se eu não fosse economista, o que eu gostaria de ser. Respondi prontamente: músico! A música comunica com Deus, justifiquei. Ele retrucou: e se não fosse músico? Eu respondi, de pronto: economista! Assim era a minha vocação e determinação pela ciência econômica, à qual me dediquei de 1969 até os dias atuais. Portanto, sou um profissional feliz e realizado.
- Alegrias – O exercício da profissão foi gratificante pelo fato de ter atuado, colaborado e assumido a direção de grandes programas e projetos. Iniciou-se pelo Fundo de Água e Esgoto, na Codeg, o qual financiou cerca de 60 prefeituras no Estado. Obra de relevante aspecto social e de saúde comunitária. Seguiu-se o trabalho realizado na Secretaria da Indústria, Comércio e Turismo do Estado de Goiás, de completa reformulação de seus programas técnicos, fato que marcou, definitivamente, a entrada do Governo no processo de industrialização. O Governo teve a coragem necessária de constituir nova lei de incentivo à indústria, sob nova forma, financiando parte dos tributos, em especial o ICM. Fui o redator da nova lei, 7.380/71, colhendo subsídios em lei similar do Estado de Minas Gerais. Foi realizado um estudo de viabilidade com municípios selecionados por alguma vocação industrial e concluímos que o primeiro distrito planejado em Goiás deveria ser em Anápolis, daí surgiu o Daia (cópia na Fieg). O estudo foi aprovado pelo Governador Leonino Caiado que designou a Codeg para contratar o projeto técnico definitivo.
Instaurado um sistema de industrialização, com leis de incentivo, locais planejados a cargo da Cia. De Distritos Industriais, faltava incrementar o crédito à indústria, o que foi feito via do Banco do Estado de Goiás/Carteira de Desenvolvimento. Paralelamente, o BEG/CD passou a se responsabilizar pelo Ceag, primeiro braço do hoje Sistema Sebrae, na formação e treinamento empresarial.
Este sistema tomou novos impulsos com o apoio do Programa Polocentro, do Governo Federal. A CD/BEG ganhou agilidade e foi parte decisiva na atração de novos investimentos agroindustriais, aumentando seu poder de ação via repasse de vários fundos (Procal etc.). Vale a pena relatar uma decisão da CD/BEG que resulto em enorme benefício futuro. Em resumo: um jovem do Paraná, em torno dos 22 anos, visitou o Banco e propôs instalar um projeto de agroindustrialização do milho. O milho de Goiás era vendido sem valor agregado. A ideia do projeto era compatível com as vocações agroindustriais do Sul/Sudoeste. O empresário tinha grande conhecimento do assunto, pois desde cedo trabalhava com a família. Verificando o cadastro bancário e as informações prestadas, tudo na mais perfeita ordem. Mas havia uma dificuldade a superar: garantias subsidiárias não havia. Era um grande problema. Eu sempre entendi que crédito para o desenvolvimento tem que suportar parte do risco. Levei a proposta para a Diretoria reforçando o pedido para aprovação, o que não aconteceu. Uma força maior me empurrou para defender a proposta original do projeto, ou seja, a garantia seria a edificação, máquinas e tudo que fosse invertido no projeto. Solicitei à Diretoria do BEG permissão para submeter ao Senhor Governador uma decisão final. Exposição detalhada sobre a performance do projeto foi feita ao Governador Irapuan Costa Júnior que, com determinação, concordou com a aprovação. Final de história: o moço se chamava Alberto Borges, a empresa Caramuru. Hoje esse grupo empresarial é um dos maiores do Brasil!
Em resumo tive a oportunidade de participar ativamente do processo de industrialização de Goiás, que poucos acreditavam! Guardo com uma enorme alegria profissional este vitorioso trabalhador, mais uma vez, por uma questão de reconhecimento, menciono o nome de José Aquino Porto e seus companheiros da Fieg.
Uma participação das mais gratas para mim ocorreu em 2000. O escritório de Planejamento do futuro Governo me convidou para debater o programa “Cesta Básica”. Como economista defendo os programas sociais nos quais haja contrapartida do lado beneficiário, com ressalvas nos casos de países “muito pobres”. Iniciado o debate, dirigido por Giuseppe Vecci, a maioria das propostas apresentadas era de aumento dos itens da cesta básica. Eu era o último a falar e, quando chegou a minha vez, a cesta já era um cestão! Ponderei que a melhor iniciativa visando a dignidade do benefício era a doação pura e simples do dinheiro correspondente, podendo o recebedor gastá-lo onde lhe interessasse. Assim eliminava-se focos de irregularidades que poderiam ocorrer. O coordenador do debate, Vecci, avisou que iria levar as duas propostas para o Senhor Governador e, o resultado foi o Programa Renda Cidadã, adotado meses depois pelo Governo Federal e assumido depois pelos governos posteriores com mais ênfase! O atual presidente da FIEG, Pedro Alves, deu apoio decisivo.
Fato que me honrou bastante foi o convite da Diretoria do BNDES, em 2015, para participar de Seminário, no Rio de Janeiro, sobre a região Centro Oeste. Dos debates surgiu o livro “Rumos do Centro Oeste’, no qual participei com um artigo e fiz a apresentação em Brasília, por ocasião do lançamento oficial do documento.
- Tristezas e Revoltas – Quando se levanta os indicadores econômicos e sociais do Brasil e os compara com o resto do mundo, uma constatação aparece gritante, qual seja, a diferença entre os mesmos. O Brasil cresceu sua produção nos últimos 50 anos, alcançando destaque no PIB e em outros indicadores econômicos, mas nos indicadores sociais, fracassamos. É enorme a diferença de renda entre as diversas classes sociais, chega a “revoltar” qualquer profissional de nível superior que estuda o tema.
O povo brasileiro, no seu conjunto de forças positivas, tem a obrigação de reverter, num médio prazo de 30 anos, tornando esses indicadores próximos a uma realidade de respeito e justiça social, iniciando-se uma nova era de entendimento social em nosso país.
A prestação de serviço público na área social deve melhorar, pois, prosseguindo como está, envergonha e inviabiliza o país como sociedade. A conjugação de orçamento público, prestação de serviços e planos e programas de governo devem se alinhar, metodicamente, para não gerar déficit público com má qualidade do serviço!
No campo profissional, a maior das tristezas foi a forma como foi liquidada a Caixego, tradicional casa de poupança que muito fez pelo progresso de Goiânia. Em julho/1989, recebemos carta elogiosa do Banco Central concedendo-nos novas cartas patentes. Justificar a liquidação baseada em prejuízo foi o maior engodo já imposto a um Estado da Federação. Qualquer cidadão, com razoável conhecimento financeiro-contábil percebe que a manipulação do balanço contábil da empresa foi a forma utilizada, esquecendo-se de constar do Ativo os créditos que a Caixego tinha direito do FCVS, posteriormente recebidos e que somaram mais de R$ 400 milhões! Enfim, autoridades federais cometem seus enganos, mas o correto seria responder, juridicamente, por eles.
Conclusão: Quando refaço os meus cálculos e somo os benefícios e os custos, realizo que a profissão de economista me proporcionou mais alegrias do que tristezas.
Escrevi ao longo desse tempo mais de 200 artigos publicados pela imprensa, sendo 2 deles na Gazeta Mercantil.
Realizei e coordenei inúmeros importantes trabalhos técnicos que resultaram em mais progresso para Goiás e para o Brasil e fui, sem dúvida, um dos elos da luta pela industrialização goiana.
(Reinaldo Fonseca, consultor Fieg)
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