Aparentemente, a Prefeitura de Goiânia ganha a batalha contra os médicos
Diário da Manhã
Publicado em 4 de abril de 2017 às 01:37 | Atualizado há 8 anosOntem ouvi uma repórter da rádio CBN, exultante “pela população ter ganho a batalha contra os médicos faltosos e ausentes dos postos de saúde” ; segundo o teor da matéria, a pressão da Prefeitura de Goiânia sobre os médicos pouco compromissados, faltosos, ausentes, desmotivados, estava dando resultado. Entrevistou vários pacientes alegres porque não havia filas, alegres porque estavam sendo atendidos, tranqüilos porque não tinham esperado muito tempo, em meio a muita gente. Como eu já adiantei aqui, no meu último artigo, o de domingo, é evidente que o Governo vai ganhar a batalha de cada vez pagar menos aos médicos e cada vez exigir mais deles. Por mais que os médicos lutem contra isso, o “Deus-Mercado” irá vencer, aliás, como mostra a reportagem da CBN : já está vencendo… O Governo patrocinou a explosão do número de faculdades de medicina justamente com este intuito : baratear o médico no SUS. Mas, notemos um fato : desses pacientes bem-atendidos ouvidos na CBN, todos padeciam de problemas de baixa complexidade, uma gripe aqui, uma dor lombar acolá, uma febre mais adiante… Ou seja, o Governo vai ter, doravante, “médicos de baixa complexidade” a rodo para atenderem problemas de baixa complexidade, em serviço de baixa complexidade. Até um aluno do ensino médio conseguem dar “anti-térmico para quem está com febre”, “analgésico para quem está com dor”, “antiespasmódico para quem está com cólica”, “antidepressivo para quem está com depressão”, e por aí vai… A coisa complicará é quando haver necessidade de complexidade especializada, aí é que começará a via-crucis dos pacientes, em busca de médicos e hospitais especializados… Os Governos já acharam um remédio para isso : construírem, equiparem e darem suas estruturas hospitalares para grupos de “amigos” cuidarem, algumas Organizações Sociais. Já debati aqui várias vezes sobre os altos custos destas instituições e sua possível e provável corruptibilidade aumentada, justamente por estarem em conluios com os Governos. Os hospitais privados/filantrópicos conveniados, esses estão em vias de serem dizimados pelas políticas Governamentais, sobretudo os pequenos e médios. Dos privados, assim como na indústria e nas empresas, irão sobrar só aqueles grandões ( tipo Einstein, D´Or, Sírio, rede United, etc ), aqueles “amigos do Governo”, ou os “campeões do BNDES”, os “reis do capitalismo de compadrio Estatal”, ou “Capitalismo de Estado”. Hospitais , pelo menos os pequenos, médios, já não “dão lucro”, não satisfazem o “capitalismo”. De pequenos ou médios, só mexe com isso os “sacerdotes da Medicina” ( espírito filantrópico ) ou os “obcecados pela Medicina” ( os que colocam a prática científica, a realização profissional, a resolutividade própria , acima dos interesses pecuniários ). Esse tipo de hospital, apesar de pequeno e com menos recursos tecnológicos, pode ter resolutividade até maior do que os dos grandes grupos, pois Medicina ainda é uma atividade humana, e um médico “santo” ou “compromissadamente preocupado e científico” ainda é mais garantia de assistência hospitalar do que qualquer aparelho… Tanto esse “sacerdócio” quanto esta “excelência científica” não são passíveis de serem exercidas nem no Governo nem numa estrutura compromissada só com lucros ( de um modo geral, pois pode haver exceções para tudo isso que eu falei ).
(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra ( [email protected] ) . Escreve no Diário da Manhã ( gratuito em WWW.impresso.dm.com.br ) as terças, sextas, domingos)
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