Araguatins: encontro no presente para resgatar o passado (8)
Diário da Manhã
Publicado em 18 de janeiro de 2018 às 23:45 | Atualizado há 7 anosAraguatins é a junção de Araguaia e Tocantins. O município compõe o Bico do Papagaio no Estado do Tocantins. Conforme o Sistema de Informações Territoriais, o Bico do Papagaio é composto por 25 municípios e população de 196.389 habitantes, dos quais 66.533 vivem na área rural, o que corresponde a 33,88% do total. Possui 7.201 agricultores familiares, 5.732 famílias assentadas e duas terras indígenas.
E um fato chama a atenção. É nessa região que mulheres transformam recursos naturais em produtos artesanais e geram renda para sustentar suas famílias. Essas ações foram realizadas unindo a inclusão social e a geração de trabalho e renda à preservação ambiental. Em um primeiro momento, foram contemplados os municípios de Aguiarnópolis, Tocantinópolis, Nazaré, Luzinópolis, São Bento e Araguatins
Conforme o Sebrae Tocantins, das capacitações realizadas com designers, arquitetos e fotógrafos, a comunidade de artesãos e quebradeiras de coco transformou o babaçu e o carvão em mais de 100 produtos como toalhas de mesa, almofadas, acessórios de moda (colares, bolsas) e utensílios domésticos (luminárias, velas, arranjos florais), e lançaram a “Coleção Babaçu”, que ganhou os grandes centros e mudou a realidade de muitas famílias tocantinenses.
A diretora técnica do Sebrae Tocantins, Mila Jaber, diz que após a “Coleção Babaçu” em 2010, foi iniciado um novo ciclo de trabalhos através do projeto “Artesanato Sustentável Babaçu Brasil”, o que expandiu o atendimento para mais sete municípios, “onde foi oportunizado a inclusão de aproximadamente 60 novos artesãos da região do Bico do Papagaio”.
Hoje, cerca de 150 mulheres artesãs, empreendedoras individuais e potenciais empreendedoras ligadas à atividade artesanal estão sendo atendidas pelo Sebrae na região norte do Tocantins, como é o caso de Doemy Araújo, 49 anos, de Tocantinópolis. Há seis anos trabalhando com o babaçu e o carvão ativado do babaçu, Doemy foi uma das finalistas do prêmio Top 100. “O artesanato é a única coisa que sei fazer, quero continuar fazendo e morrer fazendo”, diz em tom alegre.
Aline Cunha, 33 anos, moradora de Araguatins também deixou o trabalho do lar para investir no artesanato. Hoje, ela é tesoureira da Associação dos Artesãos de Araguaçu – Babaçu Arte. “Até então, olhávamos para a palmeira e enxergávamos só o azeite e o carvão. Agora temos a visão do artesanato mais elaborado, com design. Esse foi o diferencial”, afirma. Aline ainda afirma que o trabalho com o babaçu transformou as mulheres envolvidas. “Não só na questão financeira, houve um desenvolvimento pessoal, as pessoas não são mais as mesmas.”
O trabalho tem dado tão certo que outros produtos devem ser lançados no segundo semestre. Está em fase de criação a coleção “Babaçu Brasil”, que visa valorizar a marca que representa o artesanato da região do Bico do Papagaio.
Embora os produtos já tenham reconhecimento e mercado, ainda falta estrutura para que os artesãos trabalhem. Doemy conta que em Tocantinópolis, não há uma sede para os artesãos trabalharem. “Ainda temos muita dificuldade, contamos apenas com o apoio do Sebrae. Não temos casa, sempre que surge um trabalho nos dividimos e cada um faz em sua própria casa.”
Em Araguatins, as mulheres expõem os trabalhos na feira e atendem encomendas. “Ainda financeiramente não estamos como queríamos. Queremos que melhore cada vez mais”, diz Aline Cunha.
Segundo Mila Jaber, a partir de 2006, foi possível abrir novas possibilidades para os artesãos inseridos na região do Bico do Papagaio e “com inovação e design o mercado conheceu as habilidades de nossa gente e a riqueza do coco babaçu”, o que vem transformando histórias de vidas.
“Durante esses anos a instituição oportunizou a participação dos artesãos da região do Bico do Papagaio em feiras nacionais e internacionais, com isso, foi possível prospectar novos negócios e parcerias efetivas tanto em âmbito nacional quanto estadual para fortalecer o artesanato em coco de babaçu”, destaca.
Nome de várias espécies da família das Palmáceas, especialmente Orbygnia artiana e Orbygnia speciosa, com longas folhas, penadas, encontradas na região amazônica, no Brasil central e no Nordeste. Seus cocos oleaginosos fornecem um óleo que se emprega como lubrificante, combustível ou alimento, em substituição à manteiga ou ao azeite, e como base para sabonetes. Suas folhas fornecem palha branca para cobrir tetos de ranchos e casas.
(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histadrut, em Tel Aviv, Israel. Autor do livro: O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)
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