Augusto Sabino
Diário da Manhã
Publicado em 29 de junho de 2017 às 03:02 | Atualizado há 8 anos![](https://v2024.dm.com.br/wp-content/uploads/2025/01/Filadelfo-Borges-de-Lima-2_noexif-1.jpg)
Havia, até há poucos meses, no centro antigo de Rio Verde, numa sala do prédio que acolhera o Cine Bagdá, a banca de revistas do José Antônio, jovem empresário oriundo de Itumbiara. Ele a vendeu e retornou ao seu berço. Hoje, o dono do negócio é Augusto Sabino, que vem de Uberaba, “Capital do Zebu, sua terra natal, cidade bonita, histórica, polo industrial, excelente qualidade de vida. Herança indígena é seu nome, que se traduz por “Água Brilhante”. Uberaba tem muita história pra contar. História de muitas famílias que se entrelaçaram nos casamentos. Rodrigues da Cunha, Borges, Prata, Sabino e muitas outras.
Ely Mesquita era tio materno de Augusto Sabino. Ely nascera em Conquista(MG) e iniciara carreira no jornalismo no Rio de Janeiro. A pedido do governador Coimbra Bueno( natural de Rio Verde, eleito pela UDN e empossado em 1947, governou até 1950), veio para Goiânia e prestou, na militância poíticaa e como profissional da imprensa, bons serviços a Goiás.
Frequentador da banca em pauta, conheci o senhor Augusto. Ele é desses homens que irradiam simpatia e carisma. Mudou a banca para um cômodo vizinho, mais espaçoso, adicionou lanchonete e reservou uma estante para autores locais. Na próxima reunião da nossa Academia de Letras falarei sobre esse gesto de apreço para conosco, modestos escritores que Goiânia ignora. E Augusto, espontaneamente, se dispôs reservar, se preciso for, outra estante para essa finalidade. Transferiu residência para cá no dia 2 de março de 2016 e mal descarrega a a mudança estende a mão amiga não só aos escritores, mas a todos os artistas e intelectuais da nossa pujante Rio Verde. Ele se dispõe abrir seu comércio para promovermos eventos no seu interior. Descobriu Augusto que este aprendiz de escritor se apraz em conversar sobre história regional e quando nos encontramos a conversa vai longe. Contei-lhe que o segundo vice-prefeito rio-verdense foi Edmundo Rodrigues da Cunha, uberabense de nascimento, tio por afinidade e adotante de outro grande homem, Dr. Maurício de Nassau Arantes Lisboa( candidato a prefeito em 1972).Lembrei-lhe que, no ano de 1922, em maio, na redação do “Lavoura e Comércio”, o então prefeito interino de Uberaba, natural do Nordeste e médico João Henrique Sampaio Vieira da Silva, assassinou o jornalista goiano Moisés Santana. Então me disse que o homicida era amigo e colega do seu pai, Dr.Alfredo Sabino de Freitas(1911-1980), um dos fundadores, em 1953, da Faculdade de Medicina de Uberaba, a primeira do Triângulo. Ele me doou cópias de documentos que tratam da gênese daquela casa de ensino superior( além do pai, consta, no rol de fundadores, o seu primo Antônio Sabino de Freitas Júnior; João Henrique, o que matara Moisés, e o famoso escritor Mário Palmério ) e de uma crônica do Monteiro Lobato alusiva à visita que fizera ao Colégio Nossa Senhora das Dores, daquela cativante cidade, em 1937, onde discursara na defesa da campanha “O Petróleo é Nosso”. Nessa crônica, Lobato registra que duas freiras o levaram para um pátio onde se postavam centenas de meninas uniformizadas. “Adiantou-se uma menina de 16 anos, Luci Mesquita, e pronunciou um discurso bastante sério”. Quando ela terminou de falar, perguntou-lhe Monteiro quem o escrevera. Resposta: “Eu mesma”. Uma freira acrescentou: “Sim, foi ela sozinha. A Luci é muito lida, e até tivemos de cortar um pedaço porque se estendeu demais sobre o petróleo”. Ela dissera que o ilustre visitante punha em risco sua carreira das Letras para se consagrar à questão petrolífera, “Eu arregalei os olhos. Só naquele momento percebi que realmente sacrificava minha carreira literária em prol do sonho do petróleo”, concluiu o grande escritor que sofrera prisão por causa dessa bandeira. Luci( 1921-2006), professora de etiqueta, boas maneiras e culinária, veio a ser a mãe do Augusto.
(Filadelfo Borges de Lima. filadelfoborgesdelima@gmail.com)