Opinião

Brasília precisa de um estadista e de um poeta

Diário da Manhã

Publicado em 25 de maio de 2017 às 01:26 | Atualizado há 8 anos

Idealizador e construtor de Brasília, Juscelino Kubitschek de Oliveira é também o poeta imortal da Capital da Esperança. Ao lançar a placa fundamental da cidade, em 1956, proclamou a sua convicção e exaltou a sua determinação para vencer um desafio que poucos acreditavam: “Deste planalto central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino”. O incrédulo marechal Henrique Teixeira Lott, então ministro da Guerra, perguntou ao presidente se ele iria mesmo construir Brasília naquele lugar. Na inauguração da nova capital, quatro anos depois, veio a resposta: “É inútil fechar os olhos à realidade. Se o fizermos, ela abrirá nossas pálpebras e nos imporá a sua presença”.

Hoje, a placa de entrada do Memorial JK traduz a mente visionária e a capacidade realizadora de Juscelino: “Nas tardes do planalto, os corpúsculos de fogo se confundem com as tintas da aurora. Tudo se transforma em alvorada nesta cidade que se abre para o amanhã”. Para ele, a construção de Brasília foi a manifestação inequívoca da fé e da capacidade realizadora dos brasileiros.

Ao construir Brasília, JK ergueu a bandeira do Brasil sobre o Planalto Central que viveria 50 anos em 5. Ele nunca escondeu o sonho de viver até o seu derradeiro dia em Brasília, mas depois do exílio não pode mais sequer visitar a cidade que idealizou e realizou. Na solidão de seu sítio perto de Luziânia, sem energia elétrica nem telefone, foi condenado a contemplar de longe o clarão das luzes que anunciavam a aurora que ele próprio fez brilhar no coração do Brasil.

JK sonhou Brasília como centro das decisões do país, mas não imaginava que ela viria a ser palco de suborno com o dinheiro do próprio povo, através de negociatas vergonhosas que provocam protestos e revolta da população. Se ele ainda estivesse vivo, certamente continuaria orgulhoso da capital que construiu, apesar dela estar no centro de um escândalo que abala o Brasil, mas que não pode quebrantar a esperança dos brasileiros. Neste momento agudo de sua história, Brasília precisa de um estadista e ao mesmo tempo de um poeta. Estadista para colocar o governo no rumo certo e poeta para transformar manhãs cinzentas e tenebrosas em alvoradas que se abrem para o amanhã.

 

(Manoel Vanderic, jornalista)

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