Breve história do livro – mercadoria de elite
Diário da Manhã
Publicado em 28 de agosto de 2018 às 22:52 | Atualizado há 6 anosOs historiadores são unânimes em afirmar ter sido Johann Gutenberg o primeiro homem a inventar a arte da impressão no mundo. São seus primeiros trabalhos, Weltgericht, de 1444, e o Calendário Astronômico impresso em 1477, mas conhecido só no ano seguinte. Famosa, porém, é a monumental Bíblia de 42 linhas, concluída em 1455 ou 1456, pelos auxiliadores de Gutenberg, chamados Fust e Schoeffer. E da Alemanha, com certo desenvolvimento, a arte da impressão espalhou-se pelo mundo, inicialmente pela Europa, alcançando a Itália, a França, a Espanha, a Inglaterra, Portugal e outros países.
Do que se sabe, nas Américas a primeira imprensa foi instalada na cidade do México, em 1539 (?), através de Giovanni Paoli que, segundo informações que tenho, obedecia a ordens de um livreiro sevilhano, de origem alemã, de nome Juan Groomberger, seguindo-se depois o Peru, a Bolívia, a América do Norte, a Guatemala, sabendo-se que o primeiro livro impresso em terras do Ocidente foi na cidade do México. Porém, existe a tese segundo a qual, desde o ano 400 da nossa era, os livros já apresentavam a forma atual. Isto porque desde esse tempo os livros tinham a forma de manuscritos, enrolados, ou até enfolhados. O curiosos é que, já naqueles tempos existiam e predominavam privilégios dos afortunados. Só os ricos podiam adquirir os livros. Sabe-se que Platão, o filósofo, comprou três livros pelo preço de dez denários (nem sei por quanto isso ficaria em cruzados ou real). São Jerônimo quase foi à ruína, a fim de comprar os trabalhos então chamados de “Origens”.
Na Idade Média, o livro virou objeto de luxo, ‘escritinho’ hoje. Só o adquiria os reis, os abades. Os bispos e outros graúdos e nababos da época. Eis a razão pela qual só havia escolas nos palácios reais, nos bispados e nos mosteiros. Foi com a invenção do papel, pelos chineses, que ocorreu certo barateamento na produção do livro. Quer dizer: só houve retardamento no desenvolvimento da impressão na Europa porque lá não havia o papel, descoberto pelos chineses e que faltou na Europa até depois do século XII, época em que a encadernação já era uma arte bem adiantada, mesmo ao tempo de Gutenberg.
O primeiro livro impresso na língua inglesa data de 1639 ou 1640, no Colégio Harvard, na América do Norte. Dizem que o mais antigo livro do mundo é chinês e chamava-se Y-King, que quer dizer: livro dos números. Na Grécia, informam que foi Philatius o primeiro homem a fazer um livro. O menor livro do mundo mede apenas um centímetro, encerrando uma coleção de cânticos sagrados sob o nome de “Maharatas”, impresso em finíssimo papel de arroz. Seu proprietário é um riquíssimo colecionador de Bombaim, que já recusou fabulosas fortunas por ele. Em âmbito comercial, conforme pesquisa recente, a Bíblia continua a ser o livro que mais se vende no mundo. Quanto ao maior livro do mundo, é o que mede 1,77 de altura por 1,15 cm de largura, e é um Atlas Universal que se acha no Museu Britânico, em Londres. Foi oferecido por um mercador de Amsterdam a Carlos II, da Inglaterra, ao refugiar-se na Holanda.
No Brasil, a existência dos primeiros prelos só ocorre com a chegada da imprensa, através de Dom João VI, em 1808, a então Imprensa Régia, hoje Imprensa Nacional. Mas a Metrópole, já em 1747, havia mandado fechar a oficina que o cidadão Antônio Isidoro da Fonseca havia aberto no Rio de Janeiro, dois anos antes. E foi exatamente esses Antônio Isidoro que imprimiu e publicou, em 1747, o mais antigo impresso no Brasil, denominado “Relação da Entrada do Bispo Frei Antônio do Desaterro”, com 17 páginas de texto. Segundo estamos informados, a impressão do primeiro jornal, feito no Rio de Janeiro, chamado “Gazeta do Rio de Janeiro”, cujo primeiro número circulou a 10 de setembro de 1808, ocorreu nas oficinas recém-instaladas na Imprensa Régia.
Por absoluta falta de espaço. Termino registrando algumas espécies de livros: o de brochura, cozido a fio têxtil; o livro colado, com fotos; o cartonado, com capa e cartão revestido; o comercial; livro de história de sabedoria; o de cabeceira, que deve ser predileto; o espiral; o de horas; o de minutos; o de preces, ou que contém as preces de horas canônicas; o de bolso, que é uma invenção legítima do capitalismo; o de tombo; o de ponto, que é para o empregado de não furtar nenhuma hora do patrão; o fiscal, para que ninguém lese o estado; o didático, que haveria de ser mais barato, além do de outro, medonho de explorar. E o atualíssimo, já com certa idade, ebook.
(Martiniano J. Silva, advogado, escritor, membro do Movimento Negro Unificado – MNU), da Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHGG, Ubego, mestre em História Social pela UFG – martinianojsilva@yahoo.com.br)
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