Opinião

Caminhos no combate à intolerância nas religiões e no esporte

Diário da Manhã

Publicado em 13 de novembro de 2016 às 01:09 | Atualizado há 8 anos

“Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”. Este foi o tema da redação do Enem 2016. Explicando para a posteridade, Enem é o exame nacional do ensino médio. Através da nota do Enem é que se classifica para o ingresso nos cursos universitários. Trata-se de um avanço do Brasil. Nada mais que um teste de suficiência  como meio de o jovem ter acesso ao ensino superior, tanto nas universidades públicas como nas privadas, nestas que tem convênio com o fundo de financiamento para o ensino superior-  Fies.

Caminhos contra a intolerância religiosa. Os caminhos e formas de discriminar, criminalizar e rejeitar outras religiões fazem parte da história do próprio homem. Sempre se tratou de uma autêntica piração (ops, perdoe-me a gíria). Eu como pessoa e indivíduo, ou  um grupo, uma comunidade, uma  organização, até mesmo um Estado achar que a religião certa e  única é a minha parece uma concepção esquizofrênica. Bem assim esse grupo, organização ou Estado encampar e admitir tal expediente.

E tomando o estado oficial como exemplo temos os Estados teocráticos. A república democrática (leia-se teocrática) do Irã dos Aiatolás faz parte dessa classe de governos que impõem uma religião ao cidadão. Um exemplo de um estado bandido, o islâmico, instalado no Iraque e Síria, cujos membros e terroristas sequestram, torturam, matam e morrem em nome de uma deturpação do Islamismo. Que fique bem claro, trata-se esse grupo de terroristas, numa degeneração do que prega o alcorão. Todas essas torpezas e atrocidades são perpetradas e motivadas por um fundamentalismo religioso.

O primeiro bom caminho no combate a intolerância religiosa no Brasil vem do nosso estado democrático de direito. De nossa constituição cidadã temos a premissa da laicidade do Estado brasileiro. Isto se traduz em que além de liberdade de imprensa, expressão e opinião temos a de religião. Ninguém poderá ser criticado, vexado, diminuído ou desdenhado por celebrar, professar e praticar qualquer que seja essa ou aquela religião. Inclusive não ter nenhuma religião.

Ora, esse caminho da livre crença, da fé, de  se tornar sectário, adepto e membro de um ritual religioso se dá pelo exemplo e norma constitucional do Estado (Brasil). E assim é dever legal, ético, moral e de consciência de cada brasileiro. A nação se compõe de seus filhos e cidadãos, e o melhor exemplo começa de cada um de nós, das famílias e sociedade como um todo.

Temos que ter cada vez mais a clara noção e ciência de que não estamos mais nos tempos das cruzadas, quando cristãos e muçulmanos  foram torturados e mortos em nome de uma crença, uma religião. Não estamos mais nos tempos medievais da “santa” inquisição, da época do inquisidor mais sanguinário, Tomás Torquemada,  quando toda verdade e fé eram impostas pela igreja católica. Vale lembrar que nos tempos da inquisição havia inclusive um intolerância científica. Que o diga o físico Galileu Galilei (1564-1642) com sua reafirmação  e comprovação do sol como o centro do universo (heliocentrismo). Se ele não se retratasse em público teria sido cremado vivo, como o foram muitos outros naqueles tenebrosos tempos de absoluta censura ao livre pensamento e à religião.

Os caminhos para abrandar a intolerância religiosa no Brasil seria criminalizá-la como outro preconceito, o racial ou de gênero por exemplo. Eliminar de todo essa forma de intolerância, a exemplo do preconceito étnico ou de orientação sexual, é quase impossível porque ao que parece trata-se de um sentimento, ou “falso orgulho” do senso coletivo, sentimento nocivo este que se acha  entranhado na memória e DNA de muitas pessoas.

Outras formas de abrandar tão graves reações e menosprezo de parte da sociedade seria no incremento de campanhas de boa convivência, respeito à livre manifestação do outro, inclusive na sua fé e rito religioso. As iniciativas nesse sentido de um convívio fraterno e generoso poderiam se dar pelo próprio Estado e divulgadas pelas redes de jornais e televisão, que são as grandes formadoras de opinião.

Enfim, são  muitas as religiões consideradas monoteístas. O que importa se os muçulmanos têm Deus como Alá e Maomé o seu profeta?  O que importa se os cristãos também acreditam num mesmo Deus e Jesus Cristo como enviado a essa terra a  se sacrificar na cruz para nos salvar? Afinal, todos não queremos e buscamos o mesmo paraíso (céu)!

Se o alvo final é a suprema felicidade e bem-aventurança que diferença faz ir de avião, de ônibus, de moto ou bicicleta. Assim são as religiões. São veículos que fazem nossa conexão com Deus e o paraíso. Então, mais parece uma alienação mental daqueles que acham que a única religião certa e verdadeira é a deles e não a minha.

Assim ocorre com a intolerância para com  outras opções e tendências. Vejam o exemplo do futebol, da intolerância das torcidas porque outros optam por times diferentes. E não se trata dessa ou aquela classe menos escolada, de menor poder aquisitivo. Um modelo repetitivo se dá com a equipe de jornalistas e locutores da Rede Globo quando jogam Brasil e Argentina. Há sempre um vilipêndio, um menosprezo, um incentivo e acirramento à violência nas transmissões desses jogos. Como se em cada um desses jogos e encontros, houvesse uma guerra fratricida, do vale-tudo, desde a humilhação, o achincalhe, até  às palavras e urros de vingança, de agressão física entre outras ofensas. Enfim, são mostras da consideração obtusa, oblíqua e enviesada dessa classe de gente (jornalistas e âncoras do esporte) de supor que o melhor time  ou melhor religião é a professada por esses profissionais que deveriam dar o melhor exemplo e não fazem nada de melhor, porque atuam num poderoso veículo formador de opinião e normas de contudo. Quão triste.

 

(João Joaquim, médico, articulista DM. facebook/ joão joaquim de oliveira  www.drjoaojoaquim.blogspot.com)

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